Thomas
As próximas horas foram um inferno de ligações, reuniões, ameaças veladas.
Thomas não descansaria enquanto não tivesse certeza: Noah precisava ser invisível.
— Quero mais homens na frente da casa. — A voz dele era gelo no telefone. — Câmeras em todo o quarteirão. Nenhuma aproximação sem autorização direta minha. Se virem a porra de um drone, derrubem.
Ele desligou e passou a mão no rosto. A barba áspera raspando na palma.
Precisava de um cigarro.
Ou um soco em alguém.
Ou Noah deitada naquela cama, pedindo por ele.
"Foco, caralho."
Subiu as escadas sem fazer barulho. Parou diante do quarto dela.
Silêncio.
Bateu. Nenhuma resposta.
Empurrou devagar.
O quarto estava vazio.
O sangue gelou.
Noah
Ela descia pela janela dos fundos quando ouviu o alarme ser desativado manualmente.
Riu baixo.
Amador.
Claro que Thomas colocaria homens armados na frente da casa, mas se esquecera que ela conhecia aquela mansão melhor do que qualquer segurança.
"Quer me prender? Tenta me parar."
Pulou para o gramado, o coração batendo acelerado, uma liberdade elétrica percorrendo o corpo.
Mas deu três passos e...
— Onde pensa que vai? — A voz de Thomas atrás dela foi como um trovão.
Ela se virou, mordendo o lábio para não sorrir.
Ele estava ali. Sem gravata. A camisa branca desabotoada no colarinho. Os olhos negros de ódio.
Deus, ele era lindo quando estava furioso.
— Dar uma volta — respondeu, fingindo inocência. — Estava sufocando aqui.
Thomas avançou, segurando o braço dela, sem força suficiente para machucá-la, mas firme para mostrar quem mandava.
— Você não vai sair daqui sem minha autorização. Nunca mais. — rosnou.
— Então me tranca num porão de vez! — ela retrucou, os rostos tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.
Por um segundo, o mundo parou.
O tempo congelou no espaço de um suspiro.
Ele olhando para ela como se quisesse quebrar todas as regras.
Ela olhando para ele como se implorasse para ser quebrada junto.
Mas a campainha tocou.
Yasmin
— Noah, minha florzinha, cadê você?! — a voz aguda e animada ecoou do portão da frente.
Noah arregalou os olhos e se soltou de Thomas num puxão.
— É a Yasmin!
Antes que ele pudesse impedi-la, ela correu pela lateral da casa, destravando o portão.
Yasmin entrou como um furacão colorido: shorts jeans rasgado, botas de cano alto, cabelo preso num coque bagunçado.
— Saudade, garota! — gritou, agarrando Noah num abraço apertado. — Tá todo mundo falando de você na faculdade! Que história é essa de capangas armados?! Tô morrendo!
Thomas apareceu logo atrás.
Braços cruzados.
Expressão de quem queria atirar nela.
Yasmin olhou para ele de cima a baixo, sem um pingo de medo.
— E esse aí deve ser o chefe da segurança, né? — piscou para Noah, sussurrando alto o suficiente para Thomas ouvir. — Um pedaço de mau caminho!
Noah riu pela primeira vez em dias. Riu de verdade.
Thomas cerrou a mandíbula.
Não gostava dela.
Não gostava da voz alta.
Não gostava da maneira como ela fazia Noah sorrir.
Não gostava do jeito como Yasmin o encarava como se visse através dele.
Thomas
— Ela não pode ficar — falou seco, olhando para Noah.
Yasmin arqueou a sobrancelha.
— Relaxa, brutamontes. Não vou sequestrar sua princesa. — Pegou Noah pela mão e puxou. — Vamos fofocar lá dentro. Me conta tudo, garota!
Antes de entrar, Yasmin olhou para Thomas e piscou novamente, provocadora.
Thomas ficou parado no gramado, o peito inflando de irritação.
"Ótimo. Agora além dos inimigos de verdade, tenho que lidar com essa amiga insuportável."
Mas o pior não era isso.
