A respiração era ofegante.
Luiz abriu os olhos de repente, o coração disparado. Estava deitado na cama ao lado de Andressa, que dormia profundamente. O quarto estava silencioso, exceto pelo som fraco da chuva contra a janela. Passou a mão no rosto suado e sentou-se, tentando entender por que se sentia… mexido.
O sonho ainda estava vívido na mente. Quente, íntimo. Quase real.
Ele estava num lugar que não conseguia identificar — uma sala com luz suave, janelas abertas, cortinas balançando com a brisa. E ele não estava sozinho.
Um homem.
Não conseguia ver seu rosto nitidamente, mas sentia tudo. O calor da pele, a textura do toque, a urgência do beijo. E, principalmente, o olhar. Aquele olhar cheio de paixão contida, dor e saudade.
Luiz, no sonho, dizia seu nome. Ele sentia isso no peito. Um nome sussurrado, quase um clamor.
“Braian...”
Esse nome o seguiu ao despertar.
— “Braian?” — repetiu em voz baixa, franzindo a testa.
Levantou-se e foi até a cozinha, servindo-se de água. Seu reflexo no vidro da janela parecia perturbado, como se tivesse vivido algo proibido. Passou a mão pelos cabelos, tentando entender o que aquilo queria dizer. O gosto na boca era estranho, quase doce, quase amargo. O toque ainda permanecia em sua pele como se tivesse sido real.
Era só um sonho. Só isso…
Mas por que parecia tão real? Por que seu corpo ainda sentia aquele toque? E por que a culpa queimava sua nuca, como se tivesse traído alguém — ou algo — muito maior do que podia entender?
Luiz olhou para a sala às escuras, depois para o corredor que levava até o quarto. Andressa estava lá, dormindo com a paz de quem não carregava fantasmas.
E ele? Ele carregava algo que nem sabia nomear.
Mais tarde, na sede da operação conjunta
Luiz estava de terno impecável, como sempre. Entrou na sala de conferências e avistou Braian conversando com um dos agentes estrangeiros recém-chegados. O homem — alto, cabelos loiros e sotaque forte — parecia claramente encantado com o jeito de Braian.
Eles riam,riam juntos.
Algo dentro de Luiz... apertou.
Ele não compreendia,por que aquela cena o incomodava tanto?
Braian estava relaxado, com um copo de café na mão, gesticulando enquanto contava algo engraçado. Luiz ficou observando por tempo demais. Seus olhos focaram no jeito que o outro homem tocava o braço de Braian durante a conversa. Um toque casual. Íntimo demais pro gosto dele.
Sem perceber, Luiz franziu o cenho, apertou o punho e cruzou os braços.
— “Você está bem?” — perguntou um dos agentes brasileiros ao seu lado.
Luiz piscou, desfazendo a expressão.
— “Sim. Só… esperando a reunião começar.”
Mentira. Ele estava tentando entender por que diabos se sentia incomodado com o riso de um homem que deveria ser apenas um colega.
Ele desviou o olhar, mas seus olhos insistiam em voltar.
E então Braian olhou em sua direção. E sorriu, de leve. Aquele sorriso familiar, gentil... como o que ele viu no sonho.
Luiz desviou o olhar imediatamente. O coração bateu forte, como se tivesse sido pego fazendo algo que não devia.
Algo estava começando a rachar dentro dele. Uma barreira, uma proteção… ou talvez, uma mentira que ele contava a si mesmo todos os dias.
O resto da reunião foi um borrão. Os dados, os mapas, os planos estratégicos — tudo parecia distante, abafado por aquela névoa de pensamentos e sensações que ele não conseguia nomear.
Quando Braian tomou a palavra para apresentar uma análise, Luiz tentou não olhar. Mas sua voz era como um imã. Calma, firme, com um toque de ironia nas pausas certas. O tipo de voz que se instala na mente da gente.
E Luiz sentia que já conhecia aquela voz, de outros momentos, de outros tempos.
Ou de outras vidas.
(pensamento de Luiz):
“Por que... você aparece nos meus sonhos, Braian? Por que o som do seu nome me arrepia? E por que, diabos, ver outro homem te tocar me deixa tão fora de mim?”
Estacionamento subterrâneo da sede da operação – fim do dia
O som dos passos ecoava pelo concreto frio. Luiz caminhava até seu carro com o maxilar travado, tentando afastar o incômodo que o acompanhava desde a maldita reunião. A imagem de Braian sorrindo para aquele agente ainda martelava na mente dele.
Ele destravou o carro, mas não entrou.
Ficou parado ali, apoiado contra a porta, encarando o vazio. O celular vibrou no bolso — mensagem de Andressa: “Já estamos indo para o jantar na casa da sua mãe. Não demore, amor.”
Ele ignorou por um instante.
Respirou fundo, fechou os olhos. E lá estava novamente: o toque. O beijo. O nome.
Braian.
— "Isso é loucura..." — sussurrou para si mesmo. — "Eu sou casado. Tenho uma filha. Não tem por que isso estar acontecendo. Não tem por que eu..." — interrompeu-se, apertando os olhos, como se pudesse expulsar o pensamento com força física.
Mas não adiantava.
Porque a verdade era que ele sentiu. Quando viu aquele outro homem se aproximar de Braian, conversar com ele, fazer graça, se inclinar mais do que o necessário...
Luiz sentiu ciúmes.
Não inveja,não estranhamento.
Ciúmes. Queimando, latejando.
— "Que droga está acontecendo comigo?" — murmurou.
Abriu a porta do carro com raiva, sentando-se ao volante. Ficou ali, com as mãos no volante e os olhos perdidos. Sua aliança brilhava discretamente à luz fraca da garagem.
Fechou os olhos mais uma vez, e foi invadido por flashes do sonho. O toque nos cabelos. O cheiro da pele. O sussurro quente perto do ouvido: "Eu senti sua falta..."
Ele levou a mão ao peito, como se pudesse conter a avalanche. Como se fosse possível fingir que aquilo era só imaginação.
Mas não era.
Era lembrança. Mesmo que ele não conseguisse entender por quê.
“Por que sinto que Braian é alguém que já me pertenceu?”
“E por que olhar para ele faz meu coração se contorcer… como se estivesse tentando lembrar o caminho de casa?”
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Atualizado até capítulo 37
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