O segundo encontro aconteceu na biblioteca, em uma sala reservada para estudos em grupo. As paredes eram revestidas por estantes altas, o cheiro de papel antigo preenchia o ar, e o silêncio absoluto parecia um campo de batalha prestes a explodir.
Kai chegou atrasado. De novo.
Ayden já estava sentado, com os braços cruzados e o maxilar travado.
— Quinze minutos de atraso — ele disse, sem sequer virar o rosto. — Isso já diz tudo sobre sua ética.
Kai largou a mochila no chão e afundou na cadeira, relaxado demais para alguém que deveria estar se desculpando.
— Você deve ser ótimo em festas. Aquele cara que cronometra até o brinde.
— Eu sou o tipo de pessoa que respeita o tempo dos outros. Coisa que, claramente, você não aprendeu.
— Talvez porque o tempo comigo vale mais.
Ayden se virou, encarando-o com desprezo.
— Você realmente acha que esse charme barato funciona com todo mundo?
Kai deu um meio sorriso e se inclinou sobre a mesa, reduzindo a distância entre eles.
— Com todo mundo, não. Mas em você... parece despertar algo interessante.
Ayden recuou levemente, mas manteve a expressão fria.
— O que desperta em mim é vontade de gritar.
— Gritar... ou gemer?
Ayden piscou devagar, como se tentasse manter o controle. A provocação era constante, afiada como faca. Mas havia algo mais ali — uma tensão latente que nem ele conseguia explicar.
— Se está tentando me desestabilizar, vai ter que se esforçar mais — respondeu, enfim.
Kai deu de ombros, rindo baixinho.
— Ainda estamos só no esboço, príncipe.
Eles passaram os próximos minutos ajustando o conceito do projeto. A proposta final era ousada: dois painéis unidos por uma linha tênue, onde um representaria ordem absoluta e o outro, caos irrestrito. Cada um desenharia o oposto de si mesmo.
— Então eu fico com o caos — disse Ayden, sem hesitar.
Kai ergueu uma sobrancelha.
— Uau. Autoestima é algo curioso em você. Por que não faz o que sabe e me deixa com o caos?
— Porque eu quero o desafio. Ver o mundo como você o vê. Me provar que posso dominá-lo também.
— E eu vou tentar ser certinho, metódico e... entediante?
Ayden olhou para ele, com um leve arquejo no canto da boca. Não era bem um sorriso. Era um aviso.
— Surpreenda-me.
Por um segundo, o silêncio voltou. Mas agora ele carregava outra coisa. Não mais apenas provocação... havia uma curiosidade mútua, disfarçada de desafio.
— Você se leva a sério demais, sabia? — murmurou Kai, enquanto pegava um lápis do estojo de Ayden sem pedir.
— E você não se leva a sério o suficiente. Talvez seja por isso que ainda não descobriu seu próprio potencial — retrucou Ayden, puxando o estojo de volta.
Kai apenas sorriu, e dessa vez o sorriso era mais real. Ele observava Ayden com atenção, como se estudasse uma obra de arte em construção — imperfeita, mas fascinante.
— Eu vou fazer você sair dessa pose de princesa de gelo, Ayden. Cedo ou tarde.
— Boa sorte tentando.
Quando Kai saiu da sala, Ayden deixou os dedos tocarem os próprios lábios. Ele não sabia se queria vencer Kai… ou decifrá-lo.
E isso, para alguém como Ayden, era o começo do perigo.
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Atualizado até capítulo 50
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