capítulo 3

Sophia mantinha uma expressão tranquila enquanto fingia observar o cardápio, mas sua atenção estava totalmente voltada para Nicolai Petrov. Ele estava a poucos metros de distância, e a simples presença dele alterava a atmosfera ao redor.

A postura dele era impecável. Sentado com uma confiança relaxada, um dos braços apoiado na mesa, o outro segurando casualmente uma taça de vinho tinto, como se fosse parte de uma pintura meticulosamente elaborada. Seus olhos se moviam pelo ambiente, atentos, mas sem pressa. Como se estivesse sempre no controle da situação.

Não olhe demais. Não pareça ansiosa, pensou Sophia, controlando o ritmo de sua respiração. Fique calma, observe e espere o momento certo.

Ela sabia que não podia simplesmente se aproximar e começar uma conversa. Precisava fazer parecer natural, criar uma interação que parecesse um acaso, sem parecer planejada. A estratégia era criar um momento de interseção, algo que despertasse o interesse dele sem levantar suspeitas.

Mark percebeu sua concentração e, sem desviar os olhos do próprio prato, murmurou:

— Ele já te notou.

Sophia ergueu levemente a sobrancelha, sem demonstrar surpresa.

— Como tem tanta certeza?

— Porque um homem como ele nunca ignora uma mulher como você.

Ela esboçou um sorriso discreto, mas manteve o foco. Olhando de relance, percebeu que Nicolai desviou o olhar na mesma hora. Aquele pequeno detalhe confirmou a suspeita de Mark. Ele a havia notado.

E agora? Ela sentiu uma leve aceleração do coração, mas controlou a respiração. Isso é só o começo. Mantenha a calma.

— Tem certeza que quer seguir com isso? — Mark perguntou, cruzando os braços.

Sophia tomou um gole de vinho antes de responder.

— Esse é o plano, não é?

— Sim, mas eu conheço esse tipo de homem. Ele é perigoso. E se ele perceber que você não é quem diz ser?

Sophia pousou a taça sobre a mesa com delicadeza e olhou Mark com firmeza.

— Eu não erro, Mark.

Ele suspirou, ainda parecendo preocupado, mas assentiu sem dizer mais nada.

Os minutos passaram e os pratos vieram e foram, mas Sophia sabia que ainda não era o momento certo para se aproximar. Até que, finalmente, o destino lhe ofereceu uma oportunidade.

Ao se levantar para ir ao bar, ela fingiu um descuido calculado e esbarrou levemente em um garçom que carregava uma bandeja com taças de vinho. O gesto foi sutil, mas o suficiente para que uma das taças perdesse o equilíbrio. O líquido vermelho escorreu pelo vidro antes de tombar… diretamente sobre a manga impecável do paletó de Nicolai.

O tempo parecia desacelerar.

O garçom congelou em choque, a boca entreaberta, prestes a se desculpar. Mas Sophia foi mais rápida.

— Oh, meu Deus… me perdoe! — exclamou, sua voz carregada de surpresa genuína. Seus olhos se arregalaram com a intenção de parecer o mais apologética possível. Ela pegou o guardanapo e tocou levemente a manga do paletó de Nicolai, tentando minimizar o estrago. — Foi um acidente, eu… eu realmente sinto muito.

Ela levantou os olhos e, pela primeira vez, encarou diretamente Nicolai Petrov.

Foi um instante que pareceu eterno.

Os olhos azuis dele encontraram os dela, analisando-a de forma minuciosa, como se estivesse tentando decifrar cada aspecto da sua existência em um único olhar. Não havia irritação em sua expressão, apenas um interesse velado, uma curiosidade silenciosa.

Ele está me observando com atenção. Como se soubesse exatamente o que está acontecendo… pensou Sophia, sentindo um nervosismo crescente, mas mantendo uma expressão de calma total.

— Nenhum problema — Nicolai respondeu com um sorriso pequeno, enigmático, enquanto pegava o guardanapo das mãos dela e começava a limpar a mancha. Sua voz era grave, com o leve sotaque russo que a fazia se concentrar ainda mais em cada palavra. — Suponho que agora eu tenha um motivo para lembrar dessa noite.

Sophia riu suavemente, mas a tensão em seu peito não desapareceu. Ela precisava controlar a situação, mostrar que estava no comando. Não podia deixar que isso fugisse de seu controle.

