Noah
Assim que a porta da sala se fecha, Noah solta a respiração que nem sabia que estava prendendo.
O veneno daquelas últimas palavras ainda escorria pela pele dela.
"Eu controlo tudo, Noah."
Ela queria rir. Queria gritar. Queria correr até ele e desafiar cada maldita linha que ele tentava manter entre eles.
Mas, em vez disso, girou a maçã na mão e mordeu de novo, como se saboreasse a própria provocação.
O celular vibrou em cima da mesa de centro. Uma mensagem.
Yasmin: "Partiu faculdade, princesa? Não vai dar pra faltar de novo kkkk"
Yasmin: "E leva spray de pimenta hoje. O pessoal do curso de direito tá surtado."
Noah revirou os olhos. Yasmin sempre exagerava. Mas, ao mesmo tempo, algo lá no fundo cutucou: uma sensação estranha, incômoda. Um aviso silencioso.
Ela se levantou, subiu as escadas quase correndo, e trocou a blusa curta por uma camiseta preta folgada. Colocou um moletom por cima. Puxou o cabelo para um coque bagunçado.
Antes de sair, passou pela garagem.
O carro novo que Thomas havia mandado blindar para ela estava ali, brilhando, imponente. Um recado claro: "Você não é invencível, pequena."
Noah revirou os olhos de novo, mas entrou no carro. Pelo menos naquele ponto, ela sabia que era melhor obedecer.
No caminho até a faculdade, o nervosismo foi crescendo. Ela odiava admitir, mas Thomas tinha razão em ser paranóico. Desde que o nome dele aparecera num relatório internacional de investigação de máfias, os inimigos não paravam de surgir. E ela era um alvo fácil: a princesinha protegida.
Quando chegou, o campus estava mais agitado que o normal.
Yasmin a esperava perto do estacionamento, falando animadamente com dois caras que Noah não conhecia.
Assim que a viu, Yasmin acenou com entusiasmo.
— Finalmente acordou, Bela Adormecida!
Noah sorriu de leve e caminhou até ela. Mas sentiu os olhos dos caras a acompanhando. O tipo de olhar que não era amigável.
— Quem são? — perguntou baixo, parando ao lado da amiga.
Yasmin sorriu, meio sem jeito.
— Calouros do curso de administração. Tavam perguntando da festa de sexta. Relaxa.
Mas Noah não relaxou.
Os olhos deles eram secos. Avaliadores.
Instinto.
O mesmo instinto que Thomas havia treinado nela sem perceber, com anos de olhares desconfiados e ordens silenciosas.
— Vamos logo pra sala — murmurou, puxando Yasmin.
Mal tinham dado dez passos quando ouviram:
— E aí, bonequinha, vai sair comigo ou com o véio que te banca?
Noah parou. Congelou.
Virou devagar, o olhar frio como aço.
— Repete — ela desafiou.
O calouro riu.
— Todo mundo sabe quem é teu papai rico, princesa. E o que você deve fazer pra manter o padrão, né?
Foi rápido demais.
Noah não pensou.
O punho dela acertou o rosto do garoto com um estalo seco.
Ele cambaleou pra trás, segurando o nariz.
E então tudo virou um caos: xingamentos, gritos, estudantes filmando com o celular.
Yasmin puxava Noah desesperadamente, tentando tirá-la dali.
— Você tá louca?! Vem logo!
Mas antes que pudessem fugir completamente, o garoto agredido correu atrás delas.
E, do nada, uma SUV preta freou com tudo no meio do pátio.
Dois homens enormes desceram.
Noah reconheceu as tatuagens imediatamente.
Não eram capangas de Thomas.
Eram inimigos.
O sangue gelou nas veias dela.
Eles vinham direto na direção dela.
Thomas
O celular vibrava sem parar sobre a mesa de reunião.
Thomas ignorou as primeiras chamadas.
Mas quando viu o nome de Nick piscando de novo e de novo, ele atendeu, a mandíbula tensa.
— Fala.
— A Noah. Na faculdade. — A voz de Nick estava urgente. — Tentaram pegar ela.
Thomas se levantou num salto.
— O quê?
— Dois homens, provavelmente enviados pelo Riven ou pelo pessoal do Lopez. Tô indo pra lá agora, mas ela tá no meio do campus, cercada.
Thomas não pensou.
Simplesmente saiu da sala, ignorando os protestos dos associados reunidos.
Entrou em seu carro como uma tempestade.
O volante rangeu sob a força das mãos dele.
"Eu devia ter trancado ela em casa."
"Eu devia ter deixado claro que o mundo lá fora não é um jogo."
A raiva fervia junto com o medo — um medo que ele não podia admitir nem para si mesmo.
Não Noah. Não ela.
Ele dirigiu como um possesso.
Em menos de dez minutos, invadiu o campus.
Viu o amontoado de gente, os celulares apontados, a confusão.
E então a viu.
Noah, com o cabelo bagunçado, o moletom escorregando do ombro, e os olhos faiscando de raiva e medo.
Os homens estavam a poucos metros dela.
Thomas não hesitou.
Desceu do carro com a arma escondida sob o paletó.
O mundo inteiro pareceu silenciar quando ele atravessou o pátio.
Seus olhos só viam ela.
Noah o viu também.
E naquele momento, o alívio nos olhos dela quase o matou.
Mas também o fortaleceu.
Ele chegou até ela, colocando-se imediatamente entre ela e os agressores.
— Toquem nela — Thomas disse, a voz baixa e mortal — e eu mato vocês aqui mesmo.
Os homens hesitaram.
Não era qualquer ameaça. Era Thomas Pershick.
Mesmo ali, mesmo em público, mesmo cercado de câmeras, eles sabiam: ele cumpriria a promessa.
Nick chegou segundos depois, com mais dois seguranças armados.
Os homens recuaram.
Nick os seguiu de perto, registrando rostos, pegando placas, preparando a vingança inevitável.
Thomas virou para Noah.
Ela parecia tão pequena de repente. Tão quebrada.
Mas tentou sorrir.
— Atrasado, padrasto — sussurrou.
Ele fechou os olhos por um segundo.
Inspirou fundo.
E sem dizer nada, puxou ela contra o peito.
Segurou como se pudesse protegê-la de tudo.
De todos.
Dele mesmo.
Mas o perigo estava apenas começando.
E Thomas sabia: agora que a guerra havia começado, ele não poderia mais manter distância dela.
Nem do mundo.
Nem dela.
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Atualizado até capítulo 52
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