5

Vestido é um caixão de renda e seda.

Apertado. Pesado. *Estrangulando.*

Olho no espelho e não me reconheço. O cabelo perfeito, a maquiagem impecável, os lábios pintados de vermelho como sangue fresco.

Pareço uma noiva.

Pareço a morte.

Lúcifer observa de cima do armário, os olhos amarelos fixos em mim como se soubesse que hoje tudo muda.

— *Não me olha assim,* murmuro, ajustando as mangas justas. *Não é como se eu tivesse escolha.*

Ele mia, baixinho, e vira o rosto.

*Até meu gato me julga.*

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### **A Cerimônia – Uma Execução em Festa**

A igreja está cheia.

De inimigos.

De aliados.

De abutres vestidos de seda esperando para ver o sangue escorrer.

Meu pai me espera no altar, o rosto impassível. Do outro lado, Vinni está de terno preto, as mãos atrás das costas, o olhar fixo em algum ponto acima da minha cabeça.

*Nem sequer me olha.*

Bom.

*Também não quero que ele olhe.*

O órgão toca. Todos se levantam.

E eu começo a caminhar em direção ao meu fim.

Quando chego ao altar, Vinni finalmente olha para mim.

Seus olhos são frios.

Os meus também.

O padre fala palavras que não escuto. Algo sobre amor, honra, eternidade.

*Piada.*

— *Os anéis,* o padre diz.

Vinni pega o meu. A aliança é pesada, cravejada de diamantes que custaram mais do que a moral de todos nesta sala juntos.

Ele segura minha mão.

*Dói.*

Não porque ele aperte.

Mas porque é a primeira vez que nos tocamos *sem raiva.*

Desliza o anel no meu dedo.

— *Com este anel, eu te aceito como minha esposa,* ele diz, a voz rouca.

*Mentira.*

*Mentira.*

*Mentira.*

Repito as palavras mecânicamente quando é minha vez. O anel dele desliza fácil, como se sempre tivesse pertencido ali.

O padre nos declara marido e mulher.

— *Pode beijar a noiva.*

O silêncio na igreja é tão denso que quase dá para mastigar.

Vinni se inclina.

Eu me arqueio como um gato prestes a atacar.

Seus lábios tocam os meus.

É rápido.

Frio.

*Vazio.*

A plateia aplaude.

E assim, Isabella Rossi deixa de existir.

Agora, sou Isabella Orsini.

*Que Deus tenha misericórdia da minha alma.*

O salão de festas é iluminado por mil velas. Champanhe flui como água.

E eu quero morrer.

Vinni e eu dançamos a valsa nupcial como dois estranhos, nossos corpos perfeitos na postura, nossos corações a milhas de distância.

— *Você está tremendo,* ele murmura no meu ouvido.

— *É o ódio,* respondo, os dedos cravados no ombro dele. *É contagiante.*

Ele ri, baixo, e o som vibra contra meu peito.

— *Pelo menos não estamos mentindo mais.*

— *Sobre o quê?*

— *Que isso não nos afeta.*

Puxo o rosto para trás para olhar nos seus olhos.

— *Não afeta.*

Ele levanta uma sobrancelha.

— *Claro que não.*

A música termina. Nos separamos como dois oponentes saindo de um ringue.

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### **A Noite – O Fim do Começo**

É tarde quando finalmente nos deixam sozinhos.

Nosso quarto de casal é grande, luxuoso, e parece uma cela.

Vinni fecha a porta atrás de si e solta um suspiro pesado, afrouxando a gravata.

— *Bem,* ele diz, olhando para a cama king-size. *Eu durmo do lado esquerdo.*

— *Ótimo. Eu durmo em outro quarto.*

Viro para sair, mas ele pega meu pulso.

— *Isabella.*

Paro, mas não me viro.

— *O que?*

Há uma pausa longa.

— *Nada.*

Ele solta meu braço.

Saio sem olhar para trás.

Mas no corredor, paro.

Respiro.

E pela primeira vez hoje...

*Choro.

O corredor da mansão Orsini é frio como o túmulo que meu casamento deveria ser.

Minhas lágrimas secam tão rápido quanto surgiram – raiva queimando o medo, como sempre.

*Não. Não vou chorar por isso. Não por ele.*

Dou um passo. Depois outro.

Até que ouço:

— *Você realmente vai fugir na nossa primeira noite?*

Vinni está na porta do quarto, a gravata desfeita, o primeiro botão da camisa aberto. A luz baixa do corredor acentua o cansaço nos seus olhos.

— *Não é fuga se o território é inimigo,* respondo, virando para enfrentá-lo.

Ele sorri, mas não é o sorriso de provocação de sempre. É algo mais cansado.

— *Então vem negociar a rendição.*

— *Não tenho nada pra negociar.*

— *Mentira,* ele diz, simples, como se fosse óbvio. *Você sempre tem algo a perder. Todo mundo tem.*

O silêncio cai entre nós.

Ele tem razão.

E eu odeio isso.

Entro no quarto como quem pisa em território minado.

Vinni fecha a porta e vai direto para a cômoda, onde despeja os pertences dos bolsos: chaves, carteira, um canivete idêntico ao meu.

*Pelo menos somos parecidos em algo.*

— *Você pode ficar com a cama,* ele diz, sem olhar para mim. *Eu durmo no sofá.*

Olho para o móvel em questão – um sofá de veludo que custa mais que um carro, mas que não cabe nem metade do seu corpo.

— *Vai acordar todo torto.*

— *Já acordei pior.*

Ele finalmente vira, e nossos olhos se encontram.

Há algo estranho no olhar dele. Algo que não consigo decifrar.

— *O que?* peço, defensiva.

— *Nada. Só...* Ele hesita. *Você está com a maquiagem manchada.*

Levo a mão ao rosto, como se pudesse esconder.

— *Não importa.*

— *Importa,* ele diz, e pega um lenço do bolso. *Aqui.*

Fico parada, olhando para o pano branco estendido.

— *Eu não preciso da sua ajuda.*

— *Eu sei.*

E ainda assim, quando ele joga o lenço na minha direção, eu pego.

O tecido é macio contra minha pele. Cheira a him – a madeira quente e algo mais, algo que não consigo nomear.

— *Obrigada,* murmuro, contra minha vontade.

Ele acena com a cabeça e vai até o armário, pegando um travesseiro e uma coberta.

Observo enquanto ele prepara o sofá, os músculos das costas tensionando sob a camisa.

*Por que isso parece tão... errado?*

— *Vinni.*

Ele pára.

— *A cama é grande o suficiente para dois.*

Dessa vez, sou eu quem hesita.

— *Não quero sua piedade.*

— *Não é piedade,* respondo, os dedos apertando o lenço. *É lógica. Se você acordar com as costas travadas, vai ficar insuportável.*

Ele ri, baixo.

— *Justo.*

Há outra pausa.

— *Eu não vou te tocar,* ele diz, sério. *Você sabe disso, né?*

*Sei?*

Não respondo.

Ele pega o travesseiro e volta para a cama, deixando um espaço largo entre nós.

Deito do meu lado, de costas para ele, ainda vestida no meu robe sobre o pijama.

As luzes se apagam.

A escuridão é absoluta.

E então, no silêncio, ele fala:

— *Boa noite, Isabella.*

Feicho os olhos.

— *Boa noite, Vinni.*

E pela primeira vez em dez anos..

Chamo ele pelo nome

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