Já faz um mês desde a última vez que vi Lúcia. Ainda assim, ela não sai dos meus pensamentos. Volta e meia, penso em perguntar sobre ela para a Luana, mas sempre desisto. Sei que ela vai começar a fazer perguntas — querer saber o porquê, o que aconteceu — e eu não quero falar sobre isso.
No meu intervalo, pego o celular e começo a mexer no Instagram enquanto escuto música. Vou rolando o feed sem prestar muita atenção, até que vejo uma foto no perfil da Luana, do dia da festa de aniversário. A curiosidade me cutuca, então abro os comentários. Meu coração acelera ao ver o nome da Lúcia ali.
Entro no perfil — e é ela. A Lúcia que fez morada na minha mente, que aparece nos meus sonhos e pensamentos mais soltos. Sem pensar muito, impulsionada por uma coragem que não sei de onde veio, envio uma solicitação de amizade. Em seguida, fecho a tela do Instagram rapidamente, antes que me dê tempo de me arrepender.
Quero saber mais sobre ela. Quero descobrir como é o mundo dela.
As últimas horas de trabalho foram exaustivas. A cafeteria estava cheia, e com poucos funcionários, o tempo parecia escorrer entre minhas mãos. Tudo era corrido, barulhento, desgastante. Quando o turno finalmente acabou, saí com o corpo doendo e a mente zonza. Há dias me sentia assim — presa em uma rotina que parecia sugar a cor dos meus dias.
Na parada de ônibus, sentei e peguei o celular quase por instinto, só para distrair a cabeça. Foi quando vi a notificação do Instagram: Lúcia havia aceitado minha solicitação. Meu coração deu um salto. E, como se não bastasse, ela também me mandou uma solicitação de volta. Aceitei sem pensar. E, por alguns segundos, esqueci o cansaço, a cidade, o barulho ao redor.
O perfil dela era como uma janela aberta para um mundo que me parecia leve e bonito. Havia fotos simples, mas cheias de presença: livros com anotações nas margens, paisagens de viagem, cafés fumegantes, ela sorrindo ao lado de alunos ou sozinha em algum lugar ensolarado. Descobri que ela tinha completado cinquenta anos recentemente, que era professora de educação física, que amava esportes, café, chá, música e leitura. Era como descobrir que alguém conseguia existir de forma inteira — tão diferente de mim, que andava me sentindo pela metade.
Enquanto voltava para casa, montei uma playlist com as músicas que ela postava nos stories e nas legendas. Fui ouvindo uma a uma como se, de alguma forma, isso me aproximasse dela. Aquilo me trouxe uma calma que há tempos eu não sentia.
Quando cheguei em casa, o vazio me recebeu primeiro. Vitória ainda não tinha voltado. Provavelmente estava no trabalho ou na academia, como sempre. Tomei um banho demorado, ouvindo as músicas de Lúcia. Naquela água quente e nas melodias suaves, me permiti esquecer de tudo por um instante. De mim. Dela. De nós.
Vitória chegou pouco depois. Veio já com a frustração no rosto.
— Amor, você não pode tirar férias? Nem tem banco de horas?
Suspirei.
— Minhas férias só vêm no próximo ano. E o banco de horas eu zerei na última viagem com você.
Ela socou a parede, impaciente.
— Merda! Você podia largar esse emprego. Eu posso sustentar a gente! Quero que vá comigo pra uma viagem de trabalho. Duas semanas fora.
— Eu não vou pedir demissão. E não vou com você. Da última vez, eu passei quinze dias trancada num apartamento em Salvador, sozinha, enquanto você trabalhava o dia inteiro. Isso não foi uma viagem pra mim.
Minha voz saiu firme, mais do que esperava. Estava cansada — do dia, da rotina, e dessa relação que há tempos deixara de ser abrigo.
— Você é minha mulher, e eu cuido de você — ela insistiu. — Já te disse, me preocupo em te deixar sozinha... Pede demissão. Vem comigo pra São Paulo. Prometo que a gente passeia depois.
— Eu já disse que não, Vitória.
Ela chutou a cadeira com raiva.
— Por que não vai pedir demissão? Tá tendo um caso lá? Esse tipo de emprego é fácil de achar! Você é só uma atendente! Devia agradecer por ter uma esposa que quer te levar junto, em vez de te deixar sozinha aqui!
As palavras dela me atravessaram. E doeram. Não só pela agressividade, mas porque acendiam uma parte de mim que já carregava vergonha: eu havia largado a faculdade de marketing no último período. Depois, tentei psicologia e desisti também. Nunca terminei nada. Nunca soube ao certo quem eu queria ser. Me sentia sem rumo — como se fosse tarde demais para me encontrar. Talvez, por isso, eu aceitasse tanto. Engolisse tanto.
