Capítulo 3: Você de Novo!
Meu carro estava estacionado perto da vaga dos professores, e eu sabia que precisaria engolir minha vergonha e ir falar com o professor Moriar para agradecê-lo por ter me ajudado. Apesar de tudo o que havia acontecido mais cedo, era o certo a se fazer.
Quando chego perto do vidro, noto um bilhete preso ao carro:
Bilhete:
"Senhorita, o seu carro infelizmente bateu o motor. Dei uma olhada nele, mas como não estava presente, não pude levá-lo para consertar. Caso queira meus serviços, deixarei meu contato.
Ass.: Bob
Número: 9XXX1-XXX4"
Pelo jeito, até meu carro decidiu me deixar na mão hoje. Solto um suspiro longo e ligo para meu patrão para avisar que me atrasarei. Ele compreende e me diz que, se precisar de algo, é só contatá-lo. Mais uma vez agradeço por trabalhar com alguém tão compreensivo.
Entro no carro e ligo para Bob. Ele diz que virá buscar o veículo para uma análise mais detalhada. Fico esperando ali mesmo, sozinha, e um pensamento inevitável surge.
— Que maravilha... Era só isso que estava me faltando. Isso vai custar uma fortuna. Já estou até vendo quantos dias sem carne terei que enfrentar — digo baixinho para mim mesma, bufando alto.
Só de imaginar as dificuldades financeiras que viriam, fico ainda mais desanimada. Coloco minha cabeça no volante, tentando processar a avalanche de acontecimentos do dia, até que escuto uma batida no vidro da porta. Sinto uma espécie de déjà-vu e, mesmo torcendo para não ser quem penso, parece que o destino decidiu brincar comigo.
— Sério que é você de novo? — murmuro, olhando pelo vidro.
Com um esforço, tento fingir normalidade e baixo a janela.
— Boa tarde, professor Moriar. Em que posso ajudar? — pergunto, formalmente, tentando esconder minha exasperação.
— Boa tarde, senhorita Lancaster. Espero que o Bob tenha te ajudado com a questão do seu carro — ele responde, com aquele tom calmo, mas carregado de autoridade.
— Muito obrigada mais uma vez, professor, por ter me ajudado — digo, tentando manter a cordialidade.
Ele me olha com um misto de curiosidade e provocação.
— Sabe, estou intrigado com sua pessoa. Há pouco tempo, estava falando pelos cotovelos e era bem... abusada, desculpe a palavra. Agora está me tratando com tanta cordialidade e respeito — comenta, como quem busca uma explicação.
Eu o encaro confusa, sabendo que, se não controlar meu temperamento, posso acabar dizendo algo de que me arrependeria. Decido me conter.
— Desculpe pelo ocorrido mais cedo, professor. Eu estava frustrada e acabei falando demais — respondo, tentando resolver o assunto.
Ele se aproxima mais da janela, ficando com o rosto quase dentro do carro. O gesto me deixa desconfortável.
— Será que ainda pensas em mim como um monstro ou está falando comigo com tanta calma por saber que serei seu professor, senhorita Lancaster? — ele questiona, com um olhar penetrante.
Respiro fundo antes de responder.
— Sei meus limites, professor. Mas, sendo sincera, não será uma aula que tirará todos os receios e boatos que ouvi sobre sua pessoa. No entanto, como já falei, peço desculpas pelo ocorrido. Não acontecerá mais — digo, tentando finalizar o assunto.
Ele sorri de canto, como quem não está convencido.
— E se eu não quiser te desculpar? — ele retruca, desafiador.
Penso: "Aí eu perco a cabeça e ainda sou expulsa por ser grossa". Respiro fundo novamente, o encaro e digo:
— Aí esse será um problema seu. Minha parte eu fiz, que foi reconhecer e corrigir meu erro. Agora, com licença, tenho meus próprios problemas para resolver — finalizo, ainda mais controlada, enquanto noto Bob se aproximando.
