Capítulo 5

Ainda estávamos à mesa quando o silêncio foi rompido pela respiração pesada de Vittore. Ele me olhava como quem finalmente enxergava algo que sempre esteve ali, mas só agora fazia sentido.

— Alana… você tem ideia do que isso significa?

— Não exatamente — respondi, sincera.

Chiara sorriu com os olhos marejados.

— Significa que, ao te acolher como filha, o destino também nos deu você como ponte.

— Uma ponte para algo que nunca conseguimos alcançar — completou Vittore.

Ele se levantou com o guardanapo nas mãos e começou a caminhar de um lado para o outro, claramente tomado por uma mistura de esperança e incredulidade.

— Helena Moretti é admirada em toda a Itália… mas Lorenzo Moretti é um nome que carrega poder, respeito… e temor. Ele é o homem mais influente do país. Sua palavra vale mais que a de muitos juízes. Seu império é discreto, mas indiscutível. E você…

— …tem acesso direto a ele — concluiu Chiara com um brilho nos olhos.

— Então… eu posso convidá-los para a festa? — perguntei, ainda incerta com tudo aquilo.

— Deve, minha filha — disse Vittore, se aproximando e colocando as mãos sobre meus ombros. — E mais: faremos um convite especial, formal, à altura da família Moretti. Um convite com selo dourado, lacre em cera, personalizado. Eles precisam sentir que são honrados aqui.

Chiara já parecia montar a cena mentalmente.

— Farei questão de entregar nas mãos de um mensageiro confiável. Não será apenas um convite para a sua festa. Será uma homenagem à mulher que criou o orfanato que mudou sua vida. E um gesto de respeito à família dela.

Enquanto isso, no sofá da sala, Bianca ouvia tudo com o rosto sério e os braços cruzados.

Ela até tentou parecer distraída com o celular, mas cada palavra parecia atravessá-la.

"A ponte para os Moretti."

"Convite com selo dourado."

"Família honrada."

Ela mordeu o canto do lábio, tentando não demonstrar, mas dentro dela o ciúme queimava.

Agora Alana não era só a menina adotada.

Era a ligação com o nome mais poderoso da Itália.

Era a futura debutante.

E, pelo visto… a princesa da casa.

Bianca se levantou devagar, subiu para o quarto em silêncio e bateu a porta com mais força do que deveria.

Lá embaixo, eu ainda tentava processar tudo.

Chiara segurou minhas mãos com ternura.

— Alana… o que você está vivendo é apenas o começo. E nós vamos te acompanhar em cada passo. Como pais. Como família.

Olhei para eles, com um nó na garganta e o coração apertado.

Por tanto tempo, eu me acostumei a não ter importância.

Mas agora… parecia que o mundo inteiro estava mudando ao meu redor.

E, finalmente… eu fazia parte dele.

Narrado por Helena Morette.

Era uma manhã tranquila na Villa Moretti. Leandro brincava no jardim, Lorenzo lia o jornal na varanda e eu organizava minha agenda da semana quando o mensageiro chegou.

Trazia uma caixa aveludada, pequena e elegante. Sobre ela, um envelope com letras desenhadas à mão:

"À Senhora Helena Moretti."

Meus dedos hesitaram por um instante antes de abrir. Ao deslizar a tampa da caixa, me deparei com um convite primoroso: papel perolado, detalhes em dourado, lacre de cera vermelho com o brasão da família Romano.

Mas o que realmente me tocou foi o que veio junto:

Um envelope simples, com meu nome escrito por uma caligrafia ainda um pouco insegura… mas carregada de sentimento.

Abri. Era uma carta. Escrita por Alana.

"Querida Senhora Helena,

Se hoje tenho uma nova vida, um lar, e uma família, é porque um dia a senhora acreditou que meninas como eu mereciam mais do que sobrevivência — mereciam dignidade, cuidado e amor.

Mesmo de longe, a sua presença sempre foi uma luz no meu caminho.

Sempre me perguntei se um dia eu teria a chance de vê-la novamente — não como uma menina assustada do orfanato, mas como alguém que começou a florescer graças à raiz que você plantou.

Vou completar quinze anos no próximo mês. Nunca tive uma festa. Mas agora, graças à nova família que ganhei, terei a minha primeira celebração.

E seria uma honra indescritível ter a senhora, o senhor Lorenzo e o pequeno Leandro presentes nesse dia tão importante.

Com todo carinho e gratidão,

Alana Romano.(de coração)"

Fechei os olhos por um instante. A emoção foi imediata. Uma lágrima deslizou antes que eu pudesse conter.

— Essa menina mexeu com você, hein, Helena? — disse Lorenzo, aproximando-se com o jornal ainda nas mãos. — Você que deveria ter adotado ela.

Sorri, sem vergonha de deixar a emoção me dominar.

— Desde a primeira vez que a vi, Lorenzo, algo me dizia que Alana era diferente. Ela tem luz. Tem força. E um coração imenso.

— Então vamos ao aniversário dela — ele disse, com simplicidade. — Leandro vai adorar a ideia.

— Claro que vamos — respondi. — Ela nos deu o privilégio de fazer parte da nova história dela. E isso… é formidável.

No mesmo dia, pedi que minha secretária redigisse uma carta com papel especial. Mas fiz questão de escrever de próprio punho a última parte:

"Querida Alana,

Receber seu convite foi uma das maiores alegrias que poderia ter neste ano. Sua carta tocou profundamente o meu coração.

Me sinto honrada — e emocionada — por ser lembrada por você nesse momento tão especial.

Saiba que estarei presente, com Lorenzo e Leandro ao meu lado, para celebrar sua vida, sua força e a linda jovem que está se tornando.

Com carinho e profunda admiração,

Helena Moretti"

Fechei o envelope com um laço vermelho.

E pela primeira vez, senti que a história de Alana estava apenas começando — e que, de alguma forma, eu sempre faria parte dela.

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