A noite pulsava nas luzes vermelhas da boate Eden Rosso, o cassino abaixo fervilhava de risos, apostas e bebidas. No andar superior, dentro de um escritório de luxo com vista para o salão principal, Alerrandro Navarro observava tudo com um copo de uísque na mão. O cheiro de charuto preenchia o ar, e o som abafado da música eletrônica vibrava nas paredes.
O silêncio tenso foi quebrado quando Rafael Montello apareceu na porta. Seus olhos frios, tão cortantes quanto suas ações, encararam o patrão com firmeza.
— Senhor, Rogério está aqui. Disse que precisa falar com urgência.
Alerrandro ergueu uma sobrancelha, sem desviar o olhar da janela.
— Manda entrar... — disse, sem emoção.
Rogério entrou com o passo apressado, nervoso, com os olhos vasculhando a sala como se esperasse uma emboscada.
— Senhor Alerrandro, obrigado por me receber.
O mafioso se virou lentamente, apoiando o copo na mesa de vidro.
— Você veio pedir mais dinheiro, não foi? — disse com voz baixa, firme. — Já me deve mais do que pode pagar. Sabe disso, não sabe?
Rogério engoliu seco, puxando o boné para frente.
— Eu juro que vou pagar... só preciso de mais um pouco... só mais uma chance... Eu... tive azar nas cartas.
Alerrandro caminhou até ele com calma, como um predador estudando a presa. Parou a poucos passos, os olhos intensos como fogo sob o gelo.
— Você acha que azar é justificativa? — perguntou em tom quase calmo. — Dinheiro meu não é esmola, Rogério. É um laço. E você já está enforcado nele.
Rogério tentou sorrir, nervoso.
— Eu só quero tentar reverter. Ganhar de volta. Prometo que pago.
Rafael, atrás dele, deu um passo. Sua simples presença fazia o ar da sala pesar.
Alerrandro se inclinou, com um leve sorriso cruel.
— Tudo bem. Eu vou te dar mais uma chance... — sua voz cortava como lâmina. — Mas se perder de novo... vai pagar com outra coisa.
O silêncio cortou o ar.
— Pode sair. Rafael vai te acompanhar até o caixa.
Rogério saiu com o coração batendo descompassado. Alerrandro voltou ao copo de uísque e o olhar frio.
— Esses homens quebrados sempre acham que podem trapacear o destino... — murmurou.
A noite em Napoli ainda estava só começando. E o preço do vício seria cobrado com juros.
Rafael desceu os degraus do corredor principal da boate Eden Rosso com a calma de quem carrega morte nos bolsos e não teme ninguém. Passou pelos corredores vermelhos, iluminados por luzes neon, até chegar ao caixa fortemente vigiado.
A atendente, uma moça de rosto sério, já sabia do que se tratava. Sem fazer perguntas, abriu o cofre e entregou a Rafael um maço envolto em faixa preta — R$40 mil em dinheiro vivo.
Rafael virou-se e entregou sem cerimônia para Rogério.
— Aqui está... a última aposta da sua vida. — disse com a voz gelada.
Rogério pegou o dinheiro com as mãos trêmulas, os olhos brilhando com a falsa esperança. Em poucos segundos, se perdeu entre as mesas de apostas do cassino, onde luzes dançavam sobre rostos ansiosos e mãos moviam fichas como se pudessem moldar o destino.
Rafael apenas observou por um instante... e voltou.
Subiu novamente, atravessou os corredores da boate — que agora pulsava com batidas eletrônicas, corpos dançando, e bebida escorrendo como veneno doce. Mulheres com vestidos brilhantes e homens engravatados se misturavam, rindo, jogando, bebendo, como se a vida fosse eterna.
Ao entrar na sala de Alerrandro, Rafael encontrou o chefe recostado em sua poltrona de couro preto, com um copo de uísque escuro na mão.
Alerrandro levantou os olhos, seu semblante frio como sempre.
