Os Ecos da Magia Antiga

Capítulo 4 – Os Ecos da Magia Antiga

O som dos galhos quebrando sob os pés ecoava pela floresta escura como tambores de guerra. Kael corria à frente, puxando Elara pela mão, os olhos atentos a qualquer movimento entre as árvores. Atrás deles, os Caçadores da Luz já se aproximavam. Elara podia senti-los — não com os olhos, mas com a magia.

— Eles estão nos seguindo pela marca — ela gritou.

— Eu sei — Kael respondeu, apertando o passo. — Mas tem um lugar onde a marca é protegida. Onde nem a luz, nem as trevas conseguem rastrear.

Elara o seguiu sem questionar. Havia aprendido, em pouco tempo, que quando Kael prometia algo, era porque ele daria a vida para cumprir.

A floresta começou a mudar à medida que corriam. As árvores se tornavam mais altas, os troncos brancos como ossos, e o ar tinha um perfume estranho — algo entre flor de sangue e terra molhada. Era um lugar fora do tempo.

— Onde estamos?

— Na Floresta de Lys’mora. Onde os Antigos dormem. E onde as regras não se aplicam.

Elara sentiu um arrepio profundo, como se algo estivesse assistindo. Não apenas observando — julgando.

Kael finalmente parou diante de uma árvore gigante. Seu tronco tinha marcas que pareciam olhos fechados. Ele tocou a madeira com ambas as mãos e murmurou algo em uma língua que Elara não compreendia.

As marcas começaram a brilhar em vermelho escuro, e uma abertura surgiu no tronco, revelando um corredor de luz âmbar.

— Dentro. Rápido.

Eles entraram, e a árvore se fechou atrás deles com um som surdo.

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O interior era muito maior do que Elara esperava. Era como estar dentro de uma catedral feita de madeira viva. As paredes pulsavam levemente, como se respirassem, e o chão tinha raízes que brilhavam com símbolos antigos.

No centro, uma pequena fonte de água escura borbulhava em silêncio. Ao redor dela, pedras flutuavam no ar, girando lentamente.

— Onde estamos, exatamente? — ela perguntou, sem conseguir tirar os olhos da fonte.

— No Santuário dos Antigos. Um dos poucos lugares sagrados que restaram. Eles deixaram isso para nós... para quando tudo falhasse.

Elara se aproximou da fonte. O líquido escuro refletia não seu rosto, mas imagens — dela com Kael, da ponte, do beijo, do fogo. E também algo mais... sombras e luzes se chocando em uma guerra antiga.

— O que é isso?

— O futuro... se não fizermos algo.

Ela se virou para ele, assustada.

— E o que fazemos, Kael?

Ele se aproximou lentamente, e Elara notou que seus olhos estavam mais escuros do que nunca, como se a magia do lugar o afetasse.

— Precisamos despertar os ecos.

— O que são os ecos?

— As vozes da magia original. Elas podem nos guiar. Mas o preço é alto.

— Que preço?

Kael parou diante dela. A luz âmbar refletia em seu rosto, destacando os traços marcados pela dor e pelo desejo.

— Precisamos nos fundir com a magia. Corpo e alma. Não como guerreiros. Como um só ser.

Elara sentiu o corpo formigar. Havia desejo ali, sim. Mas também reverência. Era como se a própria floresta esperasse que dissessem “sim”.

Ela estendeu a mão e tocou o peito dele.

— Eu confio em você, Kael.

Ele pegou a mão dela e a levou até os próprios lábios, beijando-a com cuidado.

— Então venha. Entregue-se. À mim... à magia... a tudo.

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O ritual começou com os dois de pé, frente a frente, diante da fonte. A marca em seus corpos brilhou intensamente, ligando-os por uma linha de luz. Kael começou a entoar palavras na língua antiga, e Elara repetia conforme sentia.

A atmosfera mudou. O ar ficou mais denso, mais quente. A fonte começou a subir em forma de névoa, envolvendo os dois em um casulo de energia viva.

