...Algumas décadas antes do nascimento da princesa que trouxe o inverno...
...Um evento crucial que aconteceu no reino do Sul...
O segundo século da dinastia Valen chegava ao fim, e a saúde do rei começava a falhar. Este rei — o segundo de sua linhagem — havia governado por quase oitenta anos, mas partiria sem deixar um herdeiro legítimo.
Ele era descendente direto de Alaric, o primeiro rei, aquele que uniu todos os reinos: Leste, Sul, Oeste, Norte, Noroeste, Sudeste, Centro-Oeste, Valehart. As famílias governantes viviam espalhadas pelas terras que formavam o império: os Vega, próximos das montanhas; os Harrison, no Leste, uma tradicional família de lords; os Thorne, também no Leste, mas mais ao Norte; os Stormborn, isolados em uma ilha cercada pelo mar e pela chuva.
Apesar das distâncias, todos viviam sob um único governo, e todos se curvavam ao rei do Sul. Sem um herdeiro direto, duas opções surgiram: Serena Valen, legítima prima de segundo grau do rei, e Dante Valen, um parente distante. Serena era a herdeira de sangue, mas, por ser mulher, foi rejeitada.
O conselho de líderes escolheu Dante. Preferiram manter um homem no trono a se curvarem diante de uma mulher. Assim, Dante foi coroado rei, junto de sua esposa Briar, grávida de sua primeira filha.
Serena, embora legítima, foi deixada de lado. Naquele tempo, uma mulher não podia herdar o trono.
...15 anos depois...
...🌹Selena🌹...
Para mim, só tinha uma coisa melhor do que passear entre os povos: era estar montada em meu dragão — minha enorme dragão fêmea chamada Luna. Apesar de ainda ser jovem, Luna já possuía um tamanho considerável e uma presença que ninguém ousava ignorar. Suas escamas brilhavam em um tom amarelo que, sob o sol, parecia se transformar em ouro líquido. As asas largas e elegantes se abriam como mantos dourados, e seus olhos âmbar cintilavam como brasas vivas, atentos a tudo ao redor.
Eu estava passeando com ela quando resolvi voltar para casa, já que havia conseguido escapar dos guardas — novamente — e não queria deixar meu pai maluco. O rei odiava que eu voasse em Luna, mas eu nunca dei moral.
Quando finalmente decidi descer, minha meio que amiga Lyra havia acabado de chegar. Éramos muito amigas, e acabamos entrando juntas na carruagem de volta ao palácio.
— Você fugiu de novo? — ela perguntou com aquele sorriso cínico.
— Fugi. E foi incrível. Luna voou sobre os lagos do sul. Nem os guardas me viram.
— Seu pai vai surtar — ela riu. — E sua mãe vai te mandar tomar banho de vinagre.
— Que ótimo, porque eu tô fedendo a dragão — respondi, rindo também.
— Você nasceu pra isso, Selena. Mas juro que um dia você ainda vai cair do céu com essa sua dragonesa mimada.
— Ela não é mimada, só sabe o que quer — falei, defendendo Luna com orgulho.
Quando cheguei ao palácio, fui direto até minha mãe. Ela estava grávida, perto de dar à luz ao meu tão esperado irmão — ou pelo menos era o que todos esperavam, já que meu pai ainda não tinha herdeiros homens legítimos.
— Onde você estava perguntou minha mãe.
— Estava cavalgando — eu disse, entrando no quarto.
Ela me olhou com aquele olhar exausto e respondeu:
— Você fede a dragão. E mente muito mal. Já falei que não gosto que voe.
— Mas eu amo. Amo mais do que qualquer outra coisa.
Ela suspirou e apontou para o banheiro.
— Vai tomar banho. Você cheira como se tivesse dormido nas costas de Luna.
— Eu não quero... Eu quero cuidar da senhora. Todo mundo só quer saber do bebê. Eu vou cuidar da senhora.
Ela sorriu de leve, tocando meu rosto. Depois disso, fui direto para a sala do conselho, onde eu ajudava a servir as taças de vinho e comidas para meu pai e os conselheiros. Estavam lá os membros da família Drake e da família Hawthorne. Discutiam — como sempre — alguma briga com piratas tentando invadir nossas terras.
