O jardim da Villa Bellucci era um respiro de tranquilidade no meio do caos. Lavandas, jasmins e magnólias dividiam espaço com um pequeno caramanchão de ferro forjado, onde Isabella gostava de se sentar nas manhãs mais frescas. Giulia corria pelo gramado, mais solta do que nunca. Sua risada, embora tímida, começava a se tornar frequente.
Isabella observava com um leve sorriso, segurando uma xícara de chá. Teresa se aproximou com uma bandeja de biscoitos caseiros.
— Ela está mudando — comentou a governanta. — Nunca a vi correr tanto. Antes ela ficava no balanço, olhando para o nada.
— Ela só precisava de um pouco de calor — respondeu Isabella. — Crianças florescem quando se sentem seguras.
— E adultos?
Isabella levantou os olhos para Teresa, que agora a encarava com uma expressão estranha, quase pesarosa.
— Os adultos demoram mais — respondeu Isabella, tentando não pensar em Enzo.
Como se invocado pelo pensamento, Enzo surgiu na trilha de pedras, vindo da garagem. Estava de terno, gravata solta no pescoço, a expressão séria como sempre. Mas havia algo diferente: ele a observava. Não só como se a enxergasse, mas como se tentasse decifrá-la.
— Isabella — disse ele, ao se aproximar — preciso conversar com você. Em particular.
Ela assentiu, pedindo que Teresa vigiasse Giulia. Enzo conduziu Isabella até o escritório, uma sala ampla de paredes escuras, com estantes repletas de livros antigos e uma lareira apagada.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ela, preocupada.
— Recebi uma visita hoje. Alguém que não deveria saber onde eu moro.
— Alguém... perigoso?
Enzo a encarou por longos segundos. Seus olhos eram dois buracos negros, cheios de histórias que ninguém contava.
— Digamos que não é alguém que se convida para um chá da tarde. O tipo de pessoa que prefere ameaças a flores.
Isabella cruzou os braços.
— Isso tem a ver com... seu passado?
Ele não respondeu de imediato. Caminhou até a janela e olhou para o jardim, onde Giulia corria atrás de borboletas.
— Tudo sempre tem a ver com meu passado. E é por isso que estou preocupado. Você está aqui. Giulia está... mais viva do que nunca. E isso assusta certas pessoas.
— E o que pretende fazer?
— Proteger vocês. De qualquer maneira.
Isabella respirou fundo. Não queria se meter nos negócios obscuros de Enzo, mas também não conseguia ficar indiferente.
— Preciso saber se estou segura aqui, Enzo. Não por mim — apontou em direção ao jardim — por ela.
Ele se aproximou, os olhos fixos nos dela.
— Enquanto eu estiver respirando, nenhuma ameaça vai tocar em vocês. Isso é uma promessa.
A proximidade entre os dois era quase palpável. Isabella sentiu o calor da presença dele, o cheiro da pele misturado ao perfume forte, o olhar que queimava.
Mas antes que qualquer coisa fosse dita, Teresa bateu à porta, interrompendo o momento.
— Senhor Enzo, tem um carro parado do lado de fora da entrada principal. E não parece ser de entregador.
Isabella sentiu um arrepio. Enzo apenas assentiu, o rosto voltando a assumir a frieza que o tornava respeitado — e temido.
— Fique com Giulia — ordenou ele. — E não deixe ninguém entrar.
E então, como uma sombra, ele desapareceu no corredor, deixando Isabella com o coração acelerado, sem saber se era medo... ou algo mais profundo.
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Atualizado até capítulo 40
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