— Espero que não me veja como uma desastrada. — Ela sorriu de maneira descontraída, tentando aliviar a situação.

Nicolai, ainda com os olhos focados nela, ergueu uma sobrancelha, como se estivesse considerando algo. Seu sorriso se ampliou ligeiramente.

— Acho que você está longe disso — respondeu ele, finalmente tirando o último vestígio do vinho de sua manga com um movimento fluido. Ele inclinou-se para trás e fez uma pausa antes de continuar, os olhos agora mais intensos, como se visse além da superfície. — Mas me parece que você está tentando se redimir, não é?

Sophia sentiu a onda de nervosismo se misturar com um impulso inesperado de confiança. Era o momento certo para agir, para se mostrar ainda mais digna de sua atenção.

— Eu insisto. — Ela respirou fundo e se aproximou um pouco mais. — Eu realmente sinto muito por estragar seu paletó. Posso pagar pela limpeza ou até mesmo comprar um novo para você, se preferir. É o mínimo que posso fazer.

Nicolai a observou por um momento, os olhos azuis estudando sua expressão, como se ele estivesse analisando a sinceridade em suas palavras. Ele deu um pequeno sorriso, como se estivesse admirando sua coragem.

— Você realmente acha que é assim tão fácil me impressionar? — ele perguntou com um leve sorriso malicioso, sem parecer incomodado. — O que faz você achar que um paletó pode ser substituído tão facilmente?

Sophia franziu a testa, sentindo a tensão aumentar novamente. Ele está testando você, Sophia. Mostre que tem controle sobre a situação.

— Não é uma questão de facilidade, é uma questão de respeito. — Ela falou calmamente, sem perder a compostura. — Eu cometi um erro, e estou disposta a corrigir.

O olhar de Nicolai se suavizou um pouco, como se ele estivesse considerando sua resposta. Por um momento, parecia que ele estava pronto para aceitar a oferta dela, mas ao invés disso, ele recostou-se na cadeira e observou-a com mais intensidade.

— Eu aprecio sua atitude — disse ele, agora com um tom mais sério. — Mas prefiro não tomar algo sem dar algo em troca. Talvez possamos… combinar algo mais interessante.

Sophia sorriu, seus olhos se estreitando enquanto ela tentava ler as entrelinhas de suas palavras.

— Como assim? — ela perguntou, curiosa, tentando manter o jogo de palavras sem parecer excessivamente ansiosa.

Nicolai levantou a taça de vinho, olhando-a de forma desafiadora, mas com uma leveza na atitude.

— Que tal você me dar um motivo para acreditar que as coincidências não existem, Elena? — Ele disse, dando ênfase ao nome falso dela, enquanto a observava atentamente.

Sophia se deu conta daquilo no mesmo instante, mas não demonstrou surpresa. Ele havia a chamado pelo nome falso, algo que ela usara para se proteger.

Mas, mais do que isso, ele havia acabado de se tornar um enigma para ela. E agora, a situação tomava uma direção ainda mais interessante.

Ela se inclinou levemente para frente, encarando-o com mais intensidade, e disse, com um sorriso sutil, quase desafiador:

— Talvez as coincidências realmente não existam, Nicolai. Ou talvez elas sejam apenas o começo de algo mais interessante.

Nicolai ergueu uma sobrancelha, com um sorriso que não se poderia dizer ser completamente amigável. Ele gostava do jogo de palavras.

— Interessante, Elena. Eu realmente estou começando a achar que essa noite será memorável. — Ele ergueu a taça para um brinde. — Ao acaso, então.

Sophia ergueu sua taça de martini, encarando-o nos olhos.

— Ao acaso — repetiu, e o som das taças se uniu, criando uma leve vibração no ar.

Então, como se ainda estivesse ponderando sobre o significado daquilo tudo, Nicolai sorriu novamente e se inclinou ligeiramente para ela.

— E agora que já estamos brindando, acho que podemos nos apresentar de verdade. Sou Nicolai Petrov.

Sophia fez um gesto com a cabeça, seu sorriso mais largo agora.

— Elena Morgan.

E naquele momento, a troca de nomes foi mais do que uma simples formalidade. Era o início de algo mais profundo, mais estratégico.

No fundo, ela sabia que não era apenas o acaso que os havia unido ali. Era algo mais. E, mais uma vez, ela se viu pensando: Isso está apenas começando.

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