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Capítulo 5 – Os Outros Que Ficam

Helena estava de pé.

Mas não lembrava de ter se levantado.

O corredor diante dela já não era o mesmo. As paredes estavam cobertas por papel de parede velho, manchado com algo escuro e seco. O chão rangia como se gritos vivessem sob as tábuas. E o ar... o ar estava cheio de vozes.

Sussurros vindos de todos os lados. E todos diziam a mesma coisa:

— Você não devia estar aqui...

— Ninguém volta duas vezes...

Ao fim do corredor, uma porta entreaberta deixava escapar uma luz fraca e amarelada. Mas havia algo errado com essa luz. Ela tremeluzia como se estivesse viva. Como se respirasse.

Helena se aproximou.

E então... ela viu.

Não estava sozinha.

Ali dentro, sentadas em cadeiras antigas, dispostas em círculo, estavam outras pessoas. Homens, mulheres, jovens, idosos. Olhos arregalados. Peles pálidas. Cada um vestido de forma diferente, de épocas diferentes.

Um homem em trajes de 1800.

Uma garota com uniforme escolar dos anos 90.

Um bebê... sem olhos.

E uma mulher com o rosto todo coberto por véus queimados.

Todos eles olhavam para o centro do círculo.

E no centro...

Havia uma cadeira vazia.

Esperando por ela.

Helena deu um passo para trás, mas a porta fechou com um estrondo. Trancada. Sempre trancada.

A mulher do véu falou, a voz como cinzas sendo sopradas:

— Sente-se, Helena. Está atrasada para sua própria condenação.

— Quem são vocês? — Helena perguntou, a garganta seca.

O homem do século XIX respondeu:

— Somos os que ouviram a casa sussurrar. Os que entraram... e nunca saíram.

— Você é uma de nós agora.

— Isso é um pesadelo — sussurrou ela.

— Não, querida. Isso é o que vem depois do pesadelo. Quando você acorda... e percebe que ainda está presa nele.

A cadeira no centro começou a ranger sozinha. Estava chamando.

Helena tentou correr, mas seus pés não obedeciam. A casa não deixava.

Sentou-se.

No instante em que seu corpo tocou o assento, uma dor cortante atravessou sua coluna. Como se pregos invisíveis a prendessem ali. Como se a casa quisesse cravar sua alma naquele lugar.

E então... as memórias vieram.

Não flashes.

Não sonhos.

Mas vidas.

Ela viu-se em um asilo abandonado. Era outra versão dela, muito mais velha. Trancada num quarto sem janelas, rindo sozinha, com a pele coberta de cortes.

Depois, viu-se criança, sentada em uma sala escura, com a mãe gritando ao fundo: “Ela está vendo de novo! Ela está vendo!”

Depois, viu-se morta.

Em uma banheira.

O corpo frio.

E a casa... observando.

A casa não era um lugar.

Era um ciclo.

Ela escolhia pessoas. Puxava-as. Mastigava seus passados até que elas esquecessem quem eram. E então... devorava.

A mulher do véu queimado falou mais uma vez:

— Você acha que é a protagonista dessa história, Helena?

— Mas aqui, ninguém é especial.

— Todos vocês são apenas alimento.

A luz apagou.

Gritos começaram. Gritos de dor. Gritos de riso. Gritos de vozes que se partiam como espelhos. Um por um, os rostos ao redor dela começaram a derreter, a se transformar em versões corrompidas. E todos apontavam para ela.

— Ela trouxe a casa de volta!

— Ela abriu a caixa!

— Ela... é a nova porta!

Helena caiu da cadeira, engatinhando para longe.

E então... o chão se abriu.

E ela caiu.

Caiu por horas.

Por dias.

Por anos.

Caiu até esquecer que já teve um corpo.

E no final da queda... ela acordou.

Sozinha.

No mesmo quarto de antes.

Mas agora... o espelho do canto sorria para ela. E dentro dele, não havia reflexo.

Apenas a casa inteira, olhando para ela.

E uma nova voz dizendo:

— Bem-vinda, anfitriã.

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