A floresta ao norte da Alcatéia era densa, fria e mergulhada em neblina. A cada passo, Luaen sentia o ar mudar. Era como atravessar uma barreira entre mundos — um reino de sombras onde a esperança parecia esquecida.
— Estamos perto, Ayru — disse ela ao lobo branco sob suas pernas. Ele rosnou baixo, em sinal de alerta.
A jovem apertou o colar lunar no pescoço. Sentia o coração bater rápido. Era medo… ou era o chamado?
De repente, uma presença. Um arrepio percorreu sua espinha. Ela desceu do lobo e andou devagar pela trilha de pedras escuras, até ouvir uma voz rouca, quase familiar:
— Sabia que viria.
Ela se virou rápido. Ele estava ali. Encostado numa árvore antiga, parcialmente encoberto pela neblina. Riven.
— Você… sabia?
Ele deu um meio sorriso, sombrio, mas não ameaçador. — Sonhei com você também.
Luaen respirou fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções. — Por que nunca tentou me encontrar?
— Porque eu fui criado pra te evitar.
— Mas mesmo assim… me sentia conectada a você — ela deu um passo à frente. — Como se estivéssemos incompletos, separados.
— Talvez estejamos — disse ele, olhando nos olhos dela. — Talvez sejamos só metade de algo maior.
Houve silêncio. O tipo de silêncio que fala alto demais.
Luaen se aproximou com cautela, observando cada traço dele. Os cabelos escuros caíam em ondas sobre os olhos intensos. Ele estava mais alto do que imaginava, com feições fortes, porém marcadas pela solidão.
— Riven… o que aconteceu com você?
— Cresci cercado por vozes que diziam quem eu devia ser. Raika queria que eu fosse um guerreiro das sombras. Ishar me treinou para destruir. Mas eu… — ele suspirou — eu nunca aceitei aquilo.
— E por isso fugiu?
Ele assentiu. — Fugi no dia em que percebi que odiava o que estava me tornando.
Luaen se aproximou mais um passo. — Então por que ainda está aqui, escondido?
— Porque... ainda sou uma sombra. Não sei se consigo ser luz como você.
Ela tocou o braço dele devagar. — Não precisa ser luz. Basta não se apagar.
O vento soprou forte. Luaen sentiu um leve tremor e, instintivamente, ele tirou o próprio casaco e colocou sobre os ombros dela.
— Obrigada — murmurou ela.
— Você é... diferente do que imaginei.
— E como me imaginou?
— Inacessível. Perfeita. Intocável.
Luaen sorriu de canto. — Intocável? Já enfrentei feras, vilões, e passei noites em vigília com Soratta. Não sou tão delicada quanto pareço.
— Mesmo assim... ainda é feita de luar — disse ele, com a voz baixa.
Ela corou. — E você? É mesmo feito de sombra?
— Não sei mais o que sou. Mas sei que, quando te vejo, a escuridão em mim parece... calar.
Um estalo de galho atrás deles quebrou o momento.
Luaen virou rápido. — Estamos sendo seguidos?
— Não exatamente — disse Riven. — Eles me observam. Sempre. As sombras.
De dentro da neblina, surgiu Ishar, o guardião sombrio.
— Você foi longe demais, Riven — disse ele. — E trouxe companhia. A filha da luz.
Luaen se posicionou na frente de Riven, como um escudo.
— Não vou deixar que o leve.
— Que fofa — zombou Ishar. — A princesa corajosa protegendo o filho do caos.
Riven passou por Luaen e encarou Ishar.
— Ela está comigo agora. Se quiser me levar, vai ter que enfrentá-la. E a mim.
Ishar sorriu. — Não preciso. Basta que vocês falhem. E vocês vão falhar… porque a luz e a sombra nunca coexistem.
— Talvez você esteja errado — disse Luaen. — Talvez a lua brilhe mais forte... quando atravessa a escuridão.
Ishar desapareceu na névoa com um último olhar ameaçador.
Riven soltou o ar devagar. — Ele vai voltar. Com mais força.
— Então vamos estar prontos — respondeu Luaen. — Você vem comigo?
Riven hesitou. — Se eu entrar na Alcatéia, vão me aceitar?
— Meus pais vão. Lyria vai. E o velho Hateki já sabe que esse dia chegaria.
— E os outros?
— Os outros vão aprender.
Ele sorriu. Pela primeira vez, de verdade.
— Então sim. Eu vou com você.
Luaen estendeu a mão. Ele segurou.
E a lua acima deles brilhou com mais força, selando o primeiro passo de um novo destino.
{o jovem Riven}
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Atualizado até capítulo 44
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