Capítulo 5 – Raízes Profundas

A floresta parecia mais densa naquela semana.

As árvores se inclinavam como se sussurrassem segredos antigos. O chão úmido sugava os passos, e o céu, sempre encoberto por nuvens espessas, mergulhava tudo em uma penumbra constante. O mundo de Luna agora era feito de cinza, verde musgo e o cheiro metálico do sangue impregnado nas raízes.

Depois da morte do policial Elias, algo se quebrou de vez dentro dela. E também dentro dele.

Ele estava mais silencioso. Passava longos períodos longe, caçando, vigiando. Quando voltava, seus olhos vinham carregados de lama e ira. Ela sabia o que ele fazia. Sabia que outros homens estavam desaparecendo.

— Estão atrás de você — disse Ele, certa noite, enquanto afiava a lâmina do machado sob a luz fraca da fogueira. — Não vão parar.

Luna não perguntou quem eram. Não queria saber. Os nomes não importavam. Nenhum deles sobreviveria.

Ele a olhou, olhos cravados como espinhos.

— Mas você tá segura. Comigo, você tá segura.

Ela tentou sorrir, mas seus lábios estavam secos. Tudo em volta dela parecia murchar, menos aquele homem — aquele predador. Ele florescia com a violência. Era como se a morte o alimentasse.

E, no fundo... ela começava a entender.

Certa manhã, Luna despertou com um som diferente.

Não eram os passos pesados de Ele. Nem o vento sacudindo folhas.

Era uma voz. Fraca. Chorosa.

Ela saiu do abrigo devagar, os pés descalços, coração batendo descompassado. Escondeu-se entre arbustos baixos e procurou a origem do som.

Foi quando viu.

Uma mulher. Magra, os cabelos desgrenhados, roupas de campanha. Estava amarrada a uma árvore, com os pulsos feridos e os olhos cheios de pavor.

— Socorro... por favor... tem alguém aí? — sussurrava.

Luna congelou.

A mulher a viu.

— Você... você é a menina... Luna?

Ela não respondeu.

— Eu sou policial. Meu nome é Juliana. A gente veio procurar você. Por favor, me ajuda... ele me pegou quando eu me afastei do grupo...

Os olhos de Luna se encheram de lágrimas.

A mulher parecia sincera. Assustada. Frágil.

Luna olhou ao redor. Ele não estava por perto.

Ela se aproximou, hesitante.

— Por favor — insistiu Juliana. — Me solta... a gente pode sair daqui juntas. Você não precisa viver assim.

As palavras bateram fundo.

Você não precisa viver assim.

Era verdade?

Luna ajoelhou e começou a soltar os nós da corda. As mãos tremiam.

Foi quando ouviu o estalo de um galho.

Ela virou a cabeça devagar. Sentiu o ar gelar.

Ele estava lá.

Imóvel. O machado na mão. A sombra cobrindo o rosto. Os olhos... vazios.

Luna tentou explicar. Mas não saiu som.

Ele olhou para a mulher, depois para Luna.

— Por quê?

Foi tudo que disse. A voz baixa, doída.

— Ela tava pedindo ajuda... — murmurou Luna.

— E você queria ir com ela?

Luna ficou em silêncio.

A mulher implorava:

— Por favor... não... não me mata...

Ele não respondeu. Só caminhou até Luna. Pegou-a pelo braço com firmeza, mas sem machucar.

— Vai pra cabana.

— Não... — ela tentou resistir. — Não faz isso...

— VAI! — gritou.

Ela recuou, chorando, e correu.

Atrás dela, o grito da mulher se perdeu no som do machado.

Naquela noite, Luna não comeu. Ficou encolhida no canto do abrigo, o corpo tremendo.

Ele chegou horas depois. As mãos e a roupa cobertas de sangue. Sem dizer palavra, sentou-se ao lado dela.

Por um tempo, só houve silêncio.

Então, ele falou.

— Eu achei que... que você entendia.

Ela olhou para ele, os olhos cheios de dor e raiva.

— Eu entendo. É por isso que dói.

Ele suspirou.

— Você vai me deixar?

Luna não respondeu.

— Não quero te prender — ele continuou. — Mas se você sair... eles vão te machucar. E eu não vou poder proteger você.

