Capítulo 5
Claire chegou em casa com a mente girando mais rápido que o ventilador barulhento no canto do quarto. Passava das oito da noite, e o dia inteiro tinha sido uma montanha-russa de e-mails, prazos estourando e reuniões improvisadas na pequena empresa de design onde ela trabalhava. Assistente administrativa? Sim. Mas, na prática, era tudo: secretária, organizadora de planilhas, faz-tudo do café, conselheira de estagiários e às vezes até psicóloga do chefe.
Mesmo assim, ela gostava dali. Do cheiro de papel novo, das ideias que nasciam no caos e da sensação de pertencimento — mesmo que fosse no meio do furacão. Era melhor do que nada. Melhor do que ficar parada esperando a vida passar.
Mas naquela noite, entre uma mensagem do gerente pedindo orçamento para o novo projeto e a última entrega do dia, uma imagem não saía da cabeça de Claire: a capa da revista na banca. Adrien Moreau.
Ele.
O homem do encontro confuso. O dos papéis voando, do olhar intenso, do sorriso torto e da voz educada. Ela havia cruzado com um dos homens mais influentes da França e nem desconfiava.
Agora, sabendo quem ele era, tudo parecia ainda mais improvável. Como se aquele breve instante tivesse acontecido em outra dimensão.
Claire tirou os sapatos e jogou a bolsa no sofá. Ligou o fone, colocou uma música instrumental de fundo e deixou o corpo cair na cama. Mas o sono não vinha.
— É só coincidência. Um momento. Nada demais — sussurrou para si mesma, como se a repetição fosse capaz de matar a dúvida.
Mas a dúvida crescia. Como uma pequena chama acesa num cômodo escuro. Porque, apesar de tudo, algo naquele homem ficou nela. Uma presença que agora ela não conseguia mais ignorar.
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Do outro lado da cidade, Adrien terminava uma videoconferência com investidores japoneses quando Élodie apareceu no seu escritório, sem sequer bater. Usava um vestido vermelho justo demais para ser coincidência e um perfume tão marcante quanto sua ambição.
— Ainda está fingindo que o nosso tempo acabou? — perguntou, com um sorriso frio nos lábios.
Adrien não respondeu de imediato. Respirou fundo. Sabia que ela voltaria, sabia que não deixaria as coisas em paz. Sempre foi assim: intensa, impulsiva e controladora. Tudo ao mesmo tempo.
— Você não pode continuar aparecendo assim. Já conversamos sobre isso.
— Conversamos? — ela riu. — Você desapareceu. Isso não é conversar, é fugir.
Ele a encarou em silêncio. Era cansativo. Doloroso. E, lá no fundo, uma parte dele já não queria mais lutar.
Mas era por isso que Claire estava tão viva em sua mente. Aquela mulher simples, real, sem jogos nem manipulações. Havia algo no olhar dela que trazia paz. Uma honestidade rara, um respiro dentro do mundo sufocante que ele vivia.
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Na manhã seguinte, Claire chegou cedo à empresa. A equipe estava envolvida em um projeto novo para uma startup de moda sustentável, e ela tinha reuniões para agendar, café para repor e documentos para escanear.
Mas ao entrar em sua sala, notou algo em sua mesa.
Um pequeno buquê de margaridas brancas. E um bilhete.
"Nem sempre o acaso é só acaso. Às vezes, ele é só o começo."
Sem assinatura. Apenas aquelas palavras e o cheiro leve de lavanda.
Claire olhou ao redor. Nenhum sinal de quem poderia ter deixado. Seu coração disparou. Pensou em Sophie, mas sabia que a amiga não era de fazer surpresas poéticas. Pensou no novo estagiário, mas ele mal falava bom dia.
Pensou nele.
O impossível.
Adrien Moreau.
Sorriu sozinha. Encostou-se na cadeira giratória, segurando o bilhete com cuidado.
E por um instante, permitiu-se sonhar com o impossível.
Porque talvez… só talvez… o acaso estivesse mesmo preparando algo maior do que ela podia imaginar.
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Atualizado até capítulo 56
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