Ecos do Despertar

A floresta à noite era um sussurro constante. Galhos rangiam, folhas dançavam ao toque do vento, e o mundo parecia mais vivo, mais antigo. Valentina caminhava ao lado de Klaus, sentindo o ar vibrar ao redor como se a natureza reconhecesse algo nela. Algo que até então permanecia adormecido.

— Você sente? — perguntou ele, olhando para frente, olhos semicerrados.

— Sinto tudo — respondeu ela, baixinho. — É como se... estivesse finalmente enxergando o mundo do jeito que ele é.

— É porque você está despertando. Aos poucos.

Ele a levou por uma trilha escondida, entre árvores retorcidas e raízes grossas. Cada passo que davam mais fundo na mata, Valentina sentia o equilíbrio dentro de si oscilar — como se luz e sombra brigassem por espaço. As mãos formigavam. O peito, pesado.

Chegaram a um pequeno lago espelhado, onde a lua se refletia com perfeição. Klaus parou e se voltou para ela.

— Tente. Concentre-se. Sinta a luz e a sombra dentro de você. Não lute contra nenhuma delas.

Valentina hesitou, depois fechou os olhos. Respirou fundo. O silêncio era absoluto, exceto pelo som de sua própria respiração. Então, estendeu as mãos.

Primeiro veio a luz. Um brilho suave, dourado, escapando da palma esquerda como se estivesse viva. A temperatura ao redor esquentou levemente. Mas junto, sombras negras começaram a se agitar na palma direita. As trevas eram frias e intensas, girando como fumaça densa.

Um choque percorreu seu corpo quando as duas forças se encontraram no centro de seu peito. Valentina arfou e deu um passo para trás, mas Klaus a segurou com firmeza.

— Controle, Valentina. Você precisa dominar o equilíbrio, ou será consumida.

Ela respirou fundo. De novo. Forçou a mente a acalmar. Visualizou as duas energias girando como dança, e não como conflito. Aos poucos, a luz e a sombra começaram a circular de forma harmônica.

Klaus a observava com atenção. Ele nunca vira nada assim. Nem mesmo as criaturas mais antigas da floresta possuíam tamanha dualidade. Ela era... única.

— Muito bem — disse ele, quando as energias desapareceram. — Isso é só o começo.

Ela o olhou, suando, ofegante, mas com um brilho no olhar. — Quero entender o que sou. Por inteiro.

— Então está na hora de conhecer o resto do meu mundo.

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A entrada do território da matilha era marcada por pedras altas cobertas de runas. Klaus as tocou ao passar, e Valentina sentiu um arrepio subir pela espinha. Assim que cruzaram, a energia mudou. Era primal. Selvagem.

Eduardo os aguardava perto de uma fogueira. Ao ver Valentina, arqueou a sobrancelha.

— Trouxe ela mesmo, então?

— Ela precisa conhecer a verdade — respondeu Klaus, firme.

— Ou vai acabar morta por ela — murmurou Eduardo, antes de virar-se para Valentina. — Bem-vinda ao covil dos monstros.

Valentina não respondeu. Apenas observava. Ao longe, outras silhuetas começaram a aparecer. Homens e mulheres, todos com um certo brilho nos olhos. Lobos em pele humana. Eles a observavam com curiosidade, e em alguns, com desconfiança.

— Eles sabem o que eu sou? — perguntou ela, baixo.

— Eles sentem. Mas só eu e Eduardo conhecemos os detalhes. Por enquanto.

— E se descobrirem?

Klaus a olhou com seriedade. — Vai depender do quanto você se mostra... como ameaça, ou como possível aliada.

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Enquanto Valentina adentrava um mundo novo, Luna andava inquieta pela casa. Ela sabia que Valentina havia saído de novo. Não precisava nem olhar o quarto vazio. O vínculo entre elas gritava. Algo estava acontecendo, e rápido demais.

Luna decidiu que não podia mais esperar. Foi até a biblioteca antiga da cidade, um lugar escondido entre ruelas de pedra. A seção de livros esquecidos era cheia de poeira, mas também de histórias que os humanos comuns não ousavam ler.

Depois de horas folheando pergaminhos e diários, ela encontrou algo.

> "Duas criaturas foram deixadas sob proteção humana. A primeira, herdeira de luz e trevas, equilíbrio em caos. A segunda, guardiã de segredos ancestrais, descendente direta das linhagens esquecidas de Avalon."

Os nomes não estavam ali, mas Luna soube. A descrição era exata. Ela e Valentina.

E isso significava que alguém sabia que elas existiam. E havia um motivo para terem sido separadas de suas origens.

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No território da matilha, Klaus guiou Valentina até uma espécie de caverna central, onde símbolos antigos estavam gravados nas paredes.

— Essa é a Caverna da Verdade. Nossos antepassados acreditavam que tudo começa e termina aqui. Vida, morte, transformação.

Valentina tocou uma das inscrições. Sentiu algo estremecer dentro dela.

— Isso aqui... não é só seu. É meu também. De alguma forma.

— Talvez. — Klaus se aproximou. — Nossos mundos se cruzaram por um motivo. Você não apareceu aqui por acaso, Valentina. E eu sinto isso. Como se eu tivesse te esperado a vida inteira.

Ela o olhou, surpresa, confusa, e tocada. Não disse nada. Mas pela primeira vez, o medo deu lugar à conexão. Algo entre eles havia sido selado — não com palavras, mas com presença.

E nas sombras, olhos observavam. Velhos. Famintos. Sabendo que a híbrida havia despertado... e que logo, o equilíbrio do mundo iria mudar.

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