Entre Likes e Silêncios

Ele posta.

Sorri.

Apaga.

Posta de novo.

Troca o filtro.

Sente o vazio.

Quantos corações cabem num coração que não sabe mais bater por si?

O nome dele é Cael.

Mas às vezes ele esquece.

Na tela, ele é “@c4elbr” — mais performance do que presença.

Mais conteúdo do que carne.

Cresceu aprendendo a legenda antes de viver a cena.

A se mostrar antes de se descobrir.

A esconder o que doía, porque dói menos quando ninguém vê.

Ele aprendeu cedo:

Quem cala consente.

E quem fala demais… perde engajamento.

As palavras foram virando posts, os sentimentos, engajamento.

O olhar, um reflexo de tela.

O toque, um emoji.

O afeto, uma reação.

Cael tem mais de 100 mil seguidores.

Mas não sabe mais quem o seguiria em silêncio, na dor, na queda, no tédio.

Na vida sem filtros.

Ele se deita e rola o feed como quem procura uma resposta.

Ou um espelho.

Mas tudo o que vê são pedaços de vidas editadas,

sonhos condensados em 15 segundos,

vidas perfeitas com músicas tristes de fundo.

Ninguém diz que está cansado.

Ninguém posta o medo.

Ele sente um ruído constante dentro do peito —

um zumbido de ausência.

Uma saudade que não tem nome.

Não sabe se sente falta de alguém ou de si mesmo.

Talvez dos dois.

Num fim de tarde qualquer,

ele deixa o celular sobre a mesa.

Sai sem fone. Sem pressa. Sem câmera.

A rua tem som.

O vento tem cheiro.

A cidade tem rosto.

Uma criança esbarra nele e sorri.

Um cachorro late ao longe.

O céu está menos cinza do que ele lembrava.

Cael senta num banco e não faz nada.

Não posta.

Não compartilha.

Só respira.

E, por um segundo, sente algo estranho.

Quase esquecido.

Quase novo.

Paz?

Não.

Presença.

Talvez ele ainda não saiba quem é.

Mas naquele instante, pelo menos,

não está tentando ser ninguém.

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O Silêncio Também Diz

Nem tudo precisa ser dito.

Nem toda dor vira palavra.

Nem toda cura tem nome.

Há quem fale muito… e nunca diga nada.

E há quem, no silêncio, revele o mundo.

Esse é o conto de Lina.

Ou talvez, o conto de todas as pessoas que aprenderam a calar — não por medo, mas por escuta.

Lina sempre foi chamada de “quieta demais”.

“Você precisa se impor.”

“Fala alguma coisa.”

“Vai deixar assim?”

Mas o que ninguém entendia é que ela ouvia.

E ouvir era, pra ela, um jeito profundo de amar.

Lina sabia quando alguém estava mentindo pela pausa antes da resposta.

Sabia quando um abraço era pedido, mesmo sem palavras.

Sabia quando a presença era tudo o que alguém precisava.

E sabia, sobretudo, que o mundo estava barulhento demais pra ela gritar junto.

Ela gostava do vento entrando pela janela.

Do som da água no copo.

Da página virando no livro.

Do sussurro da respiração de quem dorme ao lado.

Ela era feita de detalhes —

e os detalhes são silenciosos.

Na infância, foi chamada de “estranha”.

Na juventude, de “distante”.

Na vida adulta, de “madura”.

Mas no fundo, ela só estava inteira.

Lina tinha uma força que não precisava provar.

Uma coragem que não se anunciava.

Um mundo interno onde o tempo passava mais devagar.

Ela não falava sobre o que sentia.

Mas fazia café pra quem amava.

Esperava na chuva por quem precisava.

Guardava bilhetes dentro de livros alheios, como quem planta delicadezas.

E quando a vida gritava forte demais,

ela não respondia com gritos.

Respondia com silêncio.

Porque o silêncio dela era resposta.

Era presença.

Era amor.

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