Capítulo 3 – Luz e Sombra
O silêncio da noite era cortado apenas pelo farfalhar das folhas sob os pés de Elara. A escuridão parecia mais densa do que de costume, como se o próprio mundo prendesse a respiração à espera do inevitável. Ao seu lado, Kael caminhava em silêncio, mas sua presença era tudo menos tranquila.
Desde o momento em que se afastara dela no Círculo dos Selados, algo entre eles havia mudado. Havia mais que tensão ali; havia um desejo contido, faminto, que crescia a cada olhar trocado, a cada silêncio carregado de significado.
— Para onde estamos indo? — ela perguntou, quebrando o som do vento.
— Para a fronteira. — A voz dele era baixa, grave. — Preciso te mostrar o que separa nossos mundos... o que a profecia exige de nós.
— E você acha que estou pronta?
Kael parou e virou-se para ela. Seus olhos prateados a fitaram com intensidade.
— Ninguém está pronto, Elara. Mas você é necessária. E isso... isso não espera ninguém.
Ela segurou o olhar dele por um instante. Queria desafiá-lo, mas parte dela já havia se rendido. A marca ainda queimava suavemente em sua clavícula, pulsando no mesmo ritmo do coração.
— Mostre-me, então — ela disse. — Mas não esconda nada de mim.
Um leve sorriso curvou os lábios de Kael.
— Nunca conseguiria.
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Horas depois, chegaram a um desfiladeiro escondido pela névoa. Do outro lado, uma muralha natural de pedras negras se erguia como garras contra o céu. Entre os dois mundos, uma ponte antiga feita de cipós encantados os separava — fina, trêmula, e claramente instável.
— Essa é a Fronteira? — Elara perguntou, espantada. — É isso que divide Lysvar das Terras Sombrias?
Kael assentiu, os olhos fixos na ponte.
— A ponte só se mantém de pé para quem tem sangue de ambos os lados. E agora... você também carrega isso.
Ela arregalou os olhos.
— Eu não...
— A marca fez isso. Ela nos conecta. Parte de mim... agora vive em você. E o contrário também é verdade.
Elara sentiu um arrepio na nuca. Era como se uma onda mágica passasse por sua pele.
— O que tem do outro lado?
— Verdades. Memórias. E perigos que fariam você questionar o que acredita ser bom ou mau.
— E você? Já cruzou?
Kael desviou o olhar.
— Só uma vez. E nunca voltei o mesmo.
Elara deu um passo à frente, mas ele segurou seu pulso.
— Não vá ainda. Quero que esteja preparada.
Ela olhou para ele, tão perto que podia sentir o calor do corpo dele.
— Então me prepare — sussurrou.
Kael a puxou suavemente para mais perto. Suas mãos repousaram em sua cintura com firmeza, mas sem pressa. O toque era respeitoso... e cheio de desejo contido.
— Você sabe o que está dizendo? — ele murmurou, o rosto a centímetros do dela.
— Sei que nunca senti isso com ninguém — ela respondeu. — E sei que isso aqui... seja o que for... é real.
Kael roçou a ponta dos dedos pela linha do maxilar dela.
— Você me desmonta com palavras, Elara.
Ela sorriu, os lábios quase tocando os dele.
— Então me reconstrua.
E, naquele instante, ele a beijou.
Não havia hesitação. O beijo era faminto, urgente, como se ambos tivessem esperado a vida inteira por aquele momento. Os dedos de Kael se entrelaçaram nos cabelos dela enquanto ela se apertava contra ele, sentindo cada batida do coração, cada centímetro de calor.
O mundo sumiu. Só existiam os dois — luz e sombra entrelaçadas, ardendo como chamas em meio à névoa.
Quando se separaram, ofegantes, os olhos de Kael estavam diferentes. Mais escuros. Mais intensos.
— Você é perigosa — ele disse, a voz rouca. — Vai me fazer quebrar todas as promessas que fiz a mim mesmo.
