Capítulo 2 – Um Homem de Farda

A floresta andava mais silenciosa do que o normal. Nem mesmo o canto noturno das corujas se ouvia. Luna notou isso enquanto lavava o rosto no riacho. A água estava gelada, cortante, mas trazia um certo alívio à cabeça confusa. Os dias ali dentro pareciam um borrão. A floresta já não assustava tanto. Ela conhecia suas trilhas, seus cheiros, os pontos onde podia encontrar frutas silvestres e raízes comestíveis. E conhecia... Ele.

Ele, que a observava mesmo quando ela não o via. Que aparecia do nada, com a roupa suja de lama e os olhos fundos, dizendo que "estava tudo sob controle". Que dormia perto o suficiente pra protegê-la, mas distante o bastante pra não tocar. Ainda assim, havia uma tensão no ar sempre que estavam juntos — um fogo contido, prestes a se espalhar pela mata inteira.

Naquela manhã, Luna acordou com o som de passos. Mas não eram os dele.

Eram pesados. Tensos. Medidos.

Ela ficou em silêncio, deitada sob as folhas que cobriam seu abrigo subterrâneo improvisado. Cada centímetro do seu corpo parecia saber que algo estava errado.

Segundos depois, Ele apareceu. Os olhos semicerrados. A mandíbula travada.

— Não saia daqui — disse apenas, e sumiu entre os arbustos.

Luna ficou imóvel, o coração martelando no peito. Ela não sabia o que temer mais: o que se aproximava... ou o que Ele faria com isso.

O homem que entrara na floresta se chamava Elias Figueira. Policial veterano, quarenta e dois anos de idade, casado, pai de duas filhas. Um homem bom, de coração justo. Mas cansado. Cansado de ver crianças sumirem. De ver corpos serem encontrados em valas. De sentir o cheiro da morte todo dia no trabalho e não fazer ideia de onde ela vinha.

Os assassinatos recentes haviam se espalhado como uma praga. Primeiro o padrasto da garota Luna. Depois, um vizinho. Um segurança. Dois guardas da cidade sumiram após uma patrulha próxima à floresta. A única ligação entre os casos? Todos tinham alguma conexão com Luna.

E então, ela também desapareceu.

"Não é coincidência", pensou Elias. "Alguém a levou. Ou ela fugiu... e achou coisa pior."

Elias caminhava lentamente, arma em punho, olhos varrendo o terreno. A floresta era espessa, sufocante. Cada árvore parecia esconder olhos. O suor escorria pelas têmporas mesmo com o frio. Ele havia deixado seu carro a dois quilômetros da entrada, escondido. Viera sozinho — contra ordens superiores. Sabia que, com uma equipe, o “alvo” fugiria. Mas sozinho... poderia surpreender.

Ele não esperava ver Luna.

Muito menos daquele jeito.

Ela estava sentada em uma pedra coberta de musgo, os cabelos desgrenhados, as roupas sujas, mas o olhar... aquele olhar calmo, como se fosse parte da floresta.

— Luna?

Ela se virou devagar. Parecia reconhecer a voz. Seus olhos se arregalaram por um instante, depois voltaram ao normal.

— Você... é policial?

— Sim. Sou Elias. Tô aqui pra te levar de volta. Você tá segura agora. Vamos pra casa, tá?

Ela não respondeu.

— A sua irmã está bem. Está sendo cuidada por assistentes sociais. Você pode vê-la, Luna. Mas precisamos sair daqui.

Ela deu um passo para trás.

— Não posso ir.

— Por quê?

— Ele tá aqui.

— Quem?

Luna engoliu seco.

— Você precisa ir embora. Agora.

— Luna, você não entende. Esse homem é perigoso. Você tá assustada. Vem comigo, por favor. Eu juro que vou te proteger.

— Já sou protegida.

A voz dela saiu firme.

Foi nesse momento que Elias percebeu.

Ela não estava com medo. Não daquele lugar. E talvez... não dele.

Estava com medo do que aconteceria com ele.

O som do machado cortando o ar foi mais rápido que o grito.

Elias teve apenas tempo de virar o rosto e ver a sombra surgir entre os arbustos. A lâmina acertou o ombro dele em cheio, abrindo um corte profundo. Ele caiu de joelhos, a arma escorregando da mão.

