A chuva caía fina sobre a cidade, tornando tudo mais cinza, mais silencioso, como o prenúncio de algo que estava prestes a ruir. Marina estava sentada em sua sala de reuniões, assinando os últimos documentos do dia, quando sua assistente entrou às pressas, com o rosto pálido.
— Marina… chegou um envelope. Sem remetente. Direto na recepção. Disseram que era para suas mãos.
Ela franziu o cenho e pegou o envelope branco, pesado, com seu nome escrito em letras impressas. Ao abri-lo, o sangue gelou.
Dentro, havia uma foto dela saindo da cobertura de Alessandro na manhã anterior, seguida por uma imagem nítida dela jantando com Charles Hargrave. Junto, um bilhete impresso:
“A rainha está sendo vigiada. O próximo movimento decide se ela continuará viva no jogo.”
Marina sentiu o coração apertar. Aquilo não era blefe. Não era chantagem corporativa. Era uma ameaça real. Ela sabia reconhecer o cheiro do perigo — e esse fedia a pólvora.
Sem pensar duas vezes, pegou o celular e ligou para Alessandro. Ele atendeu no primeiro toque.
— Aconteceu alguma coisa?
A voz dele já estava em alerta. Ela inspirou fundo.
— Preciso te ver. Agora.
**
Meia hora depois, Marina entrava na mansão de Alessandro nos arredores da cidade. O portão de ferro se fechou atrás de si com um estrondo metálico que soou como o fim de uma liberdade que ela nem sabia que ainda tinha.
Ele a aguardava no saguão, vestindo uma camisa preta com as mangas dobradas, revelando os antebraços tatuados, e calça de alfaiataria. O olhar era sombrio, os punhos cerrados.
— O que aconteceu?
Ela entregou o envelope. Alessandro pegou o conteúdo e analisou com cuidado. O maxilar começou a se mover lentamente, sinal claro de que estava prestes a explodir.
— Merda… — rosnou.
— Você sabe quem foi?
Ele não respondeu de imediato. Virou-se e caminhou em direção ao escritório. Marina o seguiu, em silêncio.
— Não sei. Mas vou descobrir em menos de 24 horas. — Jogou o envelope sobre a mesa de mogno. — Isso não é só um aviso. É uma provocação. Estão mexendo com o que é meu.
— Alessandro… isso é sério. Se alguém está me seguindo, pode estar te vigiando também.
— E vai morrer por isso.
A frase saiu fria. Letal.
Ele pegou o telefone, murmurou algo em italiano para alguém do outro lado e desligou. Depois, olhou para Marina, com os olhos escuros como a noite lá fora.
— Você não vai voltar pra sua casa. Vai ficar aqui. Sob a minha proteção.
— Isso não é necessário.
— É sim. — Ele se aproximou, parando diante dela. — Eu te avisei que o meu mundo era perigoso. Agora ele te alcançou. E eu não vou deixar que ninguém toque em você.
**
Duas horas depois, Alessandro estava num dos galpões industriais que usava para "acertos". O ambiente era escuro, com cheiro de ferrugem e sangue antigo. Amarrado a uma cadeira no centro, um homem tremia com um saco preto na cabeça.
Alessandro caminhava em círculos ao redor dele, com as mangas arregaçadas e luvas de couro. Seus olhos estavam sem brilho. Seu rosto, inexpressivo. Ao seu lado, Enzo, um dos seus homens de confiança.
— Ele foi visto nas câmeras da empresa de Marina. O envelope foi entregue por esse filho da puta.
— Quem mandou? — Alessandro perguntou, puxando o saco da cabeça do homem.
Era jovem, talvez trinta e poucos anos, barba rala e olhos arregalados.
— Eu não sei! Só me pagaram pra deixar lá! Eu juro!
Alessandro pegou um alicate sobre a mesa e o ergueu à altura dos olhos do homem.
— Toda mentira custa um dente.
— Não! Não, por favor—!
O grito ecoou quando Alessandro arrancou o primeiro. Depois o segundo.
— Quem mandou?
— Eu não sei o nome! Era um cara de terno, sotaque russo. Falou que era só um recado!
— Russo… — Alessandro murmurou, passando a mão pelo queixo.
Seus olhos se estreitaram. Sabia exatamente de onde poderia vir a ameaça. E se era quem estava pensando, Marina estava correndo mais risco do que imaginava.
Virou-se para Enzo.
— Mate-o. E queime o corpo.
**
Na mansão, Marina estava na varanda, enrolada num robe de seda vermelho, com uma taça de vinho nas mãos. Sentia-se inquieta. Não era do tipo que aceitava proteção — ela era quem protegia. Quem decidia. Mas naquele momento… sabia que o único homem que poderia segurá-la de cair era Alessandro.
Ele apareceu atrás dela, silencioso. Colocou as mãos em sua cintura e a puxou contra o peito.
— Resolvido? — ela perguntou, sem se virar.
— Por agora. Mas é só o começo.
Ela virou-se devagar, os olhos buscando os dele.
— Quem é?
— Suspeito que seja alguém ligado à Bratva. Um grupo russo. Velhos inimigos da minha família. Mas se estão vindo até você, é porque estão querendo me atingir onde mais dói.
Ela estreitou os olhos.
— Eu não sou uma fraqueza, Alessandro.
— Não. — Ele a ergueu no colo de repente, como se ela pesasse nada. — Você é meu ponto vital.
A levou até o quarto sem dizer mais nada. Marina não resistiu. Quando ele a deitou na cama e subiu sobre ela, sentiu o peso do mundo desaparecer. Ele a despiu com calma, como se precisasse garantir que ela ainda estava ali. Intacta. Sua.
— Me prometa uma coisa. — ela sussurrou, enquanto ele traçava beijos pelo pescoço.
— O que quiser, mia regina.
— Se eu estiver em perigo de verdade... me mata antes deles.
Ele parou, os olhos fixos nos dela.
— Nunca. Eu mato o mundo inteiro, mas você, eu protejo até o fim.
**
E naquela noite, Marina soube: havia cruzado o ponto sem volta.
---
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 36
Comments