Capítulo 5 – A Caçada das Sombras
O santuário parecia mais silencioso quando Elara e Kael deixaram o interior da árvore viva. A névoa que envolvia a Floresta de Lys’mora estava mais densa, como se a própria magia quisesse escondê-los por mais tempo.
Mas o tempo havia acabado.
Kael puxava a capa sobre os ombros quando uma flecha cortou o ar e cravou na árvore onde ele estivera segundos antes.
— Encontraram a gente — ele murmurou, virando-se com os olhos em chamas.
Elara já puxava sua adaga. A esfera deixada por Nyssara brilhava em sua bolsa, como se estivesse despertando com o perigo.
As árvores se moveram, sombras surgindo entre os troncos. Não eram criaturas comuns. Usavam mantos de luz branca e máscaras de espelho. Os Caçadores da Luz.
— Entreguem a herdeira da profecia — gritou uma voz. — E o guerreiro será poupado.
Kael deu um passo à frente.
— Tentem me tirar dela. Vejamos o que acontece.
Elara ficou ao seu lado, os olhos ardendo com magia recém-desperta.
— Vocês têm três segundos para sair vivos.
O líder riu. Um som frio, sem vida.
— A escuridão a corrompeu. Que pena... ela era uma promessa.
— Eu ainda sou — Elara disse. — Mas não para vocês.
As primeiras flechas vieram, rápidas como relâmpagos. Kael girou a espada em um arco perfeito, cortando duas no ar. Elara estendeu a mão, e uma barreira de luz azul surgiu entre eles e os arqueiros, refletindo os projéteis com um estrondo mágico.
— Quando aprendeu isso? — Kael perguntou, surpreso.
— Quando me entreguei a você — ela respondeu. — E à magia.
Ele sorriu. Aquilo era perigoso. E excitante.
— Me lembra de te agradecer depois.
— Primeiro, sobrevivemos.
Os Caçadores avançaram com espadas de cristal e escudos que emitiam luz pulsante. Kael correu ao encontro deles, movendo-se como um raio entre as sombras. Seus golpes eram precisos, selvagens. Elara lutava com menos força, mas com mais magia. Cada gesto invocava raízes que prendiam inimigos, chamas negras que queimavam sem consumir.
Mas eram muitos.
Kael grunhiu ao ser atingido no ombro por uma lança de luz. Ele cambaleou, mas continuou a lutar.
Elara sentiu a fúria crescer dentro dela.
— Fiquem longe dele!
Uma onda de poder explodiu de seu corpo, lançando os Caçadores pelos ares. As árvores se curvaram, a terra tremeu. Os olhos de Elara brilharam em azul profundo, como se os próprios deuses olhassem através dela.
Silêncio.
Apenas corpos e respiração ofegante.
Kael se aproximou, sangrando, mas sorrindo.
— Você... é absurda.
Ela o segurou com força, examinando o ferimento.
— Vamos dar um jeito nisso. Aguente.
Ela pressionou a mão sobre a pele dele e murmurou as palavras que vinham instintivamente. A luz azul saiu dos seus dedos, costurando carne, selando dor.
— Você aprendeu a curar também?
— Estou descobrindo aos poucos. Parece que minha magia copia o que eu toco... inclusive você.
Ele a beijou rápido, apesar da dor.
— Então toque mais.
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Eles seguiram para as montanhas. O Santuário estava comprometido. Kael sabia que a única chance agora era chegar ao Templo da Fenda, o lugar onde os mundos de fato se encontravam — e onde talvez pudessem abrir o Coração do Mundo.
Mas a viagem era longa. E os inimigos, incansáveis.
— O que eles querem, exatamente? — Elara perguntou, enquanto se aqueciam ao redor de uma fogueira improvisada em uma caverna.
— Eles foram criados para manter o ciclo. Para matar qualquer um que ame entre luz e sombra. Porque o amor... quebra o controle.
Ela se encostou nele, apoiando a cabeça em seu ombro.
— Então nosso amor é uma arma?
Kael a olhou, sério.
