Capítulo 3 – Sombras de Veludo
A campainha soou às oito da manhã, cortando o silêncio do apartamento como uma navalha. Adrien ergueu os olhos do café ainda quente. Não esperava ninguém. A maioria das pessoas sabia que aquele horário era sagrado: seus primeiros minutos de silêncio, antes que os negócios, os e-mails e as decisões do dia o engolissem.
Foi até a porta sem pressa. Quando a abriu, o passado entrou com perfume caro, salto fino e um sorriso de quem nunca aceita um “não” como resposta.
— Bonjour, mon amour — disse Élodie, com uma tranquilidade que só os perigos mais bem vestidos carregam.
Ela entrou como se ainda pertencesse àquele espaço. Como se as semanas, os meses e as despedidas não tivessem acontecido. O salto ecoava no chão de mármore, o casaco bege de lã se acomodava aos ombros com a mesma arrogância elegante de quem sabe que ainda causa impacto.
Adrien fechou a porta devagar, encarando-a com um misto de surpresa e cansaço.
— Eu pensei que você estivesse em Genebra.
— Estava. Mas vi sua entrevista no canal francês. Tão só... tão distante. Senti que estava precisando de mim — ela respondeu, apoiando a bolsa na cadeira como quem ocupa novamente o seu trono.
Adrien se recostou na bancada da cozinha, os dedos apertando levemente a xícara de café.
— Você veio até Lyon por isso?
— Eu vim porque ainda existe algo entre nós — disse, com os olhos cravados nele. — E você sabe disso.
Ele soltou um leve riso sem humor. Aquilo era tão Élodie. Sempre pronta a reescrever a história do jeito que lhe convinha. Sempre decidida a manter o controle — até do que já não era mais dela.
— Nós terminamos, Elô. Você sabe disso. Você saiu da minha vida... e eu deixei que saísse.
Ela se aproximou, os olhos faiscando.
— Você deixou? Adrien, você fugiu. Fugiu de nós, dos planos, da vida que construímos juntos. E agora aparece com esse olhar perdido... está pensando em outra pessoa, não está?
O silêncio dele foi resposta o suficiente.
— Quem é ela?
Ele não queria responder. Não sabia nem o nome completo de Claire. Mas já sabia que ela tinha mexido com algo nele que Élodie, com todos os seus luxos, nunca conseguiu alcançar.
— É alguém que não finge ser o que não é — ele disse, por fim. — Com você, tudo sempre foi... espetáculo. Com ela, foi real. Mesmo que tenha durado dois minutos.
— Uma qualquer? — Élodie quase cuspiu as palavras. — Você vai jogar anos de história por um acaso?
— Talvez seja justamente isso. Um acaso que fez sentido.
Ela cerrou os punhos. A postura ainda era altiva, mas os olhos já carregavam lágrimas contidas.
— Eu lutei por você, Adrien. E vou lutar de novo, se for preciso. Só que, desta vez, não vou perder.
Ela pegou a bolsa com elegância ensaiada, mas o olhar era de guerra. Na porta, virou-se.
— Você pode achar que está vivendo algo novo, mas você vai voltar pra mim. Você sempre volta.
A porta se fechou com um estalo seco.
Adrien ficou ali, olhando o vazio por alguns segundos. A raiva dela, o orgulho ferido, o passado tentando invadir um presente que ele mal começou a entender. Respirou fundo. Tomou um gole do café. Já estava frio.
No outro lado da cidade, Claire ria alto em uma cafeteria com Sophie. Contava sobre um cliente que tentou pagar com um botão achando que era uma moeda antiga. Ela ainda não sabia o nome de Adrien. E tampouco imaginava que, naquele momento, alguém estava decidida a eliminá-la de uma história que ela nem sabia que estava prestes a viver.
Mas a verdade é que, mesmo sem saber, Claire já estava no centro do conflito.
E a sombra de veludo de Élodie, com sua beleza e sede de controle, estava apenas começando a se mover pelas margens da vida dela.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 56
Comments
Mar Briyith ER
Eu fico a cada segundo atualizando a página, autora. Vamos lá, atualizeeeee!
2025-04-14
1