Noah
Quando Thomas a puxou para o carro, o silêncio foi esmagador.
Mas não era só entre eles.
O pátio inteiro da faculdade assistia. Estudantes cochichavam, filmavam, tiravam fotos. Olhares de nojo, de medo, de julgamento queimavam nas costas dela.
— É ela — alguém murmurou.
— Filha do mafioso.
— Rica nojenta.
— Comprou vaga no curso.
— Olha os capangas armados, meu Deus...
Noah ouviu tudo. Cada palavra cravava como uma adaga fina na pele dela.
Ela tentou erguer o queixo, como Thomas sempre fazia. Fingir que nada podia atingi-la.
Mas doía.
Doía pra caralho.
Quando entraram no carro, Thomas bateu a porta com força.
— Cinto. — A voz dele era uma pedra.
Ela obedeceu sem discutir.
Enquanto ele arrancava o carro de lá, ela olhou pelo vidro retrovisor. O campus ficava para trás. Com ele, a vida normal que ela fingia ter.
Ela sabia o que viria agora: vídeos no Instagram, boatos, exclusão.
Odiariam ela ainda mais.
E, no fundo, parte dela sabia: não era só porque Thomas era quem era.
Era porque ela era ela.
Provocante. Insolente. Intragável.
Thomas
Ele dirigia como um homem à beira da explosão.
O sangue latejava nas têmporas.
A imagem dela, cercada, indefesa, assombrava a mente dele como um pesadelo.
"Eu devia ter trancado ela em casa. Eu devia ter mandado todo mundo para o inferno."
Mas sabia que não adiantava.
Noah era como fogo. Tentasse prendê-la, ela queimaria o mundo.
— Você tá bem? — perguntou por fim, a voz cortante.
— Ótima. — Ela respondeu seca, olhando pela janela. — Obrigada por estragar minha vida.
Ele girou o volante tão abruptamente que o carro parou com um tranco numa rua lateral deserta.
Virou-se para ela, os olhos brilhando de raiva contida.
— Estragar sua vida?! — a voz dele subiu um tom. — Eu salvei sua vida, Noah! Ou prefere ser sequestrada por uns desgraçados no meio da faculdade, pra ser usada como isca contra mim?
Ela virou para ele, o rosto vermelho de fúria.
— Eu preferia ser tratada como gente normal! Você tem noção do que fez?! — gritou. — Agora todo mundo sabe! Todo mundo viu! Eu sou "a filha do mafioso" pra sempre agora!
Thomas soltou um riso amargo.
— Você nunca foi normal, Noah. Nunca vai ser.
— Porque você não deixa! — ela cuspiu as palavras, avançando pra cima dele, o rosto a centímetros do dele.
O ar entre eles ficou pesado.
Denso.
Quente.
Ela tremia de raiva. Ou de outra coisa que não queria admitir.
Os olhos dele baixaram — só por um segundo — para a boca dela.
O suficiente para ela perceber.
O peito de Thomas subia e descia rápido.
Ele estendeu a mão, como se fosse tocar o rosto dela.
Como se fosse beijá-la.
Mas no último segundo, fechou o punho no ar, afastando-se como se tivesse se queimado.
— Volta pro banco, Noah. Agora.
Ela mordeu o lábio, o orgulho ferido, mas obedeceu.
Ele ligou o motor de novo.
A raiva agora misturada com uma fome crua, desesperada, que nenhum dos dois ousava nomear.
Noah
Chegaram em casa sem trocar mais nenhuma palavra.
Assim que entraram, Thomas trancou a porta e acionou o alarme de segurança.
Noah subiu as escadas rápido, querendo distância dele.
Mas ele veio atrás.
— Noah — chamou.
Ela parou no meio do corredor, sem se virar.
— Você não vai mais pra faculdade até eu resolver isso.
Ela girou nos calcanhares, olhos faiscando.
— Você tá me prendendo agora? Vai me acorrentar no porão?
Ele se aproximou devagar. Cada passo dele empurrava o ar dela para fora dos pulmões.
— Eu vou fazer o que for preciso pra te manter viva — disse, a voz baixa, perigosa. — Nem que você me odeie por isso.
O silêncio explodiu entre eles.
Ela olhou pra ele, os olhos brilhando de raiva e de alguma outra coisa mais funda. Mais sombria.
— Você gosta disso, né? — sussurrou. — Me controlar. Me possuir. Me manter só pra você.
Thomas fechou os olhos por um segundo, como se a luta interna fosse física.
Quando abriu, a expressão dele era outra.
Fria.
Cruel.
— Não se iluda, Noah. Você é só uma responsabilidade.
Ele mentiu.
E ela sabia.
Mas deixou.
Deixou porque lutar com ele era lutar consigo mesma.
Virou as costas e entrou no quarto, batendo a porta com força.
Só quando estava sozinha, afundada na cama, é que deixou as lágrimas silenciosas caírem.
Não de medo.
Não de tristeza.
Mas de raiva.
De desejo.
De um sentimento tão errado que ela queria arrancar a pele para esquecer.
Thomas
Ele ficou parado diante da porta fechada.
Punhos cerrados.
Coração em guerra.
"Ela é só uma responsabilidade."
Mentiroso.
Maldito mentiroso.
A boca dela, o cheiro dela, a raiva dela — tudo era uma maldita tentação que ele não sabia até quando conseguiria resistir.
E agora, além de tudo, o mundo sabia que ela era vulnerável.
Que ela era o ponto fraco dele.
Riven. Lopez. William.
Eles viriam.
Viriam por ela.
E Thomas estava disposto a matar cada um.
A destruir o mundo inteiro.
Só para tê-la segura.
Só para tê-la... mesmo que nunca pudesse tocá-la.
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Atualizado até capítulo 52
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