— É a única coisa mais poderosa do que a guerra.
O silêncio caiu entre eles por um momento. A fogueira crepitava suavemente. Elara ergueu o rosto e beijou a mandíbula dele com carinho.
— Vamos vencer. Juntos.
— Sempre — ele prometeu.
Mas naquela mesma noite, Kael teve o primeiro pesadelo.
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Corria por um campo em chamas. Elara gritava seu nome à distância, cercada por sombras com olhos de luz. Ele corria, corria, mas nunca a alcançava. Quando finalmente tocava sua mão... ela desaparecia.
Acordou ofegante, suando frio. Elara dormia ao seu lado, tranquila.
Ele a observou por longos minutos, lutando com os próprios pensamentos. A profecia, as palavras de Nyssara... "um terá que morrer".
Mas não seria ela.
Se alguém tivesse que cair, seria ele.
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Ao amanhecer, retomaram a viagem. O caminho até o Templo da Fenda os levou por vilarejos abandonados e terras devastadas pela guerra antiga. Cada lugar contava uma história — de amor proibido, de sangue, de pactos quebrados.
— Isso tudo... foi causado por amor? — Elara perguntou, ao ver um mural em ruínas com duas figuras — uma de luz e outra de sombra — sendo despedaçadas por um raio dividido.
— Não por amor — Kael disse. — Pela tentativa de controlá-lo.
— Eles têm tanto medo do que sentimos?
Kael parou diante do mural e traçou os dedos sobre as rachaduras.
— Porque o que sentimos não obedece leis. Não pode ser profetizado. E por isso... é mais perigoso que qualquer exército.
Elara o abraçou por trás.
— Então vamos incendiar o mundo com isso.
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Na fronteira do templo, foram recebidos por uma criatura feita de fumaça e olhos dourados. Chamava-se Tharan, o Guardião da Fenda.
— Nenhum mortal pode entrar sem ser testado — ele disse, sua voz soando como trovão abafado.
Kael deu um passo à frente.
— Então teste a mim.
Mas Tharan olhou para Elara.
— Ela é a portadora. Ela será testada.
Elara ergueu o queixo.
— Que assim seja.
A criatura estendeu a mão e Elara sumiu diante dos olhos de Kael. Ele tentou avançar, mas foi detido por uma barreira invisível.
— Confie nela — disse Tharan. — Ou a perderá.
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Dentro da Fenda, Elara enfrentou a si mesma.
Uma sala sem fim, cheia de espelhos. Cada reflexo mostrava uma versão diferente: ela como vilã, como mártir, como rainha das sombras, como escrava da luz.
— Quem é você? — sussurravam as imagens.
— Quem você quer ser?
Elara andava entre elas, os olhos ardendo. Não queria respostas fáceis.
— Eu sou Elara. Sou filha da luz. Sou amante da sombra. Sou tudo e nada.
— E morreria por ele? — perguntaram as vozes em uníssono.
Ela parou. Fechou os olhos.
— Sim.
A sala explodiu em luz. Quando abriu os olhos novamente, estava diante do Coração do Mundo — um cristal pulsante, suspenso no vazio.
Ao tocá-lo, visões a invadiram: futuros possíveis. Alguns lindos. Outros... devastadores.
Em todos, Kael morria.
— Não — ela disse. — Vamos mudar isso.
A esfera de Nyssara surgiu em sua mão e se fundiu ao cristal. A cor dele mudou. Azul e vermelho dançaram como chamas.
Kael apareceu ao seu lado, puxado pela magia.
— Você... conseguiu.
— Ainda não. Isso foi só o começo.
O templo tremia. Alguém se aproximava. Não um inimigo... mas algo antigo.
Do portal de entrada, surgiu um homem coberto de runas, os olhos como vazios negros.
— Enfim... nos encontramos.
Kael empalideceu.
— Pai?
Elara congelou.
— O quê?
— Esse é o verdadeiro Senhor da Sombra — Kael disse. — E ele... é meu pai.
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Atualizado até capítulo 21
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