— Elara... — Kael murmurou, com a voz rouca. — Agora... deixa que eu te guie.

Ela assentiu.

As roupas foram tiradas devagar, como parte do ritual. Não havia vergonha ali — apenas verdade. Pele contra pele, magia contra magia, e uma conexão que transcendia o físico.

Quando Kael a tocou, era como se cada parte do corpo dela respondesse com luz. As mãos dele sabiam o caminho, sabiam como tocá-la com firmeza e delicadeza, conduzindo-a sem pressa.

Elara sentia como se não fosse mais apenas carne — era energia, era poder, era fogo contido. E quando se uniram, foi como se o mundo inteiro parasse de girar.

Os ecos vieram como sussurros no ar. Palavras antigas, nomes esquecidos, memórias que não eram suas — mas agora faziam parte deles.

Kael a segurou com força, os olhos fechados, os lábios trêmulos.

— Você... é tudo.

Ela envolveu o rosto dele entre as mãos.

— E você é meu lar, mesmo em meio às trevas.

Quando o ápice veio, não foi apenas físico. Foi uma explosão mágica. A marca brilhou em azul flamejante e percorreu os corpos dos dois com uma força antiga. A fonte emitiu uma luz branca intensa, e um som profundo, como um trovão de dentro da terra, sacudiu o santuário.

Eles caíram de joelhos, exaustos, entrelaçados, ofegantes.

E, então... as vozes começaram a falar.

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— Filhos da união impossível... — sussurrou uma voz feminina, suave como seda. — Vocês despertaram os ecos.

Elara ergueu os olhos. Flutuando sobre a fonte, uma figura translúcida, envolta em véus dourados, os observava com olhos que não eram olhos — eram estrelas.

— Quem é você? — ela perguntou.

— Fui conhecida como Nyssara. A primeira portadora da Marca. A origem da profecia.

Kael se levantou, respeitosamente.

— Você... você morreu na Primeira Era.

— Morremos... mas não partimos. Nos tornamos parte da magia. E agora... voltamos para guiá-los.

— Guiar para quê? — Elara quis saber. — Para salvar o mundo?

— Não. Para destruir o véu que o separa da verdade.

Nyssara estendeu a mão, e uma esfera de luz surgiu entre seus dedos.

— O equilíbrio nunca existiu. Luz e sombra foram criadas como instrumentos de controle. Mas vocês... vocês são a fusão. O renascimento. E também... a ruína.

Kael e Elara se entreolharam, o coração acelerado.

— Que precisamos fazer? — ele perguntou.

— Ir até o Coração do Mundo. Lá, o ciclo pode ser quebrado. Mas cada passo será provado com sangue.

— O que isso significa?

Nyssara sorriu, e havia tristeza naquele gesto.

— Significa que o amor de vocês será testado. Que um dia, para salvar o outro... um terá que morrer.

O silêncio caiu como uma sentença.

— Não — Elara disse. — Vamos mudar isso. Juntos.

Kael segurou a mão dela com força.

— Sim. Não importa o preço.

Nyssara se dissipou em luz, deixando para trás a esfera, que pousou suavemente nas mãos de Elara.

— Quando chegar o momento... ela mostrará o caminho.

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Eles passaram a noite ali, deitados entre as raízes vivas, ouvindo o sussurro da floresta. Os corpos ainda ardendo com o ritual, mas as mentes... cheias de perguntas.

— Se eu tivesse que morrer por você... — Kael começou.

— Nem pense nisso — Elara cortou.

— Mas e se for a única forma?

Ela se virou e o beijou com intensidade.

— Então encontraremos outra. Sempre há outro caminho.

Ele a olhou como se ela fosse feita de constelações.

— Eu morreria por você, Elara.

— Eu mataria por você, Kael.

E naquele santuário vivo, os dois selaram não apenas um pacto de amor, mas uma promessa de guerra.

Porque o mundo não estava pronto para o que eles estavam prestes a se tornar.

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