Capítulo 4

Noah

Quando Thomas a puxou para o carro, o silêncio foi esmagador.

Mas não era só entre eles.

O pátio inteiro da faculdade assistia. Estudantes cochichavam, filmavam, tiravam fotos. Olhares de nojo, de medo, de julgamento queimavam nas costas dela.

— É ela — alguém murmurou.

— Filha do mafioso.

— Rica nojenta.

— Comprou vaga no curso.

— Olha os capangas armados, meu Deus...

Noah ouviu tudo. Cada palavra cravava como uma adaga fina na pele dela.

Ela tentou erguer o queixo, como Thomas sempre fazia. Fingir que nada podia atingi-la.

Mas doía.

Doía pra caralho.

Quando entraram no carro, Thomas bateu a porta com força.

— Cinto. — A voz dele era uma pedra.

Ela obedeceu sem discutir.

Enquanto ele arrancava o carro de lá, ela olhou pelo vidro retrovisor. O campus ficava para trás. Com ele, a vida normal que ela fingia ter.

Ela sabia o que viria agora: vídeos no Instagram, boatos, exclusão.

Odiariam ela ainda mais.

E, no fundo, parte dela sabia: não era só porque Thomas era quem era.

Era porque ela era ela.

Provocante. Insolente. Intragável.

Thomas

Ele dirigia como um homem à beira da explosão.

O sangue latejava nas têmporas.

A imagem dela, cercada, indefesa, assombrava a mente dele como um pesadelo.

"Eu devia ter trancado ela em casa. Eu devia ter mandado todo mundo para o inferno."

Mas sabia que não adiantava.

Noah era como fogo. Tentasse prendê-la, ela queimaria o mundo.

— Você tá bem? — perguntou por fim, a voz cortante.

— Ótima. — Ela respondeu seca, olhando pela janela. — Obrigada por estragar minha vida.

Ele girou o volante tão abruptamente que o carro parou com um tranco numa rua lateral deserta.

Virou-se para ela, os olhos brilhando de raiva contida.

— Estragar sua vida?! — a voz dele subiu um tom. — Eu salvei sua vida, Noah! Ou prefere ser sequestrada por uns desgraçados no meio da faculdade, pra ser usada como isca contra mim?

Ela virou para ele, o rosto vermelho de fúria.

— Eu preferia ser tratada como gente normal! Você tem noção do que fez?! — gritou. — Agora todo mundo sabe! Todo mundo viu! Eu sou "a filha do mafioso" pra sempre agora!

Thomas soltou um riso amargo.

— Você nunca foi normal, Noah. Nunca vai ser.

— Porque você não deixa! — ela cuspiu as palavras, avançando pra cima dele, o rosto a centímetros do dele.

O ar entre eles ficou pesado.

Denso.

Quente.

Ela tremia de raiva. Ou de outra coisa que não queria admitir.

Os olhos dele baixaram — só por um segundo — para a boca dela.

O suficiente para ela perceber.

O peito de Thomas subia e descia rápido.

Ele estendeu a mão, como se fosse tocar o rosto dela.

Como se fosse beijá-la.

Mas no último segundo, fechou o punho no ar, afastando-se como se tivesse se queimado.

— Volta pro banco, Noah. Agora.

Ela mordeu o lábio, o orgulho ferido, mas obedeceu.

Ele ligou o motor de novo.

A raiva agora misturada com uma fome crua, desesperada, que nenhum dos dois ousava nomear.

Noah

Chegaram em casa sem trocar mais nenhuma palavra.

Assim que entraram, Thomas trancou a porta e acionou o alarme de segurança.

Noah subiu as escadas rápido, querendo distância dele.

Mas ele veio atrás.

— Noah — chamou.

Ela parou no meio do corredor, sem se virar.

— Você não vai mais pra faculdade até eu resolver isso.

Ela girou nos calcanhares, olhos faiscando.

— Você tá me prendendo agora? Vai me acorrentar no porão?

Ele se aproximou devagar. Cada passo dele empurrava o ar dela para fora dos pulmões.

— Eu vou fazer o que for preciso pra te manter viva — disse, a voz baixa, perigosa. — Nem que você me odeie por isso.

O silêncio explodiu entre eles.

Ela olhou pra ele, os olhos brilhando de raiva e de alguma outra coisa mais funda. Mais sombria.

— Você gosta disso, né? — sussurrou. — Me controlar. Me possuir. Me manter só pra você.

Thomas fechou os olhos por um segundo, como se a luta interna fosse física.

Quando abriu, a expressão dele era outra.

Fria.

Cruel.

— Não se iluda, Noah. Você é só uma responsabilidade.

Ele mentiu.

E ela sabia.

Mas deixou.

Deixou porque lutar com ele era lutar consigo mesma.

Virou as costas e entrou no quarto, batendo a porta com força.

Só quando estava sozinha, afundada na cama, é que deixou as lágrimas silenciosas caírem.

Não de medo.

Não de tristeza.

Mas de raiva.

De desejo.

De um sentimento tão errado que ela queria arrancar a pele para esquecer.

Thomas

Ele ficou parado diante da porta fechada.

Punhos cerrados.

Coração em guerra.

"Ela é só uma responsabilidade."

Mentiroso.

Maldito mentiroso.

A boca dela, o cheiro dela, a raiva dela — tudo era uma maldita tentação que ele não sabia até quando conseguiria resistir.

E agora, além de tudo, o mundo sabia que ela era vulnerável.

Que ela era o ponto fraco dele.

Riven. Lopez. William.

Eles viriam.

Viriam por ela.

E Thomas estava disposto a matar cada um.

A destruir o mundo inteiro.

Só para tê-la segura.

Só para tê-la... mesmo que nunca pudesse tocá-la.

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