Mas havia algo diferente agora. Havia aquela playlist tocando no fundo da minha cabeça. Havia a lembrança de um sorriso calmo entre livros e cafés. Havia a sensação de leveza que senti ao ver o mundo de Lúcia — mesmo que à distância.
Olhei para Vitória, cansada.
— Eu não vou sair do meu emprego. Não vou viajar. E, se você continuar falando nisso, a gente vai terminar.
Não falei para provocar. Falei porque era verdade. Porque pela primeira vez em muito tempo, algo dentro de mim sussurrava que eu merecia uma vida mais gentil. Vitória foi para o quarto, irritada. E não tocamos mais no assunto naquela noite.
Mas dentro de mim, um silêncio novo começava a crescer. Um silêncio que pedia espaço, que queria paz. E talvez, só talvez, uma nova história.
Os dias passaram em silêncio. Vitória está magoada porque decidi não acompanhá-la na viagem. Ela acha que, ficando sem falar comigo, vai me fazer mudar de ideia. Mas isso não vai acontecer. Pelo contrário — é a primeira vez que vou passar duas semanas longe dela. Nas outras viagens, ou eu a acompanhava, ou eram curtas demais para sentirmos a distância. Mas essa é diferente.
Dessa vez, ela vai como engenheira-chefe, liderar e coordenar equipes em um grande projeto de construção de um shopping. E eu sei que ela vai estar ocupada, focada, porque ela é ansiosa, detalhista, e sente que está sendo testada. E eu admiro isso nela — a forma como se entrega ao trabalho, com intensidade e precisão.
Ela viaja amanhã. Está triste, quieta, e mesmo com tudo, não gosto de vê-la assim. Então, preparo algo para tentar quebrar a tensão.
Desligo a luz do quarto, deixando apenas o abajur aceso, criando um clima íntimo. Coloco pra tocar Feel do Beneld, Bury — sei que a batida sensual da música vai falar por mim. Me deixo levar, começo a dançar lentamente, sentindo a melodia tomar conta do meu corpo. Solto os cabelos, porque sei que ela ama vê-los assim, soltos, livres.
Seus olhos se fixam em mim, e, aos poucos, os traços de raiva em seu rosto começam a ceder. Ela sorri, pequeno, contido. Provoco com o olhar, deslizando as mãos pelo corpo enquanto vou tirando a roupa, uma peça de cada vez. Mordo os lábios, e seus olhos brilham — a tensão muda de lugar.
Chamo-a com o gesto dos dedos. Ela vem até mim, séria, mas faminta. Me beija com força e desejo. Eu retribuo, deixando que o calor tome conta. Me ajoelho diante dela, tiro sua cueca box com lentidão, sem quebrar o contato visual. Começo a beijá-la ali, suavemente, sentindo seu corpo responder, escutando os gemidos que começam a escapar, abafados, quase como um pedido contido.
Minha língua dança sobre ela, lenta, firme, devotada. Seguro suas nádegas, sentindo seu gosto, o som dela, seu jeito de puxar meu cabelo para me guiar — ela quer mais. E eu dou. Sugo com força, com fome, e quando o orgasmo a alcança, ela me pressiona ainda mais contra si. Eu bebo seu prazer em silêncio, olhando nos olhos dela.
Ela me puxa de volta, agora tomada por uma fúria doce. Me levanta do chão e me joga contra a escrivaninha. Me vira de costas, me penetra com força. Gemo alto — e não faço questão de esconder. Ela me puxa pelos cabelos, e sussurra no meu ouvido:
— Você é minha.
Eu não respondo. Apenas me deixo levar, deixo que ela me use, me satisfaça.
Transamos até o amanhecer. Vitória é insaciável — intensa, ardente. E nisso, não há o que negar: ela sabe como me fazer gozar. Talvez tenha sido isso, no começo, que me prendeu a ela. O sexo. A química.
Mas o amor... o amor é outra coisa.
O amor precisa de mais do que noites quentes e corpos encaixados. E, por mais que ela mereça ser amada de um jeito inteiro, esse amor — o que ela quer, o que ela exige — eu não consigo dar.
E talvez, só talvez, eu nunca tenha conseguido.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Ana Faneco
essa história é maravilhosa parabéns 👏 amando continuaaaaaa por favor 😃
2025-04-25
0
Barbara Coveteiraples
eita
2025-05-01
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Saaviih
amandooo!!!!!
2025-04-30
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