O Doce Gosto Do Morango(Short Story)
×××
Os pés de Lilo ainda doíam da partida do dia anterior. Mesmo assim, ele acordou antes do despertador, o corpo cansado, mas o pensamento inquieto. A imagem de Bruno voltava em flashes — o jeito que ele andava com aquela confiança irritante, o olhar afiado, o modo como seu cabelo se grudava na testa suada, e a frase final:
> “Acho que vai me odiar antes de gostar de mim.”
Lilo odiava o quanto aquilo ficou martelando em sua cabeça.
Na cozinha, a mãe tentava sorrir enquanto passava manteiga numa fatia de pão. Era um sorriso gentil, mas distante. Ainda não sabiam como se conversar. Luh apareceu depois, silenciosa como sempre, e jogou uma maçã na mochila.
perguntou do nada, sem olhar pra Lilo.
Luh
O garoto do tênis. Bruno, né?
Lilo
Ele foi embora sem dizer nada. Só jogou... e saiu.
Luh deu um meio sorrisinho.
Luh
Todo mundo conhece. Ele é tipo… a estrela da escola. Ganhou não sei quantos torneios, vive no jornal local e tem aquela aura de bad boy emocionalmente indisponível.
Luh
E uma dor de cabeça pra quem tenta entender.
Aquilo só deixou Lilo mais nervoso. Ele queria que Bruno fosse só um idiota qualquer. Ser bom já era irritante. Ser complexo era pior ainda.
Na escola, o dia seguiu arrastado. Algumas pessoas o encaravam nos corredores, sussurrando. Ele sabia o motivo. A partida na quadra tinha virado comentário. E por algum motivo, ele, Lilo, o garoto novo e alérgico que só queria ser invisível, agora estava no radar.
Durante o intervalo, pegou o caminho mais longo até o refeitório só pra evitar as mesas cheias. Mas, claro, o destino tinha outro plano.
Bruno estava sentado num dos bancos do lado de fora, pernas abertas, o corpo jogado pra trás como se ele fosse dono do lugar. O sol batia no cabelo dele, e uma abelha pairava por perto, talvez confundindo o garoto com uma fruta muito madura.
Lilo tentou passar reto, mas ouviu:
Bruno
Vai fingir que não me viu?
Ele parou. Virou devagar.
Lilo
Eu achei que você preferia sair andando do nada. Meio seu estilo.
Bruno deu uma risadinha. Era baixa, mas tinha algo sarcástico nela.
Bruno
Eu saí porque senão ia acabar te perguntando por que diabos você joga tão bem se diz que nem gosta de tênis.
Lilo encarou ele com um certo incômodo.
Lilo
Eu só... sei jogar. Meu pai me colocava em aulas quando era pequeno. Foi uma das poucas coisas que ele achou que eu devia aprender.
Lilo
Porque ninguém nunca me perguntou se eu queria.
Bruno ficou em silêncio por um momento. E, pela primeira vez, pareceu não saber o que responder.
Bruno
Mesmo assim... você devia voltar. Eu não gosto de perder pra gente que não tá nem aí.
Lilo bufou, cruzando os braços.
Bruno
Mas podia. Isso me irrita.
Lilo sorriu de leve, e odiou isso. Odiava estar sorrindo por causa daquele garoto. Odiava o jeito como ele mexia com suas defesas. E mais que tudo, odiava o que estava sentindo agora — esse calor incômodo no peito, como se tivesse algo dentro dele que só queria se provar... pra Bruno.
Lilo murmurou, como se falasse consigo mesmo.
Bruno inclinou a cabeça, curioso.
Bruno sorriu, mas não aquele sorriso debochado. Foi algo mais suave, quase triste.
E antes que Lilo pudesse responder, Bruno se levantou, pegou a mochila e deu dois tapinhas no ombro dele ao passar.
Bruno
Treino hoje. Na quadra. Aparece se quiser me irritar mais.
Lilo ficou ali parado, o coração batendo mais rápido, e a estranha sensação de estar sendo puxado por uma força que ele não sabia nomear.
Uma coisa era certa: Bruno era bom demais. E talvez, só talvez… Lilo estivesse começando a gostar disso.
Comments
🐾kitsune🐾
Você quer ser irritado que eu sei
2025-04-22
0
🐾kitsune🐾
Você merece ser iguinorado
2025-04-22
0