Ele surgiu de pé, imponente, os olhos cravados no policial.

— Eu avisei. — murmurou.

— Desgraçado... — Elias tentou alcançar a arma, mas a bota do assassino esmagou seus dedos antes que pudesse tocar no cabo.

— Você veio pegar o que é meu. — a voz dele era baixa, controlada, mas fervia por dentro.

— Ela não é sua... é só uma menina...

A lâmina voltou a subir.

Luna gritou.

— PARE!

Ele parou. A lâmina suspensa no ar, tremendo nas mãos.

— Por favor... — ela sussurrou. — Não faça isso.

Os olhos dele encontraram os dela. Por um momento, houve hesitação. Um segundo apenas.

Mas foi o suficiente para Elias agarrar a arma e atirar.

O tiro pegou de raspão no abdômen de "Ele". Ele cambaleou para trás, rosnando como um animal ferido. Mas não caiu. O machado girou, e desta vez, Elias não teve chance.

O corte foi preciso. Frio. Silencioso.

O corpo caiu lentamente, como se o tempo tivesse desacelerado só para Luna assistir.

Ela correu para ele, mesmo sabendo que já era tarde. Elias ainda estava consciente, por um fio.

— Ele vai... te destruir — murmurou, o sangue escorrendo da boca.

Ela segurou a mão dele com força. Chorava, mas não por ele. Chorava pelo que se tornava. Pelo que aceitava. Pelo que estava perdendo dentro de si.

Ele se aproximou por trás. Colocou uma das mãos ensanguentadas no ombro dela.

— Eu disse que ninguém vai te tirar de mim.

Ela não respondeu. Apenas ficou ali, ajoelhada, olhando os olhos do policial apagarem.

E no fundo, uma parte dela... sentiu alívio.

Não porque Elias morreu.

Mas porque agora, não havia mais volta.

Naquela noite, a floresta parecia mais viva do que nunca. Os galhos se mexiam sem vento. Os grilos se calaram. E a Lua, cheia no céu, observava a cena lá de cima como uma testemunha silenciosa.

Ele cavou uma cova funda com as próprias mãos. Luna ajudou a cobrir o corpo com terra. Nenhum deles falou durante horas.

Quando o trabalho terminou, ela sentou-se na beira do buraco e olhou para as mãos cobertas de sangue seco e lama. Estavam tremendo.

— Isso vai acontecer sempre? — perguntou.

— Enquanto tentarem te levar, sim.

— E se um dia... eu quiser ir?

Ele a olhou com algo entre dor e fúria.

— Você não vai.

Silêncio.

Ela não disse que sim. Não disse que não.

Naquela noite, dormiram lado a lado. A mão dele repousava sobre a dela. E embora o corpo estivesse ali, a mente de Luna vagava por lugares que ela não sabia se existiam mais.

"Sou prisioneira?", pensava.

"Ou parte disso?"

As folhas sussurravam sobre amor e sangue.

