capítulo 4
Onde o acaso se esconde
Claire empurrou a porta da pequena floricultura com o ombro, equilibrando uma bandeja com duas xícaras de café e uma sacolinha de croissants amanteigados. A neblina da manhã ainda encobria as calçadas de Lyon, e a cidade parecia acordar aos poucos, com os faróis dos carros cortando o cinza suave das primeiras horas.
— Trouxe reforços! — gritou, sorrindo, antes mesmo de ver Sophie.
Do fundo da loja, entre galhos de eucalipto e ramos de lavanda, surgiu sua melhor amiga, com um avental cheio de manchas de terra e flores secas no cabelo.
— Minha salvadora! — Sophie respondeu, tirando as luvas e correndo para abraçá-la.
As duas se sentaram num cantinho do ateliê de flores, um espaço improvisado com duas cadeiras de madeira e uma mesinha redonda, cheia de catálogos de decoração e papéis com ideias de arranjos para casamentos.
Claire, não trabalhava ali mais, mas sempre arranjava um tempo para passar por ali. Aquele lugar, com cheiro de jasmim e música francesa de fundo, era sua bolha de paz.
— Então? — Sophie perguntou com aquele brilho curioso nos olhos. — Ainda pensando no cara misterioso da rua?
Claire riu, mas baixou os olhos, fingindo buscar algo na sacola.
— Claro que não. Foi só... uma confusão de papéis. Nem sei o nome dele. Ele não sabe o meu. Fim da história.
Sophie estreitou os olhos.
— Você está repetindo isso desde que aconteceu. E cada vez que repete, parece menos verdade.
Claire bufou. Tomou um gole do café e mordeu um pedaço do croissant.
— Ele era bonito. Não posso negar. E gentil. Mas... esse tipo de cara? Bonito demais, seguro demais, provavelmente casado ou envolvido com alguma modelo internacional. Nada a ver comigo.
Sophie riu alto.
— Isso é você fugindo de algo que sentiu por três minutos e meio.
— É você romantizando o caos.
Elas riram juntas, mas Claire não conseguiu afastar a lembrança. Os olhos dele. O modo como ele a olhou. Como se estivesse realmente vendo. Não era só beleza — era presença. Uma firmeza silenciosa que a deixou estranhamente exposta.
Depois de meia hora de conversa, risadas e planos sobre arranjos para o próximo evento da loja, Claire se despediu. O seu turno se aproximava, e ela não podia se dar ao luxo de chegar atrasada.
Enquanto caminhava pelas ruas de pedras, sem pressa, passou por uma banca de jornal. Uma revista chamava atenção na vitrine: “Adrien Moreau: o CEO discreto que domina o mercado francês com charme e inovação”. Claire olhou. O rosto na capa era conhecido.
Seu passo vacilou por um segundo mas continuou andando.
Era ele.
O homem do encontro inesperado. O dos papéis voando, do sorriso torto, do pedido de desculpas.
Claire engoliu em seco. Riu sozinha. E seguiu andando, como se não tivesse acabado de descobrir que o “cara qualquer” era, na verdade, um dos homens mais influentes da França.
Ela não fazia ideia do que aquele acaso significava.
Mas o destino, às vezes, se esconde exatamente onde não estamos procurando.
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Atualizado até capítulo 56
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