Ela sentiu o nó na garganta apertar.

— E se eu quiser proteger você?

Ele a olhou como se não entendesse. Como se ninguém nunca tivesse dito aquilo pra ele.

— Você... me proteger?

— Sim. Te proteger de você mesmo.

Ele ficou em silêncio. Depois encostou a testa na dela, os olhos fechados.

— Eu não sei ser diferente, Luna.

Ela também não sabia mais.

Nos dias seguintes, Luna começou a sonhar.

Sonhava que caminhava por uma floresta diferente. As árvores tinham olhos. O chão era feito de carne. E o céu chorava sangue.

Nesses sonhos, ela usava o machado. E sorria.

Acordava suando, o peito ofegante.

Estava se transformando. Sentia isso.

A cada pessoa que morria, a floresta parecia mais viva.

A cada sangue derramado, ela sentia menos culpa.

E a cada noite ao lado dele... mais segurança.

Mais pertencimento.

Na tarde do sétimo dia, ouviu-se um novo som.

Vários passos. Vozes.

Uma equipe.

Ele já sabia. Tinha preparado armadilhas ao redor. Mas dessa vez, não parecia ansioso. Nem irritado. Estava... calmo.

— Eles estão vindo pra te levar — disse a ela. — Você tem uma escolha, Luna.

Ela olhou para ele. Para o machado ao lado. Para a trilha escondida atrás do abrigo.

Tinha mesmo?

Ele se aproximou. Tocou seu rosto com cuidado.

— Se você quiser ir, eu deixo.

— E o que você vai fazer?

— Vou sumir. Como sempre fiz.

Luna sentiu uma dor aguda no peito.

A escolha estava ali. Escancarada.

Liberdade.

Ou Ele.

Mundo real.

Ou floresta.

Ela se levantou, respirou fundo, e caminhou até o som das vozes. Os arbustos se abriram. Homens armados apontaram suas armas.

— MENINA! DEITA NO CHÃO!

Ela levantou as mãos, os olhos ainda fixos no abrigo atrás dela.

— Estou desarmada.

— ONDE ELE ESTÁ?

Ela olhou para trás.

O abrigo... vazio.

Ele havia sumido.

Como sempre fez.

Horas depois, Luna foi levada para a cidade. Passou por exames. Psicólogos. Perguntas. Inúmeras perguntas.

Ela respondeu todas com calma. Como se estivesse ali... mas não inteiramente.

Sua irmã veio visitá-la. Abraçou-a com força.

Mas Luna sentiu que já não pertencia mais àquele mundo.

À noite, quando ficou sozinha no quarto do abrigo temporário, ela olhou pela janela.

E sussurrou para o escuro:

— Você vai voltar, não vai?

A floresta não respondeu.

Mas Luna sabia.

Ele sempre voltava.

E quando o fizesse... ela estaria pronta.

Talvez para fugir com ele.