E a floresta, cúmplice de tudo, os acolhia como seus novos filhos.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Menina e o Monstro
2 Capítulo 2 – Um Homem de Farda
3 Capítulo 3– O Som da Mente Partida
4 Capítulo 4 – Corações Corrompidos
5 Capítulo 5 – Raízes Profundas
6 Capítulo 6 – Cicatrizes Invisíveis
7 Capítulo 7 - Ecos no Escuro
8 Capítulo 8 – O Som dos Ossos Quebrando
9 Capítulo 9 – O Batismo da Floresta
10 Capítulo 10 – Passos de Fora
11 Capítulo 11 – Raízes de Sangue
12 Capítulo 12 — Sangue no Silêncio
13 Capítulo 13 – Agora Ele Revela o Seu. Rosto
14 Capítulo 14 – O Peso do Nome
15 Capítulo 15 – Vozes na Névoa
16 Capítulo 16 – O Pecado na Margem
17 Sombras na Névoa
18 Capítulo 18 — A Marca
19 Capítulo 19 – O Sussurro das Raízes
20 Capítulo 20 – Sussurros na Escuridão
21 Capítulo 21 – Ecos do Passado
22 Capítulo 22 – Fronteiras e Ruínas
23 Capítulo 23 – Os Demônios que Dormem
24 Capítulo 24 – O Coração de um Monstro
25 Capítulo 25 – O Peso do Amor
26 Capítulo 26 – O Peso do Passado
27 apítulo 27 – O Monstro Dentro
28 Capítulo 28 – A Luta pela Liberdade
29 Capítulo 29 – Ecos do Passado
30 Capítulo 30 – Um Compromisso Silencioso
31 Capítulo 31 – O Voto Silencioso
32 Capítulo 32 – A Trilha do Mar
33 Capítulo 33 – Sombras do Passado
34 Capítulo 34 – A Entrega ao Desejo
35 Capítulo 35 – Entre o Desejo e a Verdade
36 Capítulo 36 – Sinais na Areia
37 Capítulo 37 – Deixando o Passado para Trás
38 Capítulo 40 – Dois Corações
39 Capítulo 39– Doce Silêncio
40 Capítulo 40 – Mudanças
41 Capítulo 41 – Azul ou Rosa?
42 Capítulo 42 – O Quarto dos Sonhos
43 Capítulo 43 – Um Nome para a Luz
44 Capítulo 44 – O Susto
45 Capítulo 45 – Silêncios e Promessas
46 Capítulo 46 – Preparativos Finais
47 Capítulo 47 – O Parto
48 Capítulo 48 – Papai Superprotetor, Ciumento e Bobão
49 Capítulo 49 – A Adaptação de Pais
50 Capítulo 50 – O Fim
51 Agradecimentos Finais
Capítulos

Atualizado até capítulo 51

1
Capítulo 1 – A Menina e o Monstro
2
Capítulo 2 – Um Homem de Farda
3
Capítulo 3– O Som da Mente Partida
4
Capítulo 4 – Corações Corrompidos
5
Capítulo 5 – Raízes Profundas
6
Capítulo 6 – Cicatrizes Invisíveis
7
Capítulo 7 - Ecos no Escuro
8
Capítulo 8 – O Som dos Ossos Quebrando
9
Capítulo 9 – O Batismo da Floresta
10
Capítulo 10 – Passos de Fora
11
Capítulo 11 – Raízes de Sangue
12
Capítulo 12 — Sangue no Silêncio
13
Capítulo 13 – Agora Ele Revela o Seu. Rosto
14
Capítulo 14 – O Peso do Nome
15
Capítulo 15 – Vozes na Névoa
16
Capítulo 16 – O Pecado na Margem
17
Sombras na Névoa
18
Capítulo 18 — A Marca
19
Capítulo 19 – O Sussurro das Raízes
20
Capítulo 20 – Sussurros na Escuridão
21
Capítulo 21 – Ecos do Passado
22
Capítulo 22 – Fronteiras e Ruínas
23
Capítulo 23 – Os Demônios que Dormem
24
Capítulo 24 – O Coração de um Monstro
25
Capítulo 25 – O Peso do Amor
26
Capítulo 26 – O Peso do Passado
27
apítulo 27 – O Monstro Dentro
28
Capítulo 28 – A Luta pela Liberdade
29
Capítulo 29 – Ecos do Passado
30
Capítulo 30 – Um Compromisso Silencioso
31
Capítulo 31 – O Voto Silencioso
32
Capítulo 32 – A Trilha do Mar
33
Capítulo 33 – Sombras do Passado
34
Capítulo 34 – A Entrega ao Desejo
35
Capítulo 35 – Entre o Desejo e a Verdade
36
Capítulo 36 – Sinais na Areia
37
Capítulo 37 – Deixando o Passado para Trás
38
Capítulo 40 – Dois Corações
39
Capítulo 39– Doce Silêncio
40
Capítulo 40 – Mudanças
41
Capítulo 41 – Azul ou Rosa?
42
Capítulo 42 – O Quarto dos Sonhos
43
Capítulo 43 – Um Nome para a Luz
44
Capítulo 44 – O Susto
45
Capítulo 45 – Silêncios e Promessas
46
Capítulo 46 – Preparativos Finais
47
Capítulo 47 – O Parto
48
Capítulo 48 – Papai Superprotetor, Ciumento e Bobão
49
Capítulo 49 – A Adaptação de Pais
50
Capítulo 50 – O Fim
51
Agradecimentos Finais

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