O Doce Gosto Do Morango(Short Story)
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Na manhã seguinte, Lilo acordou com o som do vento soprando contra a janela e o canto insistente de um passarinho que parecia rir dele. Colocou o uniforme devagar, como quem vestia uma armadura — não para enfrentar uma guerra, mas para tentar sobreviver a mais um dia invisível.
A mãe já tinha saído. Luh estava na mesa, mexendo no celular, uma torrada quase intocada ao lado da caneca de café preto. Ela nem olhou quando ele se sentou.
Luh
Você sonhou alto essa noite.
comentou, ainda encarando a tela.
Luh
Falou o nome de alguém... “Bruno”, talvez?
Lilo congelou, o rosto pegando fogo.
Lilo
Deve ter ouvido errado.
respondeu rápido, desviando o olhar.
Luh sorriu de canto, e foi só isso.
A escola parecia maior naquele segundo dia. Como se os corredores tivessem se esticado, e as pessoas, se multiplicado. Lilo andava com os fones no ouvido, mesmo sem música. Era só uma desculpa pra evitar conversas.
Bruno
Ei, o garoto da quadra!
uma voz masculina chamou atrás dele.
Lilo travou. Quando se virou, Bruno estava encostado na parede, cercado de dois colegas risonhos. Usava a blusa do uniforme amarrada na cintura e segurava a raquete como se fosse parte do próprio corpo.
Lilo perguntou, inseguro.
Bruno se aproximou devagar, como um gato entediado brincando com a presa.
Bruno
Você mesmo. Aquela devolução ontem... foi sorte ou talento?
Lilo hesitou. Sentia o coração martelar no peito.
Bruno ergueu uma sobrancelha.
Bruno
Tem quadra livre depois da aula. Me encontra lá. Quero ver se você é tão bom quanto parece.
Lilo
Eu não sou bom. Nem gosto tanto de tênis assim.
Bruno sorriu de lado, mas os olhos continuavam sérios.
Bruno
Então vai deixar o medo te engolir antes de tentar?
Aquilo atingiu Lilo com força. Medo. Era uma palavra familiar demais. Uma sombra que o acompanhava desde sempre. Medo das alergias, das mudanças, de se mostrar, de ser... ele mesmo.
Bruno
Ótimo. Te vejo depois da aula.
Bruno virou as costas e foi embora, deixando o perfume leve de suor e desdém no ar.
Durante as aulas, Lilo mal conseguia prestar atenção. Os pensamentos giravam em círculos. “É só um jogo. Você pode perder e seguir em frente. Mas se não jogar, vai ser só mais uma vez se escondendo. Vai ser mais um silêncio engolido.”
Quando o sinal final tocou, ele já estava com o tênis trocado. As mãos tremiam.
Bruno já o esperava na quadra. Sozinho. A luz dourada do fim de tarde deixava o suor em sua pele brilhando como pequenas constelações.
Bruno
Sabia que você viria.
disse, jogando uma bola pro alto com a raquete.
Bruno
Você tem aquele olhar. De quem tenta fugir, mas no fundo quer provar alguma coisa.
Lilo
E você? O que quer provar?
Bruno não respondeu. Apenas jogou a bola pro alto e sacou com força. A partida começou. A cada troca, as raquetes cantavam e os olhares se prendiam. Era agressivo, intenso, como se cada ponto fosse uma guerra. E, estranhamente, Lilo se encontrava ali. Correndo, devolvendo, gritando mentalmente para não cair, não errar, não ceder.
Até que errou. Uma bola passou raspando por ele, e caiu fora da quadra.
Bruno caminhou até ele, os passos firmes, o peito arfando.
Bruno
Nada mal. Você me surpreendeu, garoto da cidade.
Bruno o olhou nos olhos por um instante longo demais. Tempestade e algo doce, escondido ali.
Bruno
Mas acho que vai me odiar antes de gostar de mim.
E então saiu da quadra, deixando Lilo parado, o coração disparado e uma pergunta sem resposta queimando no peito.
Comments
🐾kitsune🐾
Não gosta de tênis mas gosta da pessoa atraente chamado Bruno que gosta de jogar tênis né kakakak
2025-04-22
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🐾kitsune🐾
Você deixou ele sozinho ? até eu não tô gostando dessa sua atitude
2025-04-22
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🐾kitsune🐾
Oxe
2025-04-22
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