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Capítulo 4 – O Quarto Trancado

O frio era diferente agora.

Não era o tipo de frio que gela a pele. Era um frio que vinha de dentro. Um vazio que roía as entranhas, como se algo estivesse crescendo lá, algo que não devia existir.

Helena andava pelos corredores como um fantasma — ou como alguém que já não sabia se era viva. Os espelhos ficaram para trás, mas as vozes não. Elas a seguiam, sussurrando entre as rachaduras da casa, escorrendo pelas frestas das portas fechadas.

— Você está lembrando...

— Está voltando...

— Não deveria ter aberto a caixa...

Caixa?

Ela parou. Um estalo no peito. Uma memória perdida.

Sim. Uma caixa. Trancada. Enterrada.

A casa parecia ouvir seus pensamentos. À frente, o corredor terminava numa porta negra, muito mais velha que as outras. Ela não estava lá antes. Tinha certeza. A madeira estava inchada, como se escondesse algo vivo atrás. E o trinco... coberto de símbolos talhados à mão. Círculos. Números. Letras.

Um sussurro escapou da maçaneta.

— Não abra...

— Ou descubra quem você realmente é...

Helena estendeu a mão. Os dedos tremiam. Mas giraram o trinco, como se não houvesse escolha.

O quarto estava escuro.

Não havia janelas, lâmpadas, velas. Apenas escuridão densa, palpável. O tipo de escuridão que parece respirar.

Ela entrou.

A porta se fechou atrás com um estalo. Trancada. Claro.

Lá dentro, no centro do cômodo, havia uma única coisa.

A caixa.

Era menor do que lembrava. De madeira antiga, coberta por correntes e selos gastos. No topo, o nome "Helena" estava riscado com força, como se alguém tentasse apagá-lo — mas sem sucesso.

Ela caiu de joelhos diante dela.

Sabia o que tinha ali.

Não era um objeto. Não era um segredo.

Era uma verdade.

Helena tirou as correntes com as mãos nuas, mesmo quando elas cortaram sua pele. Uma gota de sangue caiu sobre a tampa e, no mesmo instante, a caixa se abriu sozinha.

E o que havia dentro...

não era possível.

Uma fita VHS.

Uma foto rasgada.

Um dente humano.

E uma carta.

Escrita com sua caligrafia.

Mas ela... não lembrava de ter escrito aquilo.

As mãos tremiam quando pegou a folha.

"Se você está lendo isso, então a casa venceu."

"Você ficou. Você quis saber demais."

"E agora... precisa lembrar do que fez."

Ela gritou. Rasgou o papel. Mas outro surgiu no lugar.

A casa não a deixava esquecer.

Helena pegou a fita. Não havia TV. Mas mesmo assim, ao tocá-la, tudo ao redor mudou.

As paredes tremeram. O chão se abriu. O cômodo desapareceu — e ela estava de volta ao passado.

O quarto de sua irmã.

A noite.

Os gritos.

Ela estava parada na porta, trancada por dentro. Tremendo de medo. Lá fora, a irmã chorava.

— Helena, por favor! Tem algo aqui! Eu vi... tá no espelho... abre a porta!

E Helena...

Ela encolheu-se, tampou os ouvidos. Fingiu dormir.

E então... o silêncio.

Não um silêncio natural.

Um silêncio errado.

Quando saiu do quarto no dia seguinte... a irmã havia sumido. Ninguém nunca encontrou o corpo.

Mas agora ela sabia.

A casa a levou.

E agora queria mais.

Um espelho surgiu à sua frente, flutuando no meio do vazio.

Nele, sua irmã. Com o rosto derretido. Os olhos costurados.

E no fundo da garganta, uma voz que não era humana:

— Você quer salvá-la? Então volte até o início. Volte onde tudo começou.

A casa riu. As paredes sangraram.

E a realidade se rompeu.

Helena acordou — ou foi jogada — de volta ao corredor.

Mas agora, algo a seguia.

Algo que não tinha rosto.

E que dizia, sem boca:

— Você não vai sair viva.

— Porque o que está preso aqui... é você.

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