Ou para se tornar algo pior.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Menina e o Monstro
2 Capítulo 2 – Um Homem de Farda
3 Capítulo 3– O Som da Mente Partida
4 Capítulo 4 – Corações Corrompidos
5 Capítulo 5 – Raízes Profundas
6 Capítulo 6 – Cicatrizes Invisíveis
7 Capítulo 7 - Ecos no Escuro
8 Capítulo 8 – O Som dos Ossos Quebrando
9 Capítulo 9 – O Batismo da Floresta
10 Capítulo 10 – Passos de Fora
11 Capítulo 11 – Raízes de Sangue
12 Capítulo 12 — Sangue no Silêncio
13 Capítulo 13 – Agora Ele Revela o Seu. Rosto
14 Capítulo 14 – O Peso do Nome
15 Capítulo 15 – Vozes na Névoa
16 Capítulo 16 – O Pecado na Margem
17 Sombras na Névoa
18 Capítulo 18 — A Marca
19 Capítulo 19 – O Sussurro das Raízes
20 Capítulo 20 – Sussurros na Escuridão
21 Capítulo 21 – Ecos do Passado
22 Capítulo 22 – Fronteiras e Ruínas
23 Capítulo 23 – Os Demônios que Dormem
24 Capítulo 24 – O Coração de um Monstro
25 Capítulo 25 – O Peso do Amor
26 Capítulo 26 – O Peso do Passado
27 apítulo 27 – O Monstro Dentro
28 Capítulo 28 – A Luta pela Liberdade
29 Capítulo 29 – Ecos do Passado
30 Capítulo 30 – Um Compromisso Silencioso
31 Capítulo 31 – O Voto Silencioso
32 Capítulo 32 – A Trilha do Mar
33 Capítulo 33 – Sombras do Passado
34 Capítulo 34 – A Entrega ao Desejo
35 Capítulo 35 – Entre o Desejo e a Verdade
36 Capítulo 36 – Sinais na Areia
37 Capítulo 37 – Deixando o Passado para Trás
38 Capítulo 40 – Dois Corações
39 Capítulo 39– Doce Silêncio
40 Capítulo 40 – Mudanças
41 Capítulo 41 – Azul ou Rosa?
42 Capítulo 42 – O Quarto dos Sonhos
43 Capítulo 43 – Um Nome para a Luz
44 Capítulo 44 – O Susto
45 Capítulo 45 – Silêncios e Promessas
46 Capítulo 46 – Preparativos Finais
47 Capítulo 47 – O Parto
48 Capítulo 48 – Papai Superprotetor, Ciumento e Bobão
49 Capítulo 49 – A Adaptação de Pais
50 Capítulo 50 – O Fim
51 Agradecimentos Finais
Capítulos

Atualizado até capítulo 51

1
Capítulo 1 – A Menina e o Monstro
2
Capítulo 2 – Um Homem de Farda
3
Capítulo 3– O Som da Mente Partida
4
Capítulo 4 – Corações Corrompidos
5
Capítulo 5 – Raízes Profundas
6
Capítulo 6 – Cicatrizes Invisíveis
7
Capítulo 7 - Ecos no Escuro
8
Capítulo 8 – O Som dos Ossos Quebrando
9
Capítulo 9 – O Batismo da Floresta
10
Capítulo 10 – Passos de Fora
11
Capítulo 11 – Raízes de Sangue
12
Capítulo 12 — Sangue no Silêncio
13
Capítulo 13 – Agora Ele Revela o Seu. Rosto
14
Capítulo 14 – O Peso do Nome
15
Capítulo 15 – Vozes na Névoa
16
Capítulo 16 – O Pecado na Margem
17
Sombras na Névoa
18
Capítulo 18 — A Marca
19
Capítulo 19 – O Sussurro das Raízes
20
Capítulo 20 – Sussurros na Escuridão
21
Capítulo 21 – Ecos do Passado
22
Capítulo 22 – Fronteiras e Ruínas
23
Capítulo 23 – Os Demônios que Dormem
24
Capítulo 24 – O Coração de um Monstro
25
Capítulo 25 – O Peso do Amor
26
Capítulo 26 – O Peso do Passado
27
apítulo 27 – O Monstro Dentro
28
Capítulo 28 – A Luta pela Liberdade
29
Capítulo 29 – Ecos do Passado
30
Capítulo 30 – Um Compromisso Silencioso
31
Capítulo 31 – O Voto Silencioso
32
Capítulo 32 – A Trilha do Mar
33
Capítulo 33 – Sombras do Passado
34
Capítulo 34 – A Entrega ao Desejo
35
Capítulo 35 – Entre o Desejo e a Verdade
36
Capítulo 36 – Sinais na Areia
37
Capítulo 37 – Deixando o Passado para Trás
38
Capítulo 40 – Dois Corações
39
Capítulo 39– Doce Silêncio
40
Capítulo 40 – Mudanças
41
Capítulo 41 – Azul ou Rosa?
42
Capítulo 42 – O Quarto dos Sonhos
43
Capítulo 43 – Um Nome para a Luz
44
Capítulo 44 – O Susto
45
Capítulo 45 – Silêncios e Promessas
46
Capítulo 46 – Preparativos Finais
47
Capítulo 47 – O Parto
48
Capítulo 48 – Papai Superprotetor, Ciumento e Bobão
49
Capítulo 49 – A Adaptação de Pais
50
Capítulo 50 – O Fim
51
Agradecimentos Finais

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