— E você parece alguém que precisa de um pouco de perigo.
O celular dela tocou. O som cortou o momento como uma navalha. Ela recuou, o coração batendo como um alarme.
Atendeu sem nem olhar o número, só para escapar daquela tensão insuportável.
— Alô?
A voz do advogado veio do outro lado da linha, formal e rápida:
— Doutora Lia, encontrei um documento entre os papéis deixados por seu pai. Uma carta. Parece que era pra você. Precisa vir buscar pessoalmente.
Ela desligou com a cabeça girando. Oliver a observava em silêncio.
— Problemas? — ele perguntou.
— Talvez respostas.
Ela virou para sair, mas antes de cruzar a porta, se voltou para ele.
— E, Oliver... cuidado com o que deseja.
Ele sorriu, lento.
— Sempre tomo cuidado. Menos com mulheres perigosas.
E ela sabia: aquele era só o começo.
A carta estava dentro de um envelope amarelado, com o nome dela escrito à mão — a caligrafia firme do pai, que Lia reconheceria em qualquer lugar. O advogado não sabia o conteúdo. Apenas entregou com um olhar respeitoso e disse: “Ele pediu para que só você lesse.”
Lia segurou o envelope por horas. Deixou-o sobre a mesa da cozinha. Fez café. Tomou banho. Organizou lembranças. Mas não abriu.
Foi só quando a chuva começou a cair — grossa, pesada, barulhenta — que ela se sentou sozinha na varanda da casa e, com dedos trêmulos, rasgou o lacre.
“Lia,
Sei que talvez nunca me perdoe. E sei que mereço isso.
Mas antes de morrer, queria que soubesse que deixei algo pra você. Algo que nunca tive coragem de contar.
A moto... era só um símbolo. O verdadeiro presente está nas mãos de alguém em quem confiei até o fim.
Oliver sabe o que é. E quando você estiver pronta, ele vai te contar.”
Ela releu três vezes. O papel tremia em suas mãos. O peito apertava.
Ela odiava aquele homem por deixá-la com mais perguntas do que respostas.
E odiava ainda mais a si mesma por querer correr até Oliver.
E foi exatamente o que fez.
A chuva engrossava enquanto ela dirigia até a oficina. Já era noite. As luzes estavam acesas. Ele estava sozinho lá dentro, sentado em um banco, desmontando uma carenagem de moto.
— Oi — ela disse ao entrar, a voz mais baixa do que queria.
Ele ergueu os olhos e viu seu estado: encharcada, com os cabelos colados ao rosto, a respiração irregular.
— Que diabos você tá fazendo aqui desse jeito? — ele levantou de imediato, pegando uma toalha. — Vem cá.
Lia deixou que ele a envolvesse na toalha, e por um segundo, esqueceu de manter o controle. Seus olhos encontraram os dele.
— Ele disse que você tem algo pra me contar.
Oliver ficou sério. Muito sério. Passou a mão pelo cabelo molhado e se afastou um passo.
— Eu sabia que essa carta ia te trazer até aqui.
— O que é, Oliver? O que ele deixou?
Ele hesitou. O conflito era visível nos olhos. Depois, falou baixo:
— É melhor você se sentar.
Ela o encarou. Desafiadora.
— Não. Quero a verdade. Agora.
O olhar dele mudou. Endureceu.
— Tá bom, Lia. Mas depois disso... não tem mais volta.
E antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, ele a puxou pela cintura, num movimento rápido, e colou os lábios nos dela.
Foi um beijo urgente, molhado, carregado de raiva e desejo.
Lia não reagiu de imediato. Por um segundo, o mundo parou. Só o som da chuva, o calor do corpo dele, a boca exigente na dela.
E então ela cedeu.
As mãos dele deslizaram por suas costas, puxando-a mais perto. O beijo se aprofundou, ganhando força, intensidade. Ela agarrou a camiseta dele, sentindo os músculos duros sob o tecido. O toque era firme, faminto, como se ele esperasse por aquilo há muito tempo.
Quando finalmente se separaram, ofegantes, ele sussurrou contra seus lábios:
— Ele te deixou pra mim, Lia. Não como posse... mas como responsabilidade. Prometi que cuidaria de você. Só não achei que ia querer fazer isso desse jeito.
Ela tremia. De frio, de emoção... ou de pura tensão.
— E agora?
Oliver passou o polegar pelo canto da boca dela, devagar.
— Agora você escolhe: quer saber a verdade... ou quer fugir de novo?
.......
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Atualizado até capítulo 42
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