Moriar dá um sorriso discreto e se afasta do carro. Vou até Bob, que começa a me explicar o problema do motor e o valor para o conserto. Quase caio para trás ao ouvir o preço. Peço a ele a possibilidade de parcelar, explicando toda a minha situação.
Antes que Bob pudesse responder, Moriar interrompe a conversa.
— Bob, meu velho amigo, faça o conserto deste carro para mim. E não deverás mais nenhum favor a mim — diz Moriar, com sua voz fria e imponente.
Bob me olha intrigado, assim como eu. Não posso aceitar isso; ninguém é tão bom assim, especialmente em uma cidade que me ensinou a desconfiar de gestos tão generosos.
— De maneira nenhuma. Eu arco com meus próprios prejuízos. Já foi gentil da sua parte me passar o contato deste senhor — digo, tentando resolver.
— É uma ordem! — Moriar retruca, implacável.
Me coloco de pé à sua frente, encarando-o.
— Mas não estamos na sala de aula. Olha, estou sendo paciente aqui, mas por favor não ultrapasse os limites. Falei coisas que não te agradaram, ok, compreendo sua raiva, mas não sou nenhuma coitada! — digo, mantendo firmeza.
Sem alterar o tom de voz, ele responde com a mesma frieza de sempre.
— Alguma hora a senhorita me ouviu dizer que estava com raiva? — afirma, me deixando sem palavras. Antes de sair, ele repete com autoridade: — Bob, faça o que eu lhe informei.
Depois de implorar várias vezes para Bob permitir o parcelamento, ele rejeita. Meu carro é levado, e já passou do horário do almoço. Decido voltar ao prédio, almoçar e me trocar para ir ao trabalho.
Durante minha longa caminhada até o portão principal, vejo o mesmo carro que me levou à aula mais cedo passar direto. Sinto um alívio imenso, mas ele logo para ao meu lado.
— Senhorita Lancaster, parece que nos encontramos novamente nessa estrada — diz Moriar, como quem se diverte.
Já estou sem paciência e cansada demais até para pensar nas palavras certas.
— Não precisaríamos nos encontrar novamente se tivesse seguido com o carro. Já parou para pensar nisso? — digo, ironicamente, enquanto ele ri.
— Mas ainda não serei agraciado com o seu temperamento! — retruca.
— Não acha que já me humilhou o suficiente hoje? Estou segurando o que penso, porque, na hora que eu disser tudo, não será legal para nós dois — respondo, sem medo.
— Entre no carro, dou uma carona até a entrada — ele sugere, com calma.
— Por mais tentadora que essa oferta seja, estou exausta e não quero compartilhar o mesmo ambiente que o senhor até a próxima aula — digo, continuando a caminhar.
— É sério. Entre no carro, não precisa falar nada — insiste Moriar.
— Por que tanta insistência? Fui escolhida para ser sua cobaia? Quer que eu desista da sua aula para se transformar em exemplo dos seus esquemas diabólicos? — digo, sem me conter.
Ele ri, mas seu semblante endurece.
— Está perdendo uma oportunidade que muitos queriam, senhorita — afirma, mais irritado.
— Isso é simples de resolver! — digo, lançando um sorriso irônico, enquanto acelero o passo.
Sem perceber, acabo tropeçando em um buraco na calçada e caindo no chão. Ele estaciona e vem em minha direção, sem hesitar.
— Era só o que me faltava hoje! Que droga! — murmuro.
Ele tenta me ajudar, mas eu me recuso.
— Posso me levantar sozinha. Não preciso de ajuda! — digo, enquanto a dor me faz cair novamente.
— Acho que já deu de bancar a durona, né? — ele diz, pegando-me no colo como se eu fosse leve.
Apesar dos protestos, ele me leva até o carro, volta para pegar minha bolsa e declara:
— Vou te levar ao pronto-socorro. Alguém precisa olhar esse pé! — finaliza, ignorando qualquer tentativa de recusa.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Fatima Vieira
kkkkk ela fala demais
2025-05-09
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