Sob a Luz da Lua Cheia

Dias atuais

A lua cheia se aproximava, tingindo o céu de prata e silêncio. Para Ricardo, o rei da alcateia lunar, cada dia era uma contagem regressiva para o destino que havia arquitetado por anos. Finalmente, o momento chegava.

Em breve, seu filho Ryan, único herdeiro, ascenderia ao trono sob a bênção da lua. A cerimônia marcaria não apenas sua coroação, mas também o cumprimento de uma antiga profecia.

Mirian, a loba que havia traído seu clã ao fugir com a filha, continuava desaparecida. Mas Ricardo sabia que isso estava prestes a mudar. A filha dela estava prestes a despertar — e, com isso, não haveria mais como escondê-la.

Ela era a escolhida. Aquela que deveria se unir a Ryan. Aquela que, segundo a lenda, equilibraria a luz e as trevas da linhagem real.

MIRIAN

Sabia que o tempo estava contra mim.

Elena havia completado a maioridade. E com a chegada da lua cheia, sua loba finalmente despertaria. Era impossível impedir o que estava escrito nas estrelas — mas eu ainda podia protegê-la por um último gesto.

Preparei uma carta. Uma despedida, um desabafo, um pedido de perdão. Nela, deixei minha verdade, minha dor, minha história. E a esperança de que, um dia, ela entendesse minhas escolhas.

Mas naquela manhã, sorri. Vesti minha filha com leveza, e juntas fomos até a cidade. Andamos pelas ruas, rimos e compramos tecidos lindos. Eu queria gravar em minha memória aquele dia como se fosse eterno. Ela ainda não sabia, mas sua vida prestes a mudar para sempre.

Cristian nos acompanhou até em casa. Convidei-o para jantar. Ele aceitou com o mesmo carinho de sempre. Enquanto eu preparava a comida, os dois conversavam na sala, envoltos por risos e olhares que diziam mais que palavras.

Pela primeira vez em muito tempo, permiti-me sentir paz.

RYAN

Meu pai invadiu meu quarto com os olhos brilhando de fúria e triunfo.

— Encontramos Mirian.

As palavras explodiram em minha mente. Levantamo-nos imediatamente. Juntei os melhores guerreiros. O refúgio da traidora havia sido descoberto — um campo isolado nos arredores de Nestivile. Uma casa simples, cercada por hortas. Mas as luzes acesas entregavam: estavam lá.

Não hesitamos. Meu pai arrombou a porta com um chute. Na sala, um casal de jovens nos olhou, surpreso. A garota... eu sabia que era ela.

MIRIAN

O estrondo da porta me fez largar a colher. Um grito partiu dos lábios de Elena.

Corri até a sala com a faca ainda em mãos. O rei estava lá, em carne e osso. Seus olhos eram os mesmos da última vez que o vi: frios, cruéis, sedentos.

Elena congelou, sem entender o que via. Eu, porém, entendi tudo. E a loba dentro de mim rugiu pela primeira vez em anos.

— Corra! — gritei para minha filha.

Avancei sobre o jovem ao lado do rei — olhos verdes, rosto severo. Devia ser o filho. Ele tentou se esquivar, mas minha loba já estava em plena transformação.

Ela era de porte médio, pelagem branca como a neve, olhos azuis como o céu da manhã. Meu corpo cedeu lugar ao instinto.

ELENA

Tudo se quebrou em segundos.

Minha casa foi invadida, minha mãe se transformou em uma criatura que só existia nos contos... e os estranhos diante de nós começaram a mudar também. Era impossível negar: lobos, enormes, de cores variadas, surgiam onde antes havia homens.

Cristian correu para buscar ajuda. Eu quis fazer o mesmo, mas meu corpo não respondeu. Minha mãe, agora em sua forma animal, tentava lutar contra os invasores.

Lobos maiores a cercaram. Mordiam, rasgavam, esmagavam com força cruel. Gritei, supliquei, mas nada impedia a violência.

Tentei correr até ela, mas fui contida por um jovem ainda em forma humana. Tinha cerca de vinte anos. O olhar dele era decidido — e indiferente ao meu desespero.