O Último Casamento
A cidade de São Paulo amanheceu nublada naquele dia, e as nuvens cinzenta pareciam segurar o sol como refém.
O som do teclado do notebook preenchia o ambiente silencioso do apartamento moderno, limpo, e organizado até demais Cada objeto parecia estar exatamente onde deveria estar, como se sair do lugar fosse um erro.
Paty, ainda usava um robe sobre a camisola. Os cabelos estavam presos em um coque frouxo, enquanto ela tomava café olhando para a tela do notebook analisando planilhas e contratos de fornecedores para um evento corporativo de alto padrão que estava organizando, tudo isso antes de se arrumar para sair para o trabalho.
A tela celular, que estava lado do notebook, piscava com notificações que ela ignorava com a naturalidade. Clientes pedindo ajustes, convites para coquetéis de marcas de luxo, mensagens de colegas sugerindo drinks que ela nunca aceitava, pois seu único foco era trabalhar.
Há cinco anos, quando deixou para trás o Rio de Janeiro, sua cidade natal, ela não apenas recomeçou longe da família, como também fundou a P.A Eventos, com as economias que tinha guardado durante o tempo que trabalho na empresa da família. A P.A Eventos, uma empresa que, contra todas as probabilidades, se tornou referência na organização de eventos corporativos de alto padrão na capital paulista.
Tudo começou pequeno, organizando eventos corporativos para startups, trabalhando até de madrugada para entregar mais do que prometia. Aos poucos, o boca a boca fez sua mágica: uma conferência bem-sucedida levou a outra, e logo ela estava lidando com multinacionais, personalidades e orçamentos acima de seis dígitos. Cada contrato assinado era uma vitória, uma prova de que ela não precisava da família que não a acolheu no momento que ela mais precisava.
O celular vibrou novamente, dessa vez com mais insistência, e o nome que apareceu na tela fez Paty travar por um instante, era Lucia sua mãe. Por um instante, o ar pareceu mais pesado, e seus dedos, antes ágeis no teclado, hesitaram. Ela desviou o olhar tentando se concentrar no seu trabalho, mas a chamada persistiu.
Paty soltou um suspiro pesado, pegando o celular. O polegar pairando sobre a tela antes de atender.
_ Alô, mãe, bom dia.
_ Filha, você precisa voltar para casa... Do outro lado, a voz de Lucia veio frágil, quase engolida pela emoção suplicando para ela voltar.
_ Mãe, eu não vou voltar e a senhora sabe os motivos que tenho...
_Paty, a empresa... Ela está afundando em dividas.A Bruna esta tentando resolver, mas... ela precisa de ajuda. Estamos perdendo contratos. Alguns clientes já entraram na Justiça numa ação conjunta. O advogado deles é implacável, não dá trégua. E eu... eu não sei mais o que fazer.
Paty fechou os olhos. O nome da irmã acabava com o seu bom humor. E agora, a empresa, a mesma onde cresceu, onde sonhou com o próprio casamento, estava à beira da falência, e ela já estava ciente.
Paty se levantou, os pés descalços sentiam o calor do piso aquecido enquanto ela caminhava até a varanda.
A menção à Andrade Eventos, a empresa da família, trouxe uma enxurrada de memórias que ela havia trancado em um canto escuro da mente. Foi lá que Paty cresceu, aprendendo com o pai, Otávio, a arte de transformar sonhos em realidade, onde ela imaginou o próprio futuro, até Bruna, a irmã, acabar com tudo.
_ Vocês ainda têm a Bruna, não têm? Perguntou Paty com a voz carregada de sarcasmo e mágoa. _
Foi do lado dela que vocês ficaram quando ela me traiu da pior forma possível, e ainda pediram para que eu a perdoasse, que eu engolisse tudo, para e fingir que estava tudo bem...
_A Bruna... ela não dá conta. Ela não nasceu para resolver esse tipo de problemas.
_Eu não posso ajudar. Paty respondeu com frieza como se estivesse fechando uma porta _Vocês fizeram suas escolhas. Agora arquem com as consequências.
_Filha, não é só isso... Lucia fez uma pausa. _O seu pai, ele teve um princípio de infarto ontem. Está no hospital em observação. O Otávio não queria que eu te contasse, mas... eu não posso esconder isso. Imagina o que vai acontecer se ele tiver que voltar ao trabalho doente?
_ O que? Paty fechou os olhos, tentando conter o impacto da notícia.
_Ele perguntou de você... Seu pai ainda tem a esperança que vai abrir a porta da casa, e voltar para a nossa família.
