Capítulo 2 – Memórias com Haruchiyo

A luz suave do fim da tarde entrava pela janela do estúdio de Aiko, tingindo as paredes de rosa-alaranjado. O aroma de tinta fresca pairava no ar, misturado ao som leve de uma música instrumental tocando no fundo. Ela passava o pincel com delicadeza sobre a tela, os olhos concentrados, mas a mente longe… perdida em lembranças.

— "Haruchiyo..." — sussurrou baixinho, como se aquele nome ainda tivesse o poder de fazer seu coração disparar.

10 anos atrás...

O sol brilhava forte sobre o parque. Aiko, com seus longos cabelos pretos presos em duas maria-chiquinhas, segurava um balde de tinta colorida com uma mão, enquanto com a outra arrastava um garotinho de cabelos cor-de-rosa.

— “Anda, Haru! Você prometeu que ia pintar comigo hoje!”

— “Mas isso é coisa de menina...”, murmurou ele, emburrado, enquanto olhava para os potes de tinta espalhados no chão.

Aiko bufou, cruzando os braços.

— “Não é, não! Pintar é uma forma de mostrar o que a gente sente! Além disso, você disse que gostava dos meus desenhos... lembra?”

Haruchiyo hesitou. Olhou para o rostinho bravo dela, os olhos castanhos faiscando. Depois suspirou e se sentou ao lado dela no gramado.

— “Tá bom... mas só porque você é chata.”

Ela sorriu largo, feliz.

— “Eu também gosto de você, seu bobo.”

Ele ficou vermelho na hora, tentando esconder o rosto.

— “Tsc... idiota.”

De volta ao presente, Aiko sorriu sozinha. Aquela lembrança era uma das mais preciosas que tinha.

Ela caminhou até uma pequena caixa de madeira e a abriu com cuidado. Dentro, dezenas de desenhos antigos que ela e Haruchiyo haviam feito juntos na infância.

Um deles chamou sua atenção.

Um rabisco simples: um menino e uma menina, de mãos dadas, com um coração gigante entre eles. Embaixo, com letra infantil, estava escrito: “Melhores amigos para sempre – Aiko e Haru.”

Ela acariciou o papel com os dedos.

— “Você ainda se lembra disso, Haru?” — murmurou. — “Porque eu nunca esqueci.”

Mais tarde, na casa dos Sano

— “Aiko! O jantar tá pronto!” — Emma chamou da cozinha.

Aiko desceu as escadas devagar, ainda segurando o desenho antigo.

— “Você tava pintando de novo?” — Emma perguntou, sorrindo, enquanto preparava a mesa.

— “Não... só lembrando algumas coisas.”

Shinichiro entrou logo depois, com Izana. O clima parecia tranquilo, até que Manjiro surgiu, sentando-se à mesa com o olhar desconfiado.

— “Você tá diferente, Aiko.” — comentou ele. — “Tem saído mais... ficado sozinha demais.”

— “Tô bem, Mikey.” — respondeu ela, tentando soar convincente.

— “Você andou vendo o Haruchiyo?” — perguntou de repente, firme.

Ela congelou por um segundo. Emma e Izana trocaram olhares. Shinichiro encarou o irmão mais novo com um suspiro.

— “Mikey...”

— “Não tô brigando, só quero saber.” — ele rebateu. — “Eu conheço o Sanzu. Ele não é mais aquele garotinho de antes.”

Aiko apertou o papel em suas mãos.

— “Ele ainda é.” — disse suavemente. — “Só... se perdeu um pouco.”

Manjiro bufou.

— “Ele se perdeu completamente. E você devia manter distância, Aiko.”

Ela ergueu os olhos, firmes e determinados.

— “Se fosse você no lugar dele, eu não teria desistido. Então não me peça pra desistir dele também.”

O silêncio caiu como um peso sobre a mesa.

Emma foi a primeira a quebrá-lo.

— “Ela só quer ajudar, Mikey.”

— “Não se trata de querer, Emma.” — ele retrucou. — “Se trata de segurança. E o Haruchiyo é instável.”

Izana, que estava quieto até então, falou:

— “Instável ou não... ele ainda se importa com ela. Eu vi. Ele não deixaria nada acontecer com Aiko.”

Manjiro levantou da mesa, frustrado.

— “Isso é perigoso. E vocês sabem disso.”

Antes que ele saísse da sala, Aiko falou:

— “Ele era só um menino quando tudo aconteceu, nii-san. Ninguém merece ser abandonado por isso.”

Mikey parou por um instante… mas saiu em silêncio.

Mais tarde, sozinha no estúdio

Aiko estava sentada no chão, desenhando no seu caderno de esboços. Desenhava Haruchiyo. Ou melhor... o menino que ele tinha sido.

O cabelo rosa bagunçado, os olhos tímidos, e o sorriso torto. Ela tentava se lembrar exatamente do jeito como ele sorria para ela.

— “Você desenha igual antes.” — uma voz familiar disse.

Aiko se virou, assustada.

Haruchiyo estava parado na porta, a máscara pendurada no bolso, os olhos meio baixos.

— “Haru?! Como você entrou aqui?”

— “Izana me deixou entrar.”

Ela levantou rápido, mas não sabia se corria para abraçá-lo ou se dizia algo primeiro.

— “Você ouviu a conversa no jantar?”

Ele deu de ombros, entrando devagar.

— “Não vim por causa disso. Só... queria ver se você ainda desenhava como antes.”

Ela sorriu, mas havia tristeza em seus olhos.

— “Eu nunca parei.”

Ele se aproximou e viu o desenho dele mesmo.

— “Você ainda me vê assim?”

— “Porque é assim que eu vejo você. Não importa o que digam.”

Sanzu olhou para ela longamente. O silêncio entre eles dizia mais do que mil palavras. Ele parecia cansado. Machucado. Perdido.

— “Você não devia se apegar a alguém como eu, Aiko.”

— “Por quê?” — ela perguntou, baixinho.

— “Porque eu não tenho conserto.”

Ela se aproximou, tocando levemente a mão dele.

— “Você não precisa ser consertado. Só precisa ser lembrado de quem você era... de quem você ainda pode ser.”

Ele hesitou. Seus olhos estavam marejados, mas ele não deixava cair nenhuma lágrima.

— “Você é muito boa pra mim.”

— “E você é melhor do que pensa, Haruchiyo.”

Ele sorriu, com tristeza.

— “Você me dá medo, Aiko.”

— “Por quê?”

— “Porque eu tenho medo de acreditar no que você diz... e me machucar depois.”

Ela segurou o rosto dele com ambas as mãos, com delicadeza.

— “Então deixa eu ser seu lugar seguro.”

Foi a primeira vez que ele não recuou ao toque dela.

E por um segundo... ele parecia só um garoto de novo.

Do lado de fora do estúdio, Izana observava pela janela, calado. E ao seu lado, Emma.

— “Eles se entendem de um jeito que a gente nunca vai entender, né?”

Izana assentiu.

— “Aiko é a única pessoa que enxerga o Haruchiyo com amor. Isso pode salvar os dois... ou destruí-los.”

Emma cruzou os braços, preocupada.

— “Acho que ela já fez a escolha."

Izana a olhou.

— “E a gente vai estar aqui, do lado dela. Pro que der e vier.”

Emma sorriu levemente.

— “Sempre.”

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