Quando cheguei, meu pai chamou minha atenção:
— Você está atrasada.
Tentei usar a mesma desculpa de sempre.
— Estava com minha mãe…
— Você fede a dragão. E mentiu muito mal, minha filha.
Fui servir as bandejas sem responder. Eles falavam sobre meu tio — ou primo, já que ele era irmão do meu pai e primo da minha mãe, algo assim. Diziam que ele não era bom como líder da guarda real da cidade, mas eu sabia que era mentira. Ele tinha diminuído as mortes na área pobre em mais de 50%. Matou alguns, sim, mas o que são alguns perto de milhões?
Eu odiava aquele conselho. Estavam sempre tentando jogar meu pai contra seu irmão, Griffin. E eu odiava isso.
Outro que eu não gostava era Sutton, o pai da minha melhor amiga. Ele era o conselheiro-chefe do rei e se intrometia em tudo, sempre com esse tom de "estou salvando o reino", quando, na verdade, só queria controle. Estavam também discutindo sobre um torneio que fariam em homenagem ao meu irmão — que nem nascido estava. Ninguém sabia se seria menino ou menina. No fundo, eu adoraria que fosse mulher, só para ver a cara de todos eles, cheios de desespero e tristeza.
Depois disso, fui levada pelo meu guarda real até uma sala para conversar com meu querido primo Griffin, que acabara de chegar.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei.
— Nada — respondeu seco.
— Você não devia estar na sala do trono. Nem perto da cadeira do rei. Retire-se.
Ele foi um pouco rude, mas saiu. Antes de sair, me deu um bracelete e colocou em meu pulso, em silêncio.
Mais tarde, tive uma tarde de “meninas” com Lyra. Na verdade, eu precisava estudar as histórias do reino, mas ela não aceitava que eu não quisesse o trono. Então, recitei para ela de cabeça a história do Norte, como Elisa Valen havia sido criada e como os Valen conquistaram todos os tronos e alianças. Ela ficou um pouco mais convencida, mas mesmo assim continuava achando que eu devia prestar mais atenção no futuro.
No dia seguinte, começou o grande campeonato em homenagem ao meu irmão que ainda nem havia nascido. Quando cheguei, meu pai estava discursando. Todos estavam lá — primos, tios, primas, membros do governo, até gente do Leste e do Norte.
Depois que meu pai terminou, me sentei na frente ao lado de Lyra. Quando o torneio começou, todos pediam bênçãos ou falas de sorte — de mim ou da minha prima, que havia disputado o trono com meu pai anos atrás.
Mas foi um cavaleiro que me chamou atenção: Knight Cole. Ele venceu luta após luta — inclusive contra o próprio tio Griffin — e saiu vitorioso, mesmo com a brutalidade do torneio, que não perdoava nem a vida.
Após a última luta, ele se aproximou de onde eu estava, olhando para cima.
— Princesa Selena… uma palavra sua vale mais que qualquer troféu.
Eu o olhei com respeito e disse:
— Você luta com honra. Que os ventos e os deuses jamais virem as costas para você.
Ele sorriu, agradeceu e se afastou.
Pouco depois, meu pai saiu apressado. E logo depois… a notícia.
Minha mãe… e o filho em seu ventre… não resistiram ao parto.
Ela sangrou até morrer. E a criança morreu com ela.
Mais tarde, todos estávamos no enterro. Como era tradição, incendiamos os corpos. A fogueira era enorme. E naquela época, era o marido ou o descendente quem colocava o fogo final.
Mas naquele dia… fui eu quem o fez.
Chamei Luna, minha dragão dourada. Ela desceu do céu, majestosamente. E com um único sopro flamejante, transformou em cinzas minha mãe… e o irmão que nunca conheci.
Em silêncio, me afastei dali. E não olhei para trás.
...Explicação: Griffin e tio por parte de pai da Selena e primo por perte da mãe....
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 32
Comments