O Doce Gosto Do Morango(Short Story)
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Lilo passou o jantar em silêncio. A mãe falava alguma coisa sobre as abóboras da feira, Luh estava absorta no celular, e ele... estava longe dali.
Na verdade, ainda estava na quadra. Ainda sentia o cheiro do sol no suor de Bruno, o olhar dele, aquela fala que parecia querer invadir tudo:
> “Você brilha, Lilo.”
Isso o corroía por dentro.
Depois que subiu pro quarto, deitou-se de lado na cama e ficou encarando a parede como se alguma resposta fosse aparecer ali. Mas nada apareceu. Só o som do vento lá fora e, de repente, uma lembrança antiga — dele ainda pequeno, doente, coberto de alergias, ouvindo o pai discutir ao telefone com a mãe do outro lado da porta. Ele não entendia nada naquela época, mas agora entendia tudo. O silêncio doía mais que qualquer briga.
E talvez por isso ele odiava tanto aquele tipo de atenção que Bruno dava: porque parecia sincero demais, como se quisesse quebrar uma parede que ele levou anos pra levantar.
No dia seguinte, ele decidiu ignorar. A escola passou como um borrão. Ele fugiu dos olhares, dos corredores que pareciam mais apertados, do som da bola de tênis batendo em alguma quadra distante. Nem olhou pra lá. Nem cogitou ir.
Mas ele sabia que Bruno notaria.
No fim do dia, enquanto Lilo saía da escola pelos fundos, ouviu a voz já familiar:
Lilo parou, mas não virou. Suspirou. Sentiu aquela pontada de culpa e medo se misturarem.
Bruno deu alguns passos até ficar ao lado dele.
Bruno não sorriu. Só observou.
Bruno
Eu sei que é confuso. Eu também não sei o que tô fazendo. Só sei que quando tô com você, tudo desacelera. E isso... me assusta pra caramba.
Lilo finalmente olhou pra ele. Havia verdade demais naquele rosto. Nos olhos fundos, nas olheiras marcadas, na raiva contida, no cansaço de alguém que carrega o mundo e ainda finge que não.
Lilo
Eu não sei lidar com isso, Bruno. Eu... eu tenho medo até de comer morango, se isso for dizer alguma coisa.
Bruno
Você tem alergia a morango?
Lilo
Tenho alergia a um monte de coisa.
Lilo
Morango, pelo menos, me lembra que certas coisas, por mais doces que sejam, ainda podem me machucar.
Bruno ficou em silêncio por um instante.
Bruno
E mesmo assim, você não deixa de sentir vontade de provar, né?
Lilo não respondeu. Não precisava. Os olhos já diziam tudo. Bruno deu um passo mais perto, mas dessa vez não invadiu o espaço.
Bruno
Se você quiser... amanhã, a gente pode só conversar. Sem tênis. Sem pressão.
Lilo
Conversar sobre o quê?
Bruno
Sobre você. Sobre mim. Sobre... o gosto do morango.
Lilo riu, finalmente. Um riso leve, meio envergonhado, mas sincero.
Bruno assentiu, e então foi embora sem olhar pra trás, como se soubesse que agora Lilo voltaria.
E Lilo, parado ali, soube de uma coisa: por mais que tentasse negar, o gosto do morango já estava na boca. E ele queria mais.
Comments
🐾kitsune🐾
Pouco a pouco os sentimentos pelo Lilo estão crescendo
2025-04-22
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🐾kitsune🐾
Não tente iguinora-lo
2025-04-22
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