O pior era ver Noah sorrindo para outra pessoa.
Sorrindo daquele jeito.
Sorrindo como nunca sorria para ele.Noah
— Então é isso? — Yasmin falava, deitada na cama dela, as pernas balançando no ar. — Sua mãe some, teu padrasto manda meia dúzia de tanques de guerra pra te proteger e você não pode nem respirar direito?
Noah riu baixo, jogando uma almofada nela.
— Não é bem assim… — mentiu. — Thomas só tá tentando me proteger.
Yasmin ergueu uma sobrancelha.
— Protegendo... ou te aprisionando? — perguntou com aquela voz exageradamente dramática. — Sério, amiga, isso aqui parece mais uma prisão de luxo do que uma casa normal!
Antes que Noah pudesse responder, ouviram um leve clic na porta.
Ela olhou rápido — parecia fechada, mas...
"Thomas."
Ela sabia que ele estava ali, ouvindo atrás da porta.
Sabia porque o conhecia melhor do que conhecia a si mesma.
E, no fundo, o fato dele se preocupar tanto com ela... fazia Noah sorrir.
Yasmin continuou, sem perceber:
— Aliás, que pedaço de mau caminho, hein? Se fosse eu, já tinha pulado em cima daquele padrasto gostoso.
Noah quase engasgou.
Sentiu o sangue correr para as bochechas.
Thomas, do lado de fora, apertou o punho tão forte que as juntas dos dedos estalaram.
Se tivesse entrado naquele quarto naquele momento, talvez não respondesse por si.
Mas ficou ali.
Ouvindo.
Ardendo.
Riven
Enquanto isso, a quilômetros dali, Riven observava a tela do computador, onde os registros de segurança da mansão Pershick piscavam em verde.
— Amadores — murmurou, sorrindo torto.
Digitou códigos, programou uma falha no alarme.
Ainda não era hora de atacar.
Mas seria em breve.
"Thomas acha que pode esconder a princesa dele? Vamos ver até quando."
Ele fechou o laptop com um estalo e olhou pela janela do apartamento decadente onde estava escondido.
A noite se aproximava.
E com ela, o caos.
Thomas
Ele já ia bater à porta de Noah e Yasmin para interromper aquela conversa irritante quando seu telefone tocou.
Olhou para a tela.
Sophia
A mandíbula dele endureceu.
Atendeu.
— Sophia
— Queridoooo! — a voz falsa dela atravessou o telefone como veneno disfarçado de mel. — Estou chegando em casa agora. Te peguei de surpresa?
Thomas fechou os olhos, respirando fundo para não explodir.
— Não me avisou que voltaria hoje.
— Decidi adiantar a viagem. Senti saudades da minha família... — disse, com uma risada afetada.
"Família."
Que piada.
Antes que pudesse responder, ouviu o barulho de carros estacionando do lado de fora.
Ela não estava apenas avisando.
Ela já estava lá.
— Filha! — a voz de Sophia ecoou pelo hall de entrada da mansão, alta, aguda, teatral.
Noah e Yasmin pararam de rir na mesma hora.
O clima mudou.
O ar ficou pesado.
Thomas desceu as escadas devagar, com a expressão fechada.
Sophia estava parada na entrada, sorrindo para ele como se fossem um casal feliz, perfeita na sua máscara de esposa troféu: vestido de grife, salto agulha, maquiagem impecável.
Ela se aproximou, ignorando o ódio nos olhos dele, e deu um beijo teatral na bochecha de Thomas.
— Estava morrendo de saudade, marido. — sussurrou, cínica, antes de se afastar e olhar em volta. — E onde está minha filhinha linda?
Noah apareceu no alto da escada, olhando Sophia como se estivesse vendo uma cobra venenosa.
Ao lado dela, Yasmin assistia à cena, boquiaberta.
Thomas manteve a expressão gelada.
Já sabia: Sophia não voltara só por saudades.
Ela tramava algo.
Sempre tramava.
E dessa vez, ele teria que proteger Noah...
de dentro da própria casa.
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Atualizado até capítulo 52
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