A semana segue, arrastada, até que no sábado de manhã a cafeteria enche de vozes femininas e risadas altas. Um grupo animado entra, sacudindo o silêncio que me embalava. Luana corre até elas, abraços, cumprimentos e risos. Reconheço de relance algumas amigas dela.
Volto à máquina de café, focando nos pedidos que já começam a se acumular, quando uma voz conhecida me arranca dos pensamentos:
— Grazi?
Viro-me rapidamente. É Lúcia. Sorrindo como se a semana não tivesse passado, como se tudo ainda estivesse fresco entre nós.
— Quero um café bem forte — ela diz, encostando no balcão. — A Luana me contou que o seu é o melhor.
Sorrio sem jeito, surpresa por vê-la ali.
— Bom dia... eu não te vi entrando. Vou preparar agora.
Ela se afasta do grupo e senta no banco do balcão, como se quisesse mesmo ficar longe. Como se tivesse vindo por mais do que um café. Enquanto preparo a bebida, ela me observa, e a conversa se encaixa de forma natural:
— Você está bem? — pergunta, com aquela gentileza firme de quem realmente quer saber.
— Estou... e você?
— Também. A Luana me convidou para sair com vocês.
— Ela comentou que queria marcar alguma coisa... já te disse o dia?
Lúcia vira a cabeça para olhar Luana do outro lado da cafeteria e ri, balançando negativamente:
— Não marcou ainda. Mas eu aceitei. E você... aceitou?
— Eu vou... tentar ir.
Entrego o café a ela, tentando disfarçar o pequeno tremor que me toma por dentro.
— Obrigada — ela diz, pegando o copo com cuidado. — Foi bom te ver.
Ela se levanta, dá mais um sorriso e retorna ao grupo, que logo sai da cafeteria, provavelmente indo correr no parque ali perto. Agora faz sentido o visual esportivo e o ar matinal. Mas tudo que consigo pensar, enquanto a observo se afastar, é que a presença dela parece um eco — silencioso, mas persistente.
E que mesmo na distância, Lúcia continua mexendo comigo de um jeito que eu ainda não sei explicar.
No meio do expediente, enquanto atendo uma cliente no balcão, um entregador entra com um enorme buquê de flores e uma caixa de chocolates. Meus olhos se arregalam antes mesmo de ouvir meu nome ser chamado. Todos os olhares se voltam para mim, sorrisos curiosos e comentários soltos se espalham pelo ambiente.
— Nossa, Grazi, você é uma mulher de sorte — comenta uma senhora, sorrindo com simpatia. — Tem alguém aí que te ama muito.
Sorrio amarelo, tentando disfarçar a vergonha que me queima o rosto. Agradeço, sem saber exatamente o que dizer. Por mais que eu já tenha dito várias vezes que não gosto desse tipo de demonstração em público, Vitória insiste. Como se quisesse deixar sua marca sobre mim, como se quisesse provar para o mundo — ou pra mim mesma — que estou com ela.
Assim que tenho um momento livre, ligo para agradecer.
— Recebi as flores. E os chocolates.
— Gostou? Queria te surpreender — responde, animada.
— Sim, obrigada. Mas... da próxima vez, talvez algo mais discreto, tá?
Ela dá uma risadinha abafada e muda de assunto. Eu desligo e volto ao trabalho, tentando sacudir o incômodo que ficou preso no estômago.
Mais tarde, já em casa, Vitória chega antes de mim. Mal cruzo a porta e ela já está me beijando, com pressa, com uma fome que não me alcança. Suas mãos tiram minha roupa sem perguntar se eu quero, e eu não digo não. Não estou no clima, meu corpo está ausente, mas deixo as coisas acontecerem. Tento pensar em outra coisa, em qualquer lugar. Cada toque dela me dá uma sensação de desconforto, como se minha pele soubesse o que eu ainda não tive coragem de admitir. Finjo gemidos para que ela não perceba o quanto estou longe dali.
Depois, deitamos em silêncio. Ainda nua, encaro o teto e tento reunir coragem para dizer:
— Semana que vem eu vou sair com a Luana.
Ela vira para mim, o rosto já se fechando.
— Posso ir?
— Não, Vitória. Eu quero sair com a minha amiga, só nós duas.
— Você já foi sozinha pro aniversário dela. Não precisa sair de novo.
— Mas eu quero. O que custa?
Ela se senta na cama, encarando-me como se eu tivesse confessado um crime.
— Vocês têm um caso?
— Claro que não! — respondo, irritada. — Isso é só coisa da sua cabeça.
— Se você for... eu vou também.
Suspiro fundo. Sinto a raiva, a frustração e o cansaço como um peso sobre o peito.
— Então eu não vou mais.
Me levanto, ainda nua, e sigo até o banheiro. Ouço seus passos atrás de mim.
— Quer dizer que vai deixar de sair só porque eu vou? — pergunta, num tom mais acusatório do que curioso.
— Sim. Porque eu quero sair com as minhas amigas. Não com você.
— Mas você tem que entender que é comprometida, Grazi. Você não é mais solteira.
Não respondo. Estou cansada. De discutir, de justificar, de me explicar. Entro no chuveiro e deixo a água escorrer como se pudesse me lavar de tudo isso.
Ela entra no banheiro pouco depois, tenta me tocar, mas dessa vez eu recuo.
— Não, Vitória. Hoje não.
Ela não insiste. Apenas se encosta na parede e, lentamente, começa a se masturbar diante de mim, como se quisesse provocar ou reafirmar algum tipo de poder. Assisto à cena em silêncio, sem saber o que sentir. Depois, saio do banheiro, visto uma camiseta larga e me deito.
Não demora muito para o sono me vencer. Estou exausta demais para pensar, sentir ou reagir.
Só quero dormir.
Para esquecer esse dia — e essa noite horrível — tento buscar qualquer coisa que acalme meus pensamentos. O nó na garganta se forma silenciosamente, pesado, como se me sufocasse de dentro para fora. Sinto meu peito apertar e a vontade de chorar vem, mas seguro. Não porque quero ser forte, mas porque estou exausta até mesmo para isso.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Barbara Coveteiraples
Grazi não precisa pedir permissão, só vai
2025-05-15
0
Saaviih
história maravilhosaaaaa /Smile/
2025-04-30
0
Maria Andrade
estou amando a história
2025-04-26
1