— Entregou o dinheiro? — perguntou com calma.
— Sim. Ele foi direto pro jogo. — Rafael sentou-se no sofá lateral da sala, como de costume.
Alerrandro serviu mais um copo e empurrou para Rafael.
— Beba. Hoje está cheio, e cheio de otários.
Rafael pegou o copo e assentiu, os dois brindaram em silêncio. Do lado de fora, o som da música vibrava, abafado, mas constante. As luzes da cidade de Nápoles piscavam como estrelas decadentes de um céu corrompido.
— Alguma movimentação estranha? — perguntou Alerrandro.
— Nada ainda... Só ganância. E ganância é previsível. — respondeu Rafael.
Alerrandro sorriu de lado.
— É previsível... é útil.
Os dois brindaram novamente, enquanto, no andar de baixo, Rogério fazia sua primeira aposta — talvez a última.
A noite de Napoli continuava... cruel, quente e perigosa.
A noite avançava sem piedade em Napoli. O céu, escuro como os pecados escondidos naquelas ruas, parecia observar em silêncio tudo o que acontecia.
No interior da boate Eden Rosso, Rogério, com os olhos vermelhos e as mãos suadas, continuava jogando e perdendo. Cada ficha que caía na mesa era mais um suspiro de desespero, mais uma promessa vazia feita em nome da sorte que nunca vinha.
Até que, em um impulso covarde, ele se levantou devagar, olhou em volta, e saiu de fininho, como um rato fugindo do próprio destino.
Horas depois, no andar superior, Alerrandro estava recostado na poltrona de couro, conversando calmamente com Rafael, quando bateram à porta.
— Entre — disse Alerrandro, sem tirar os olhos do copo.
A porta se abriu e Cassandra entrou. Uma mulher de beleza fria, cabelos negros amarrados em um coque apertado e olhos atentos como os de uma águia. Ela era a crupiê da mesa principal, e sua presença ali não era comum.
— Senhor Alerrandro... o Rogério perdeu tudo novamente. — disse com a voz baixa, porém firme. — No total... já passa dos quinhentos mil.
O silêncio pairou por segundos. Rafael fitou o chefe. Alerrandro apenas sorriu de canto, um sorriso que não tocava nos olhos.
— Ele fugiu? — perguntou Alerrandro.
— Sumiu há horas.
Alerrandro se ergueu lentamente da poltrona, serviu mais um uísque e deu um gole, os olhos distantes.
— Rafael... descubra onde ele mora. — disse com a voz calma como um túmulo aberto. — Amanhã, depois do jantar na Cantina Santo Maré, faremos uma visita.
Rafael assentiu, e antes de sair, Alerrandro completou:
— E mande chamar o Matheus... quero ele comigo nessa.
Rafael parou na porta, olhou para trás.
— "Teo" Vellardi?
— Ele mesmo. O cérebro. — Alerrandro virou o copo num só gole. — É hora de mostrar que dívidas comigo não se cobram em silêncio.
Rafael saiu sem dizer mais nada.
Matheus Vellardi, conhecido no submundo como “Teo”, era o tipo de homem que fazia até os próprios aliados mudarem de calçada. Calculista, metódico, torturava a verdade com prazer e só puxava o gatilho quando tudo que queria saber já tinha sido dito. Tinha um olhar vazio, como se a alma tivesse partido há muito tempo.
Naquela noite, enquanto a cidade de Napoli dormia, a sentença de Rogério já havia sido assinada.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Marilena Yuriko Nishiyama
AFF pelo visto esse Rogério é um idiota por ter perdido tanto dinheiro assim,pelo visto ele irá perder a vida ou ele oferecerá algo em troca para o mafioso Alerrandro
2025-04-27
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S.Kalks
Confia, ele vai pagar tudinho, se eu fosse tu, arrancava um dedo dele ou melhor uma mão
2025-05-05
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Jéssica Bacchiega
Cuidado vai morrer esse será seu fim.
2025-05-02
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