Capítulo 2

Noah

O salto ecoa no mármore da escada, como um desafio. Cada batida contra o chão é uma provocação calculada, como se ela quisesse que ele a ouvisse. E ela quer.

A casa está silenciosa. Silenciosa demais. A mãe está em Milão, como sempre. Almoço beneficente, desfile, hotel cinco estrelas, selfies em frente a fontes históricas. A figura decorativa de uma esposa perfeita. Ausente o suficiente para esquecer que tem uma filha. Ou um marido.

Mas Thomas está ali.

Thomas sempre está.

Ela o vê antes mesmo de chegar à sala: terno cinza, impecável como sempre, o nó da gravata milimetricamente ajustado. Sentado à mesa, lendo algo em seu tablet, com a expressão de quem não precisa levantar a voz para controlar um exército.

Ela entra devagar, como se por acaso. Jeans justo, blusa que deixa a barriga à mostra, batom vermelho demais para um almoço em casa. Mas isso não é apenas um almoço. Nunca é.

— Bom dia, padrasto — diz com um sorriso inclinado. Quase inocente.

Ele não levanta os olhos de imediato. Mas ela vê o músculo na mandíbula dele se contrair. Viu. Sentiu. Vitória silenciosa.

— São duas da tarde, Noah — ele responde, a voz grave cortando o ar como uma lâmina. — Já passou da hora de acordar.

— E você já passou da hora de parar de fingir que não olha pra mim desse jeito — ela pensa, mas não diz. Ainda não.

Ela se aproxima, pega uma maçã da fruteira e dá uma mordida lenta. Os olhos fixos nele. Ele não a encara de volta, mas ela sabe: ele está lutando.

Ele sempre está lutando.

Thomas

Ela está jogando de novo. Como sempre. Andando pela casa como se fosse dona do mundo, com aquele olhar que desafia e provoca ao mesmo tempo. Aquela boca pintada demais. Aqueles olhos que já viram coisas demais.

Dezesseis. Dezessete. Dezoito. Agora dezenove. E ele contando cada ano, cada centímetro de distância que deveria manter — e que ela insiste em diminuir.

Thomas não é fraco. Já matou homens com as próprias mãos. Já enfrentou policiais, rivais, traidores. Mas Noah? Noah o desarma com uma mordida numa maçã.

— A que horas é sua aula hoje? — pergunta, tentando soar neutro. Tentando parecer o guardião, o protetor. Não o homem que pensa nela toda noite.

— Cancelei. O professor é um babaca. — Ela joga o corpo no sofá, pernas dobradas, pele à mostra.

Ele aperta os dedos contra o tablet. A respiração pesa.

— Não me trate como se eu fosse uma das suas prostitutas, Thomas.

A frase paira no ar. Uma faísca. Um teste.

Ele levanta os olhos. Finalmente.

— Cuidado com o que diz, Noah.

— Por quê? Vai me mandar embora? — Ela sorri. Um sorriso perigoso. — Ou vai me prender aqui pra sempre?

Silêncio.

Os olhos dele encontram os dela. E por um instante — só um — ele se permite imaginar. O que aconteceria se ele parasse de lutar?

Mas então, ele se levanta.

— Tenho uma reunião. Se for sair, me avise. E vista algo mais… apropriado.

Ela ri. Um som doce e ácido ao mesmo tempo.

— Não sabia que agora você controlava o que eu visto também.

— Eu controlo tudo, Noah — ele responde, antes de sair da sala. E sabe que é verdade.

Mas o que ele não sabe é: até quando vai conseguir se controlar?

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