O Doce Gosto Do Morango(Short Story)
××××
O sol da tarde esquentava o ar de um jeito preguiçoso. Na quadra de cimento rachado, Lilo girava a raquete nos dedos, tentando parecer menos nervoso do que estava. Ele nem sabia por que tinha vindo. Talvez por orgulho. Talvez porque aquela provocação de Bruno não saiu da cabeça. Ou talvez porque, mesmo que não admitisse, ele queria vê-lo de novo.
Bruno já estava lá, claro. Chegara antes. Estava sentado no chão, encostado na cerca, com a cabeça caída pra trás e os olhos fechados. O suor brilhava no pescoço, e o peito subia e descia devagar. Parecia exausto. Ou talvez só triste.
Lilo hesitou ao se aproximar. Ele não queria interromper, mas também não queria voltar atrás.
Bruno abriu os olhos devagar. Quando viu Lilo, ergueu uma sobrancelha.
Bruno
Achei que não vinha.
Lilo
Achei que não tinha ninguém.
respondeu, tentando soar casual.
Bruno se levantou com um suspiro e foi até a mochila, puxando duas bolinhas.
Bruno
Aquela devolução de ontem ficou na minha cabeça. Você tem um estilo... estranho. Meio torto. Mas funciona.
Lilo
Sempre quis ser torto.
Bruno riu. Era uma risada mais leve, quase sincera dessa vez. Lilo odiou que tenha gostado do som.
Começaram a bater bola. Sem pontuação, sem provocação. Só troca. E, de algum jeito, o ritmo se encaixou. Bruno era rápido, agressivo, direto. Lilo, por outro lado, se movia com delicadeza, observando, se adaptando. Como se o corpo dele estivesse dançando em resposta à força do outro.
A cada batida, Lilo sentia menos medo. Sentia o corpo suar, os músculos doerem, mas também... algo acender. Algo que fazia tempo que ele não sentia. Vontade.
No meio da troca, Bruno parou de jogar. Deixou a bola quicar e se aproximou devagar, com a raquete pendurada num dos dedos.
Bruno
Você mente bem, sabia?
Bruno
Fica dizendo que não gosta de tênis. Que não é bom. Mas quando joga…
ele deu um passo mais perto.
O nome dele saindo da boca de Bruno foi como um arrepio quente no meio da espinha.
Lilo engoliu seco, desviando o olhar.
Bruno
Talvez não. Mas eu tô tentando.
Bruno respirou fundo, passou a mão no cabelo.
Bruno
Você me deixa curioso. E me deixa com raiva. E às vezes… me deixa em paz. Tudo ao mesmo tempo. E isso é raro.
Lilo apertou a raquete com força. O peito doía de um jeito estranho. Ele não sabia o que dizer. Só sabia que precisava respirar, e que de repente o ar ali parecia mais denso.
Bruno deu um passo mais perto. Agora estavam a centímetros.
Lilo sussurrou, quase sem pensar.
Lilo
Como se você... enxergasse.
Bruno ficou sério. Os olhos dele, escuros e intensos, não desviaram.
Bruno
E se eu estiver enxergando?
Lilo sentiu o coração martelar. Era demais. Intenso demais. Então, num impulso covarde, ele se afastou, largando a raquete.
Lilo
Eu preciso ir. Minha irmã... vai me perguntar onde eu tô.
Bruno não insistiu. Só observou, com aquele olhar que doía.
E foi ali, enquanto ele caminhava rápido pela lateral da quadra com as mãos tremendo e a garganta fechada, que Lilo percebeu: ele estava se metendo num sentimento perigoso. Num olhar que despia. E que, mesmo com medo, ele queria ver de novo.
Comments
🐾kitsune🐾
Um elogio vindo de você? só pode estar se apaixonando pelo Lilo
2025-04-22
0
🐾kitsune🐾
Lilo está começando e sentir sentimentos pelo Bruno
2025-04-22
0
🐾kitsune🐾
Você chama ele pra jogar e ainda fica julgando?
2025-04-22
0