Capítulo 5 – Primeiros Sentimentos

Aiko caminhava de volta para casa com o sol da tarde dourando suas longas madeixas negras. O uniforme da escola balançava levemente com o vento, e sua mochila, decorada com chaveiros de pelúcia cor-de-rosa, fazia barulhinhos suaves a cada passo. Seu coração, no entanto, parecia bater mais alto que qualquer som ao redor.

Nos últimos dias, a imagem de Haruchiyo Sanzu não saía de sua mente. Não apenas a versão dele que todos temiam — fria, instável, imprevisível — mas o menino doce que ela conheceu quando ainda dividiam pirulitos no parquinho da creche, que chorava escondido atrás da árvore quando apanhava do pai.

Aquele menino ainda estava ali. E ela o via.

“Estou ficando louca…”, murmurou Aiko, apertando o passo. “Não posso sentir isso por ele… posso?”

Ela chegou em casa e encontrou Emma sentada no sofá com Mikey deitado de cabeça no colo dela, comendo um saquinho de batatinhas.

— Oi, Aiko! — Emma sorriu, jogando o cabelo loiro para o lado. — Como foi a escola?

— Normal… — respondeu Aiko, tirando os sapatos e indo até a cozinha.

— Aiko? — Mikey levantou os olhos, notando algo diferente. — Tá tudo bem?

— Claro! — disse rápido demais.

Emma olhou para Mikey, e ele ergueu uma sobrancelha. Quando Aiko reapareceu da cozinha com um copo de suco, Emma não resistiu:

— É sobre o Sanzu, não é?

Aiko quase derrubou o copo.

— O q-quê?!

— Você fala o nome dele dormindo — disse Mikey com um olhar entediado, mas atento. — A gente ouve do outro lado do corredor. Você sonha com ele?

Aiko ficou completamente vermelha. Seus olhos se arregalaram, e a voz saiu em um sussurro constrangido:

— Eu não falo! Vocês tão inventando!

Emma riu.

— Eu acho fofo. Você sempre gostou dele, Aiko. Quando era pequena, você fazia florzinhas de papel e dizia que eram “para o Haru que tá sempre triste”.

Mikey revirou os olhos.

— Mas ele não é mais aquele menininho. Ele é instável. Louco. Vive com o Rindou e o Ran. Você acha que vai poder consertar isso com tinta?

Aiko sentiu o coração apertar.

— Eu não quero consertar ele. Eu só quero… quero que ele saiba que é amado.

Emma a observou em silêncio por alguns segundos, e então deu um sorriso pequeno.

— Isso é muito bonito, Aiko.

Mikey se levantou do sofá, sério.

— Mas perigoso.

Ele saiu, provavelmente para o telhado, como fazia quando precisava pensar. Aiko sabia que ele só queria protegê-la, mas… ele não entendia. Ninguém entendia o que ela via nos olhos de Haruchiyo.

Ele só precisa de alguém que fique. Mesmo quando ele empurra todo mundo.

Na tarde seguinte, Aiko decidiu fazer algo que nunca teve coragem de fazer antes: visitar Sanzu por vontade própria.

Ela sabia onde ele costumava ficar — um armazém abandonado que os meninos da Tenjiku e Kantou usavam como ponto de encontro. Estava nervosa, com o coração pulando no peito, mas tinha um quadro com ela. Um pequeno presente. Algo que ela pintou depois de sonhar com ele: uma flor nascendo em um campo queimado.

Ao se aproximar do galpão, ouviu vozes. Uma risada alta — Ran Haitani, com certeza. Em seguida, Rindou resmungando alguma coisa sobre cigarro.

Ela respirou fundo, ajeitou a fita rosa no cabelo e entrou.

Os olhos de todos se voltaram para ela ao mesmo tempo.

— O que uma bonequinha como você tá fazendo aqui? — Ran se encostou na parede, sorrindo com aquele ar debochado.

— Eu vim ver o Sanzu — respondeu, firme.

Rindou arqueou a sobrancelha. — Ele tá ali atrás… mas tá de mau humor. Avisada, hein.

