Entre Sombras Instintos

A floresta parecia ter ficado para trás, mas a presença de Klaus ainda pairava sobre Valentina como um perfume persistente. Desde o encontro, o calor em suas mãos não cessava. Era como se a energia que despertara dentro dela não quisesse mais adormecer.

— Ele era perigoso — disse Luna, pela terceira vez naquela noite, sentada no parapeito da janela do quarto de Valentina. — Você sentiu, não sentiu? Aquela aura… não era normal.

Valentina encarava o reflexo no espelho. Os olhos ainda brilhavam levemente, como se o próprio olhar estivesse despertando. — Senti. Mas não da forma que você está pensando.

— Como assim?

Ela se virou, devagar. — Era como se eu o conhecesse. Como se… parte de mim soubesse que ele estava vindo.

Luna cruzou os braços. — E isso é motivo pra confiar nele? Val, ele disse que era um lobo alfa! Você sabe o que isso significa? Eles protegem territórios. Eles caçam. Ele podia ter te atacado, e...

— Mas não atacou.

A feiticeira suspirou, passando a mão pelos longos cabelos castanhos. — É isso que me preocupa.

Luna sempre foi a mais racional entre as duas. Valentina, por outro lado, carregava aquele impulso natural de mergulhar no desconhecido, de sentir com o coração antes de pensar com a razão. Era parte do equilíbrio entre luz e trevas que vivia dentro dela. Parte anjo, parte demônio… sempre oscilando entre o controle e o caos.

Naquela noite, ela sonhou de novo. Mas desta vez, não era com a figura de asas. Era com olhos vermelhos, um lobo negro caminhando por entre as sombras, observando-a de longe. E por um instante, ela quis correr até ele.

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Do outro lado da floresta, Klaus caminhava em silêncio sob o luar. A clareira onde encontrara Valentina ainda vibrava em sua memória, como se o próprio chão tivesse registrado a presença dela.

— Nunca vi nada igual — disse Eduardo, ao se aproximar. — Você tá estranho desde que voltou. Me diga que não é por causa da garota.

Klaus parou e olhou para o beta. Eduardo era alguns centímetros mais baixo, cabelo raspado dos lados e sorriso fácil. Era seu braço direito, mas também seu amigo de longa data.

— Ela não é uma garota comum — respondeu Klaus. — Ela tinha luz... e escuridão. As duas forças ao mesmo tempo. E não estava tentando esconder.

— Híbrida? — Eduardo arqueou a sobrancelha. — Isso é impossível.

— Eu vi com meus próprios olhos. Uma das mãos dela brilhou, e a outra... se envolveu em sombras. Era como ver o céu e o inferno brigando por espaço no mesmo corpo.

Eduardo assoviou. — Isso explica por que o ar naquela clareira estava denso. Eu quase não consegui respirar quando fui lá mais cedo. Como se algo antigo tivesse sido despertado.

— Foi. Ela.

O silêncio se instalou por um momento.

— E o que pretende fazer? — perguntou Eduardo.

Klaus estreitou os olhos para o horizonte. — Descobrir quem ela é... e por que o destino cruzou nossos caminhos. Aquela garota não é só uma híbrida. Ela é algo maior. E se os outros souberem dela antes de nós...

Eduardo completou a frase, sombrio: — Vão caçá-la.

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Nos dias seguintes, Valentina não conseguia se concentrar em nada. As aulas pareciam ecos distantes, e até Luna, que sempre conseguia distraí-la, não conseguia afastar os pensamentos que a assombravam. A energia dentro dela estava crescendo. Ela sentia nos ossos, na pele, nos sonhos. O tempo da ignorância havia acabado.

Na noite de quinta, algo a despertou. Um som suave, como uma melodia. Ela se levantou em silêncio, atravessou o corredor e saiu pela porta dos fundos da casa.

O jardim estava banhado pela lua, e o vento soprava calmo. Mas ao longe, no limite entre a cidade e o bosque, ela o viu.

Klaus.

Não como lobo. Não como ameaça.

Como homem, de pé, observando-a, com olhos que ardiam como brasas na noite.

Ela deu alguns passos na direção dele, sentindo o coração martelar.

— Por que está aqui?

Ele demorou a responder. — Porque você precisa entender o que está se tornando. E eu... posso te ajudar.

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