Capítulo 2 – Olhares e Primeiras Impressões
Pedro tinha 14 anos e já carregava nos olhos a malícia da vida. Cresceu com os avós no alto do morro, longe dos mimos e regalias que muitos adolescentes sonhavam. Seu Otávio e dona Marieta eram simples, mas davam a ele o que podiam: comida no prato, roupa lavada e conselhos que vinham no grito, mas sempre com amor.
— “Tu não é qualquer um, Pedro. Não se perde por aí, moleque”, dizia o avô, com o cigarro no canto da boca.
Pedro já era parceiro de Rafael e Renato, os dois mais ousados do bairro. Vivia grudado com eles desde os dez anos. Era com eles que ele dividia as aventuras, o futebol na laje, as correrias pelas vielas e os planos mirabolantes que quase sempre davam errado. Mas era aquela bagunça que fazia sentido na vida dele.
Naquela tarde, o trio estava sentado no meio-fio em frente à quadra, onde o pai de Rafael — um homem respeitado e temido por muitos — conversava com uns caras de terno escuro. Pedro observava calado. Admirava a postura do homem, o respeito que ele impunha com um simples olhar. No fundo, queria ser como ele: forte, decidido, dono de si.
— “Aí, Pedro… se liga!” — disse Renato, dando uma cotovelada nele e apontando com o queixo.
Lá vinham elas: Paula, Renata e Jéssica. Três furacões, cada uma com um estilo próprio, descendo o beco como se estivessem desfilando. Paula, a prima metida da garota nova que todo mundo só ouviu falar, vinha de short jeans apertado, camiseta amarrada na cintura e celular na mão. Renata, com um salto que batia no chão como se exigisse atenção. E Jéssica… bom, Jéssica era puro fogo. Boca vermelha, cabelo solto, e uma risada que fazia os meninos virarem o pescoço.
— “Cês não cansam de se exibir, não?” — perguntou Rafael, de forma provocativa.
— “A gente nasce linda, não é culpa nossa”, retrucou Paula, lançando um olhar direto pra Pedro.
Ele ergueu uma sobrancelha e riu com deboche. Paula tinha aquele jeito convencido que irritava — e, por algum motivo, chamava atenção.
— “Pedro, tá reparando demais, hein. Cuidado que ela morde”, cochichou Renato, malicioso.
— “Ela não é tudo isso, não”, disse Pedro, mas manteve os olhos nela por mais um segundo do que gostaria.
— “Se acha, só porque é prima da riquinha que vai vir morar aqui… Deve ser tudo farinha do mesmo saco”, completou ele, resmungando.
Pedro ainda não conhecia Cíntia, mas já estava de birra. Riquinha no morro? Só podia dar errado.
— “O pai do Rafael tá bolado hoje, hein… olha a cara dele”, mudou o assunto, observando o homem que agora olhava em direção aos meninos, como quem sabia que estavam prestando atenção.
O silêncio entre eles foi quebrado pela gargalhada escandalosa de Jéssica, que fazia pose encostada no muro.
— “Cês ainda tão aí parados feito poste? Vai fazer alguma coisa, menino!” — gritou dona Marieta da janela, fazendo Pedro se encolher e os amigos caírem na risada.
— “Tua vó manda mais que a polícia, hein”, brincou Rafael.
Pedro deu de ombros. Sabia que, apesar da dureza, ela só queria o bem dele.
No fundo, aquele fim de tarde era como tantos outros: cheio de provocações, charme barato, olhares cruzados e palavras não ditas. Mas para Pedro, algo ali estava mudando. Ele estava crescendo. E mesmo que tentasse negar, alguma coisa naquela provocação de Paula ficou gravando em sua mente.
E ele ainda não fazia ideia de como aquela “riquinha” que estava pra chegar — a tal da Cíntia — ia virar a vida dele do avesso.
pedro
avo dele
avo dele
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Atualizado até capítulo 40
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