Acordar sem correntes. Sem gritos. Sem medo.
Era um luxo que Nayara Fernandes ainda estava aprendendo a aceitar. Os dias pareciam mais leves, mas as noites… ainda eram longas demais. Ela acordava suada, o coração acelerado, com o nome de Adolf queimando em sua garganta. E às vezes, o pesadelo trazia também a figura de Caveira, a ameaça silenciosa que ainda rondava seus passos mesmo a quilômetros de distância.
Desde que voltou ao Brasil, Nayara se instalou na zona rural de Nova Iguaçu, num canto isolado e quase esquecido, onde a vegetação alta e as ruas de terra escondiam sua presença do mundo. Era o local mais afastado que conseguiu encontrar, longe do Morro do Alemão, longe da ONG, longe de tudo… mas ainda dentro do estado do Rio, pois não queria romper de vez com a única família que restava: suas amigas, e a esperança representada pela ONG Ana Clara Castellazzo.
Ela se lembrava vividamente do dia em que reencontrou Isadora, Daiana e Sofia. Três rostos que julgava perdidos para sempre, apagados pelas mãos cruéis da quadrilha de Adolf. Mas ali estavam elas, vivas, fortes, com marcas na alma, mas sorrisos no rosto. A ONG promovia um evento de acolhimento quando se viram pela primeira vez. E antes que qualquer palavra fosse dita, os corpos se chocaram em um abraço desesperado, seguido por lágrimas e o grito que rasgou o céu:
— Liberdade!
O grito saiu de todas ao mesmo tempo, como um eco de tudo que haviam suportado. Naquele instante, pétalas de rosas brancas começaram a cair sobre elas como uma benção do céu. Balões brancos subiam aos céus, carregando os nomes das meninas que não conseguiram escapar. Era luto e renascimento. Era perdão e resistência. Era vida.
E foi no meio daquela chuva de pétalas e céu coberto de balões brancos que Nayara o viu.
Felipe.
O homem que a tirara das garras de Adolf. O herói que apareceu quando ela já não acreditava em salvação. Ele estava ali, parado ao longe, observando. E por um instante que pareceu eterno, os olhos dele encontraram os dela.
Olhos que não traziam piedade, mas ternura. Não havia cobrança, nem expectativa. Apenas o olhar calmo de alguém que dizia, em silêncio: “você está segura agora.”
Ela jamais esqueceria aquele momento.
Aquela troca muda, emoldurada por flores brancas caindo do céu e balões como pequenos sinais de libertação. Foi a última vez que o viu. E, mesmo que não tenha tido coragem de se aproximar, aquele olhar ficaria gravado em sua memória para sempre — como um selo de vida nova, um sussurro silencioso de esperança.
Adolf não era apenas um monstro. Ele era um obcecado. Tinha uma fascinação doentia por Nayara e Sofia. Às vezes os abusos vinham juntos, como um teatro de horrores onde elas eram as vítimas principais. Essa dor ainda sangrava, mesmo com as cicatrizes fechadas.
E ainda havia Caveira.
Ela não sabia onde ele estava, mas sabia que, se descobrisse seu paradeiro, viria atrás dela. Foi por isso que, logo após a ONG garantir seus documentos e um pequeno auxílio financeiro, Nayara desapareceu da vista deles. Mudou-se sem deixar rastros. Evitava redes sociais, evitava contato direto, só mantinha um celular simples para emergências. Em sua nova rotina, era quase uma sombra. Uma mulher que existia sem ser vista.
Ela morava em uma pequena casa alugada, escondida entre a mata e as estradas de barro de Nova Iguaçu. Costurava roupas para uma loja de roupas modestas da região, e isso bastava para pagar o aluguel e os mantimentos. Os dias eram silenciosos. As noites, frias. Mas o medo era o mesmo.
E, às vezes, quando o vento batia mais forte, ela fechava os olhos e via os dele.
Felipe.
Ela não sabia seu sobrenome, nem de onde vinha. Apenas que usava o uniforme da LME, que sua voz era firme e suave ao mesmo tempo, e que ele a chamou de "anjo" enquanto a tirava do inferno. Seu rosto era como um reflexo de esperança inalcançável. Como se fosse alto demais para tocar.
“Ele nunca vai saber”, pensava ela. “Nunca vou ter coragem de dizer obrigada.”
Mas por dentro… por dentro, algo ainda queimava.
E era isso que a fazia continuar.
Porque se aquele homem existia… então talvez houvesse um lugar para ela no mundo. Um lugar onde pudesse viver sem fugir. Sem sombras. Sem medo. Um lugar onde, finalmente, pudesse deixar de ser apenas sobrevivente… e começar a ser feliz.
Nayara
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 49
Comments
Dulce Gama
parabéns autora a Nayara é muito linda essas fotos que vc posta realmente são muito lindas por isso que suas histórias são lindas vc só coloca fotos lindas obrigada /Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Good//Good//Good//Good//Good//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift/
2025-05-10
1
Márcia França
Ela é linda , parabéns pelas suas histórias
2025-05-08
1
Helena Barbosa
Simplesmente lindos 😍
Tomara que Felipe a encontre logo!
2025-05-09
0