Encantado pela mulher de vermelho

Estevan...

Eu não estava procurando nada. Caminhava pelo deck da piscina em silêncio, como sempre faço nas primeiras noites de viagem — observando as pessoas, sentindo o ar do mar, tentando me desconectar da vida lá fora.

Foi quando a vi.

Deitada numa espreguiçadeira, sozinha, vestindo um vermelho que parecia ter sido pintado à mão para ela. Os cabelos soltos, levemente bagunçados pelo vento. Os pés descalços, o vestido subindo um pouco pelas pernas, e um sorriso no rosto... um daqueles sorrisos que a gente não vê com frequência. Um sorriso verdadeiro, quase infantil, como quem acabou de se libertar de alguma coisa muito pesada.

Ela não me viu. Estava ocupada olhando as estrelas, rindo sozinha, como se conversasse com o universo.

E, por um instante, tive vontade de saber o que ela tinha contado às estrelas para receber um riso tão leve em troca.

Havia algo nela que prendia o olhar. Não era apenas beleza. Era presença. Era a sensação de que aquela mulher — perdida, talvez — estava se encontrando ali mesmo, diante dos meus olhos.

A mulher de vermelho.

Tão intensa, tão solta, tão diferente de tudo que eu já conheci.

E eu fiquei ali, parado, observando de longe.

Com uma certeza silenciosa crescendo no peito:

a história dela tinha algo que eu queria descobrir.

Não sei quanto tempo fiquei ali, parado, só observando. O navio balançava levemente e as luzes suaves da piscina refletiam no rosto dela como num quadro. Parecia cena de filme.

Pensei em ir embora. Em deixar aquela imagem guardada só pra mim. Mas algo me puxava. A curiosidade. Ou talvez aquela sensação estranha de que, se eu fosse embora, perderia algo importante — não uma chance romântica, mas um encontro de alma.

Então respirei fundo, tomei coragem e me aproximei devagar. Sem querer assustar. Sem parecer intrometido.

Ela me ouviu chegando, virou o rosto e me olhou. O sorriso ainda estava lá. Um pouco mais contido, agora curioso.

— Desculpa interromper — falei, com um meio sorriso. — Mas você parece estar se divertindo muito sozinha.

Ela riu de novo. Dessa vez para mim.

— Me perdi — ela disse. — Literalmente. Não faço ideia de onde está minha cabine. Mas estou bem aqui.

— Pelo menos se perdeu com estilo — brinquei, apontando para o vestido vermelho. — Difícil não notar você.

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

— Isso é um elogio?

— É uma constatação — respondi. — Você tem algo... luminoso. Como se tivesse acabado de se libertar de uma prisão invisível.

Ela me encarou por um segundo mais longo. Como se minhas palavras tivessem tocado num lugar que ninguém mais sabia alcançar.

— Talvez eu tenha — disse ela, mais para o céu do que para mim. — E talvez seja a primeira noite em que percebo isso.

Sentei na espreguiçadeira ao lado. Não pedi permissão, mas também não invadi. Apenas fiquei ali. Ao lado dela. Sob as mesmas estrelas.

E, naquele silêncio confortável que só existe entre dois desconhecidos destinados a se reconhecer, eu soube: aquela mulher de vermelho ainda não sabia, mas estava prestes a mudar o rumo da minha viagem.

E talvez, da minha vida.

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Comments

Ales ✨️

Ales ✨️

Poético 💜

2025-04-24

1

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