O tempo não para na Amazônia. Ele dança, se transforma e, às vezes, sopra como vento sobre a pele quente dos homens.
Anaí casou-se na virada da seca para a primeira garoa.
O casamento foi simples, mas triste como uma árvore sem folhas.
Os rostos na vila sorriam para a festa, mas seus olhos sabiam da dor escondida sob a coroa de flores que Anaí usava. O noivo, Tiago, era um homem jovem, forte, filho de fazendeiro, mas trazia consigo o peso do nome da família — uma família acostumada a tomar o que queria da terra e das pessoas.
Anaí se sentiu como uma semente levada pelo vento, sem raiz, sem chão.
Os dias que se seguiram foram de adaptação forçada.
Na nova casa, grande e fria, ela aprendeu a calar ainda mais. Trabalhou nos pomares, costurou roupas, preparou comida para festas onde não era mais do que um enfeite.
O sorriso que antes era sol, agora era sombra.
Enquanto isso, Caetano não esquecera Anaí.
Trabalhando como peão em terras alheias, ele juntava forças e promessas.
Suas mãos, calejadas pelo machado e pela enxada, seguravam firme a esperança de que um dia voltaria.
E em noites silenciosas, quando a floresta sussurrava entre as folhas, ele fechava os olhos e via Anaí, com a fita vermelha dançando no vento.
O tempo, porém, mudava tudo — até o coração dos homens.
Caetano conheceu outros lugares. Conheceu a cidade grande, os barcos que cortavam o Amazonas como serpentes de fumaça. Conheceu gente nova, outras formas de viver e sonhar.
Mas Anaí era uma raiz que continuava agarrada à memória.
Numa noite de Lua cheia, Caetano escutou de um viajante uma história que fez seu sangue ferver: falavam de uma moça, casada contra a vontade, vivendo do outro lado do grande rio, no meio de terras compradas com promessas quebradas.
Ele soube na hora que era ela.
Decidiu então que voltaria.
Não sabia como, nem quando, mas prometeu para si mesmo que lutaria — contra homens, contra rios, contra o tempo — para reencontrar Anaí.
Porque sementes lançadas ao vento às vezes encontram solo fértil nos lugares mais improváveis.
Enquanto Caetano fazia planos de retorno, Anaí também tramava em silêncio.
Descobria pequenos segredos da mata, ensinados pelas mulheres antigas: folhas que curavam, raízes que davam força, preces que chamavam a proteção dos encantados.
Ela não seria mais levada como um galho seco.
Anaí começava, aos poucos, a se tornar árvore.
E a seca, mesmo depois de longa, sempre terminava.
A primeira chuva viria — e com ela, talvez, a promessa de um novo começo. Começos e fins marcam a nossa vida de formas silenciosas e profundas. Todo começo carrega uma promessa — um espaço em branco cheio de possibilidades, esperança, e até medo. Cada passo inicial exige coragem, porque começar é admitir que queremos algo que ainda não existe.
Por outro lado, os fins têm um sabor agridoce. Muitas vezes, trazem tristeza, nostalgia ou alívio. Um fim é sempre uma despedida, mas também uma abertura: ele nos obriga a soltar o que já não nos serve mais, para criar espaço para o novo.
Começos e fins não são opostos — eles dançam juntos. Todo fim é, inevitavelmente, o início de algo. Toda nova jornada é, em si, um adeus a um antigo conforto. Refletir sobre isso nos lembra que a vida é feita de ciclos: e que, em cada fim, há sempre uma semente de recomeço esperando por nós.
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Atualizado até capítulo 73
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