Cap. 2

O céu de São Paulo permanecia nublado, como se o universo conspirasse para refletir o peso no peito de Paty enquanto arrumava a mala. E durante esse tempo, as memórias de Paty continuaram a voltar com tudo, não em fragmentos, mas inteiras, vivas, cortantes. Ela não tentou impedi-las. Talvez porque soubesse que, para voltar, precisava enfrentar o que a fez partir.

Flashback - 5 anos antes

Era como se ela estivesse novamente no  seu quarto na casa dos pais. No closet, pendurado com cuidado, estava o vestido de noiva: delicado, perfeito como o futuro que Paty imaginava ao lado de Henrique. Ela segurou o vestido com cuidado contra o corpo e se olhou no espelho de corpo inteiro. Seus olhos brilhavam com uma inquietação boa, quase infantil. Faltavam duas semanas para o casamento com Henrique, e tudo parecia no lugar: o salão da Andrade Eventos, a empresa da família, estava reservado para a cerimônia; os convites enviados, e o bolo já tinha sido encomendado.

Naquele dia , tudo deveria ser lindo, mas então o telefone vibrou sobre a penteadeira, um som brusco que cortou o silêncio como um alarme. Paty sentiu um arrepio que a fez franzir a testa. Ela imaginou uma mensagem de um fornecedor ou da mãe. Mas não, era uma mensagem anônima, sem remetente conhecido,  com poucas palavras:

“Você merece saber a verdade.”

Anexo a mensagem havia uma foto que não precisava de legenda: Henrique, seminu, na cama que ela reconheceu imediatamente, no quarto dele onde, dias antes, o noivo disse que mal podia esperar para chamá-la de esposa. E Paty acreditava nele, porque o amor de Henrique por ela, era tão certo quanto os cronogramas que montava com precisão. Ao lado dele, também coberta apenas por lençóis, estava Bruna, sua irmã, O cabelo loiro bagunçado, contrastava com o travesseiro escuro, e seus olhos, mesmo na foto, pareciam evitar a câmera, como se soubesse que estava sendo fotografada.

A mão de Paty tremia, e seu coração disparou como se quisesse fugir do peito.

_Não é real... É montagem...Inveja...Alguém quer me machucar... Paty passou o dedo sobre a tela como se pudesse apagar a imagem.

Mas, no fundo, uma vozinha cruel sussurrava a verdade. Ela se lembrou dos almoços em família, dos sorrisos trocados entre Henrique e Bruna quando achavam que ninguém via. Das conversas que se prolongavam enquanto ela terminava de arrumar a mesa. Dos olhares que, na época, Paty julgara inocentes, porque a irmã não seria capaz de trair, e Henrique era fiel,  ou pelo menos era o que ela acreditava.

Sem pensar, Paty largou o vestido, que caiu no chão como um pano qualquer, e pegou a chave do carro. Ela dirigiu até a casa de Henrique em um transe, o coração em colapso, lembrando da foto da irmã nos braços do noivo.

Quando chegou, o carro de Bruna estava parado na frente, vermelho e reluzente, como uma provocação. Paty segurou as chaves da casa de Henrique,  um símbolo de confiança que agora parecia uma piada cruel, e abriu a porta da frente, o ranger da madeira ecoando mais alto do que ela queria.

Quando ela abriu a porta do quarto, o tempo parou. Henrique e Bruna estavam lá, congelados, os corpos entrelaçados sob lençóis amassados. Os olhos de Bruna, encontraram os de Paty primeiro, e Henrique se moveu, tentando cobrir o corpo.

_Paty, eu posso explicar… Falou tentado sair da cama.

 Paty não gritou. Não chorou. Não disse uma palavra. Seus olhos, apenas se fixaram nos dois por um segundo, gravando cada detalhe: o cabelo desgrenhado de Bruna, o lençol que escorregava do ombro de Henrique, a bagunça do quarto. Então, ela virou as costas e foi embora, o som dos próprios passos abafando as vozes que tentavam chamá-la

A lembrança se dissolveram, e Paty olhou para a mala ainda aberta sobre a cama. Seus olhos estavam marejados, mas as lágrimas não caíam. Ela aprendeu a não permitir que elas voltassem a cair por isso A  traição não foi o fim da história.

_ Porque mãe? Paty se perguntou pela milésima vez, a voz interna carregada de uma mágoa que o tempo não apagava.

Naquele dia Paty sumiu, chorou sozinha ate se sentir esgotada. Quando voltou para casa, confrontou a família. Sentada na sala de estar da casa dos pais, com o vestido de noiva jogado no lixo e o anel de noivado enviado para Henrique, ela esperava apoio, justiça, qualquer coisa que mostrasse que ainda tinha um lar. Mas Lucia, sua mãe, escolheu outro caminho.

_Filha, a Bruna errou, mas ela é sua irmã…  Lucia, com os olhos vermelhos pelo choro, tentava fazer com que ela perdoasse a irmã. _Ela estava confusa, perdida. O Henrique... ele a manipulou. Não podemos jogar tudo fora por causa de um erro.

Paty sentiu o chão sumir.

_Um erro? Ela dormiu com o meu noivo, mãe, sabia bem o que estava fazendo. Ainda por cima no quarto onde ele me pediu em casamento. E a senhora está dizendo que eu devo perdoar?

_A família é maior que isso. Insistiu Lucia, pegando a mão de Paty, que a afastou como se o toque queimasse. _A Bruna precisa de nós. Eu e o seu pai já a perdoamos, ela está arrasada e precisa do nosso apoio...

_E eu? Perguntou Paty, os olhos fixos nos da mãe. _Quem pensa em mim? A senhora sempre gostou mais dela, sempre protegeu ela, sem se importar comigo, e provavelmente já sabia que eles estavam me traindo, não sabia?

Lucia hesitou, e aquele silêncio foi a resposta que Paty nunca esqueceria.

_ Já entendi tudo...

_Paty, ninguém está escolhendo lados... Otávio, o pai, tentou mediar, claramente influenciado pela esposa, como se a ideia de escolher entre as filhas o estivesse matando. _Só queremos que isso não destrua o que temos.

Bruna, por sua vez, chorava no canto da sala, pedindo perdão entre soluços, mas Paty não conseguia olhar para ela, pois sabia que a irmã sempre demonstrou ter certa inveja dela, inveja que se transformou em traição.

E não o era só a traição, era a cumplicidade da família, a forma como todos pareciam dispostos a varrer a dor dela para debaixo do tapete em nome da união familiar.

Paty se levantou, saiu da sala sem dizer mais nada, e

uma semana depois, Paty fez as malas,  não para um fim de semana. Ela arrumou o que cabia no porta-malas do carro: roupas, alguns livros, uma caixa com fotos e anotações de eventos que planejara com o pai. O restante, as lembranças do noivado, a confiança na família, tudo ficou para trás. Dirigiu para São Paulo, cidade de que ela gostava, e desde então  nunca mais voltou, assim como nunca mais planejou outra festa particular ou casamento, só eventos corporativos.

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Comments

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Da união da família não, por que pela traição de ambos nunca ouve união, lealdade, a preocupação é que a Bruna é um peso morto e vc é a única que tem competência para tocar a empresa !

2025-04-12

8

Sirley Ley

Sirley Ley

depois dessa eu jamais voltaria pra ajudar já que nunca teve apoio

2025-04-12

6

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Seu erro foi não ter jogado o telefone fora tbm kkkkkkkkkk!!! Enter dito a frase da Carlota Joaquina, Desse lugar, eu não levo nem a poeirakkkkk

2025-04-12

6

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