Elara deslizou os dedos pelo peito dele.
— Então quebre. Por mim.
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Atravessar a ponte foi como mergulhar em um sonho estranho. A névoa parecia sussurrar em línguas antigas, e a magia vibrava nos ossos de Elara. Do outro lado, o cenário era completamente diferente — o céu era mais escuro, mas as estrelas brilhavam como nunca. As árvores tinham folhas negras com veios dourados, e um lago cintilava ao longe, pulsando com energia.
— Bem-vinda às Terras Sombrias — Kael disse, observando cada reação dela.
Elara andou alguns passos e se abaixou para tocar o solo. A terra parecia viva. Pulsante. Quente.
— Isso aqui é lindo — ela murmurou. — Mas... há algo errado.
Kael assentiu.
— Esta terra foi amaldiçoada. Uma guerra antiga dividiu os reinos. E os que aqui vivem... pagam o preço até hoje.
Eles caminharam até uma pequena cabana escondida entre as árvores. Kael abriu a porta com cuidado, como se estivesse retornando a um lugar que doía.
— Aqui era onde eu morava antes de... tudo.
Elara entrou. A casa era simples, mas aconchegante. Havia peles sobre a cama, livros antigos sobre uma mesa, e uma lareira apagada. Ela se virou para ele, os olhos mais suaves agora.
— Kael... como foi crescer aqui?
Ele suspirou e sentou-se na borda da cama.
— Solitário. Sempre senti que algo me chamava além das montanhas. Algo que não pertencia a este mundo. E agora sei... era você.
Elara se aproximou e sentou ao lado dele.
— Eu também sentia isso. Como se algo estivesse faltando.
Kael olhou para ela, e o mundo parou de novo.
— Talvez... nós sejamos a peça perdida um do outro.
Ela o beijou novamente, com mais doçura dessa vez. Não havia pressa, só certeza. As mãos de Kael deslizaram para sua cintura, puxando-a com delicadeza para mais perto. Elara sentou-se em seu colo, e os dois se entrelaçaram como raízes antigas reencontrando o chão.
Os beijos ficaram mais profundos, as mãos mais ousadas, mas sempre com uma reverência estranha — como se tocassem algo sagrado.
Kael a deitou entre as peles, o corpo acima do dela, mas não avançou além do que ela permitia. Seus olhos ardiam com desejo, mas ele esperava. Honrava cada suspiro, cada sinal.
— Se quiser que eu pare... — ele sussurrou.
— Não quero — ela respondeu, puxando-o para mais perto.
O calor entre eles se tornou um fogo antigo. E quando, enfim, se entregaram um ao outro, foi como se o próprio destino sussurrasse em aprovação.
Luz e sombra, unidos.
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Horas depois, Elara repousava sobre o peito de Kael, ouvindo o ritmo do coração dele.
— O que acontece agora? — ela perguntou.
— Agora? Esperamos o mundo nos caçar — ele disse com um sorriso triste.
— Eles vão tentar nos separar?
— Eles sempre tentam. Mas desta vez... eu não vou permitir.
Ela ergueu o rosto e o beijou suavemente.
— Nem eu.
Do lado de fora, a floresta escurecia. Algo se aproximava. As sombras dançavam entre as árvores com mais pressa, e a marca em suas peles começou a pulsar em alerta.
Kael se levantou rapidamente, vestindo a armadura com movimentos hábeis.
— Temos que sair daqui. Eles nos encontraram.
— Quem? — Elara perguntou, já se vestindo.
— Os Caçadores da Luz. Eles acham que você deve morrer para que o equilíbrio se mantenha.
Ela empalideceu.
— E o que fazemos?
Kael segurou sua mão.
— Corremos. Lutamos. Sobrevivemos. Juntos.
E assim, entre beijos roubados e juras sussurradas, Elara e Kael fugiram pela escuridão, com as estrelas como guia e a profecia queimando viva entre seus corações.
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Atualizado até capítulo 21
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