Paty começou a se sentir angustiada. Ela quis dizer que não, gritar que aquela família, aquela vida, não era mais dela, que aquele problema não era seu, que tinha construído a própria vida longe dali por um bom motivo. Mas a culpa de uma forma silenciosa começou a invadir o peito, mesmo quando a razão gritava o contrário, e as palavras não vieram. Em vez disso, vieram flashes do passado: o pai ensinando-a a dobrar guardanapos em forma de cisne aos 12 anos, as noites em que ele a levava para ver o salão preparado antes de um evento, o jeito que ele sorriu feluz quando ela fechava seu primeiro contrato sozinha.
_ Só venha ver com os próprios olhos. Pediu a mãe com a voz embargada. _ Não por mim. Pela memória do que a empresa já foi. Por seu pai … não podemos perder tudo agora
_ Mãe… depois nós nos falamos… fique bem, e me ligue quando tiver noticias do papai… Paty encerrou a ligacao sem prometer nada.
Ela ficou ali, na varanda, o vento frio bagunçando uma mecha de cabelo que escapara do coque. Lá embaixo, os carros seguiam seu fluxo, indiferentes ao peso que ela carregava. Pela primeira vez naquele dia, o silêncio do apartamento parecia gritar mais alto que seus pensamentos.
_________________________________________________
Paty tentou trabalhar, mas a cabeça sempre voltava para a ligação da mãe, mesmo durante reuniões com fornecedores, ajustes no layout do evento, ou quando respondia emails com a eficiência de quem não deixa margem para erros. Paty tinha a imagem da uma profissional impecável: a postura ereta, o tom calmo mesmo diante de prazos impossíveis, o olhar que parecia antever qualquer problema.
Mas a noite ela desabou. Sozinha no quarto, deitada na cama com os olhos fixos no teto, a ligação da mãe voltou como uma correnteza, arrastando-a para lugares que ela havia jurado nunca mais visitar.
Paty pegou o celular, hesitando antes de abrir uma pasta de fotos que não via há muitos anos. Lá estava: ela e Bruna, rindo em um evento de gala, os vestidos reluzindo sob os flashes. O pai, Otávio, ao fundo, com aquele sorriso que parecia abraçar o mundo. A mãe, Lucia, ajustando o arranjo de flores com a mania de perfeição que Paty herdou. Era uma vida que não existia mais, ou talvez existisse, mas em pedaços, esperando que ela tivesse coragem de enfrentar. A traição de Bruna foi uma ruptura que abalou sua confiança na família e em si mesma.
Com o celular ainda nas mãos, Paty sabia que a ligação da mãe já havia mudado algo dentro dela. Voltar para casa, para a cidade natal, para a Andrade Eventos, para perto de Bruna, significava abrir feridas que ela havia jurado nunca mais tocar, e descobrir o quanto ainda restava da menina que acreditava em finais felizes.
Ela fechou os olhos, o som do trânsito do lado de fora se misturava ao ritmo deda suaespiração. Pela primeira vez em cinco anos, Paty não tinha um plano perfeito. E isso, mais do que qualquer coisa, a fazia sentir que o chão sob os seus pés estava prestes a ceder.
____________________________________________________
Patrícia Andrade, 28 anos, ou simplesmente Paty, como ela era carinhosamente chamada desde criança, carrega nos olhos a força de quem já enfrentou o pior, e sobreviveu. Independente, determinada e com uma postura firme que impõe respeito, ela aprendeu a se proteger atrás de uma armadura emocional construída com dor, especialmente após a traição que mudou sua vida. Por isso, ela não se permitia demonstrar fraqueza com facilidade, mas quem a conhece de verdade sabe que por trás da força existe um coração sensível, grande, amoroso, que apenas foi forçado a endurecer.
Filha de Lucia e Otavio, um empresário do ramo de eventos, herdou do pai o talento nato para organização, bom gosto e senso de liderança. Meticulosa, criativa e perfeccionista, consegue transforma qualquer ideia em um grande evento, além da facilidade em lidar com crises e manter a calma sob pressão.
Mesmo sem esforço, sua personalidade forte e beleza chamam a atenção por onde quer que ela passe. Os cabelos longos e escuros, olhos marcantes e expressivos, transmitem tanto charme quanto intensidade. Ela é o tipo de mulher que não precisa levantar a voz para ser ouvida, e quando fala, ninguém ignora.
_ Eu vou voltar! Disse se levantando para fazer as malas.
Não por vontade. Mas por um dever que a vida insiste em lhe cobrar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 35
Comments
Paty Helena
Como assim a Demet de novo Drica? Aaaah queria outra Paty kkkk vou na minha imaginação 😂😂
2025-04-12
3
Paty Helena
Cheguei pra acompanhar a melhor autora ❤️
Que a Paty seja forte e decidida e supere tudo ✌️
2025-04-12
5
Charlotte Peson
Isso coloca um croped e reage!!
2025-04-12
6