Aiko andou até o fundo do galpão, ignorando os olhares. Encontrou Haruchiyo sentado em um sofá rasgado, cigarro aceso entre os dedos e olhos fixos no teto. Ele vestia uma camisa escura, com os cabelos rosados caindo nos olhos. E a máscara… sempre a máscara.

— Haru — chamou, suave.

Ele virou o rosto para ela devagar.

— O que você tá fazendo aqui?

— Eu queria te ver — disse, sorrindo de leve. — Eu trouxe uma coisa.

Ele olhou para a moldura que ela segurava.

— Outro quadro? Você realmente gosta de pintar merda, né?

Ela se aproximou sem medo, sentou-se no sofá ao lado dele e colocou o quadro no colo dele.

— É sobre você — disse com ternura.

Ele encarou a pintura por longos segundos. Havia algo de delicado ali. Uma flor rosa crescendo entre cinzas e pedaços de terra queimada. As pétalas pareciam feitas com tanto carinho que ele quase pôde sentir o cheiro da tinta fresca.

— Por quê?

— Porque mesmo em meio à dor… ainda existe beleza. E você, Haru, é essa beleza que sobreviveu.

Ele ficou em silêncio, a mão segurando o quadro tremendo levemente.

— Você não sabe o que eu fiz. Você não me conhece de verdade.

Ela olhou para ele com doçura.

— Eu conheço. Eu lembro de você me defendendo na escola. Lembro de você chorando quando perdeu sua gatinha. Lembro do sorriso de verdade… antes de tudo acontecer. Ainda existe aquele garoto aí dentro.

Ele abaixou os olhos.

— Aiko… eu não posso amar ninguém.

— Então eu amo por nós dois — sussurrou.

Ele a olhou pela primeira vez nos olhos, com intensidade. Aiko não desviou.

O silêncio entre eles foi quebrado pela risada alta de Ran mais uma vez, do outro lado do galpão.

— Parece que nosso Haru vai casar com a princesinha Sano, hein!

Sanzu se levantou, irritado.

— Cala a boca, Ran!

Aiko segurou a mão dele. Pela primeira vez, sentiu o calor real de seus dedos, ainda que trêmulos.

— Eu não me importo com o que dizem. Você não é o que o mundo pensa. Você é o que eu vejo.

Ele a encarou, confuso, com o coração acelerado. Nunca ninguém o olhou daquele jeito. Como se ele fosse digno.

— Vai embora, Aiko.

Ela se levantou também, ficando de frente para ele.

— Você vai continuar fugindo? — sussurrou. — Vai continuar se escondendo atrás dessa máscara?

— É mais fácil — murmurou.

Ela esticou a mão, com carinho, e tocou o lado da máscara, sem tirá-la, apenas sentindo a superfície fria.

— Amar também é fácil, quando você permite. E você não precisa fazer isso sozinho.

Ele recuou um passo.

— Eu não quero te machucar.

Ela sorriu triste.

— Então me ame do seu jeito, Haru. Mesmo que seja confuso. Mesmo que doa.

E com isso, ela saiu, deixando o quadro nas mãos dele. Haruchiyo ficou parado, com o coração batendo mais forte do que jamais sentira desde os dias de infância.

Mais tarde naquela noite, Aiko estava no quarto, olhando para uma tela em branco.

Emma entrou sem bater, como sempre.

— E aí, artista. Como foi sua visita?

Aiko corou.

— Você já sabia?

— A cidade inteira vai saber até amanhã — Emma sorriu, sentando-se na cama. — E aí?

— Eu acho… que tô me apaixonando por ele de verdade.

— Não acha que é cedo?

Aiko olhou para a tela vazia.

— Talvez. Mas o coração não espera.

Emma sorriu de novo e se deitou no colo da irmã.

— Então pinta. Pinta esse sentimento. Quero ver como o amor da Aiko Sano fica na tela.

E naquela madrugada, com as estrelas brilhando do lado de fora, Aiko começou um novo quadro. Um coração ferido, mas batendo. E dentro dele, uma flor rosa. Sempre rosa.

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