Capítulo 3 – As Cicatrizes que Ele Carrega

Aiko caminhava pelas ruas silenciosas de Tóquio ao entardecer, com a mochila pendurada em um ombro e uma pequena tela em branco debaixo do braço. O céu alaranjado refletia nos prédios, e ela sentia o coração inquieto – como se algo estivesse prestes a mudar.

Chegando ao antigo galpão onde Sanzu costumava se isolar, Aiko respirou fundo antes de empurrar a porta. O rangido ecoou pelo espaço vazio.

— Haru? — ela chamou, a voz suave como sempre.

Silêncio.

Ela avançou, os passos ecoando no chão de cimento. Encontrou Sanzu sentado no canto, de costas, olhando para uma parede descascada. Ele ainda usava aquela máscara, como sempre. Mas havia algo estranho em sua postura: ombros caídos, mãos apertadas sobre os joelhos, como se estivesse encolhido no próprio mundo.

— Haru, está tudo bem?

Ele não respondeu. Ela se aproximou devagar e sentou ao lado dele, em silêncio por alguns minutos. O ar estava carregado.

— Você se lembra do avião de brinquedo do Mikey? — Aiko perguntou de repente, com um leve sorriso nostálgico.

Sanzu virou o rosto lentamente, surpreso.

— Lembro. Aquele avião azul com listras vermelhas… Ele não deixava ninguém tocar.

Aiko assentiu, o sorriso se desfazendo.

— Eu era pequena, mas lembro da Senju chorando... e depois, você... — A voz dela tremulou.

Ele ficou tenso.

— Foi ela quem quebrou o avião, não foi?

Sanzu apertou os olhos, a respiração ficando irregular.

— Você... sabia?

— Eu vi. Eu estava atrás da porta quando tudo aconteceu.

Silêncio.

— Por que não falou nada? — ele perguntou, a voz baixa e contida.

— Eu era uma criança, Haru. Fiquei com medo do que Mikey faria se soubesse... — Ela desviou o olhar. — E você... você nunca se defendeu.

Sanzu tirou a máscara devagar, revelando as cicatrizes profundas em seu rosto. Aiko sentiu um aperto no peito, mas não recuou. Pelo contrário, se aproximou mais.

— Mikey... me bateu até eu não conseguir levantar. — Sanzu disse em um fio de voz. — Tudo por um brinquedo. Mas eu aguentei. Porque... porque eu amava ele como um irmão. Eu achava que merecia.

— Você nunca mereceu isso — Aiko murmurou com firmeza, os olhos cheios de lágrimas. — Nunca.

Ele olhou para ela, surpreso.

— Essas marcas... — ela tocou suavemente a bochecha dele, sem medo, sem hesitar — ...não te definem. Elas são a dor que você guardou sozinho por anos. Mas você não está mais sozinho, Haru.

Ele se afastou, angustiado.

— Você não entende... Eu sou quebrado, Aiko. Você é luz demais. Você não deveria estar perto de mim.

— E quem disse que a luz não pode entrar nas rachaduras?

Houve um silêncio tenso. Aiko estendeu a tela em branco que trouxera.

— Esse quadro é pra você. Está em branco, porque quero pintar sua história com você. Do jeito certo. Com verdade, com amor, com tudo o que te negaram.

Sanzu olhou para ela, como se estivesse vendo aquela menina da infância outra vez. A mesma que ria com ele no parque. A mesma que o fazia esquecer por um instante a dor.

— Você é louca.

— Um pouquinho — ela sorriu. — Mas só o bastante pra insistir em você, mesmo quando você tenta fugir.

Sanzu abaixou a cabeça, os ombros tremendo discretamente.

— Obrigado... por não ter desistido.

Ela se aproximou e encostou sua testa na dele.

— Sempre estarei aqui, Haru. Com ou sem máscara.

Cena final:

Aiko sai do galpão, e a última imagem que vê é Sanzu encarando a tela em branco em silêncio. Pela primeira vez, ele não a empurrou.

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