Capítulo 3

Depois de sair do shopping com sacolas nas mãos e um novo brilho no olhar, seguimos o passeio pelas ruas antigas da cidade. Chiara e Vittore fizeram questão de me mostrar cada cantinho, como se estivessem revelando segredos de um lugar que agora também era meu.

— Esta é a Piazza della Signoria — explicou Vittore com orgulho. — Cada pedra aqui carrega séculos de história.

— E ali tem uma sorveteria que existe há mais de oitenta anos — completou Chiara, sorrindo para mim. — Você vai provar o melhor gelato da sua vida!

André caminhava ao meu lado, me explicando curiosidades sobre a cidade, traduzindo frases e me ensinando palavras novas com paciência e bom humor.

— "Passeggiata" significa passeio. Tipo o que estamos fazendo agora — disse ele.

— Passeggiata — repeti, meio envergonhada com o sotaque.

— Muito bem! Você já fala melhor que a Bianca no primeiro mês de aula de francês! — brincou ele.

Bianca, que vinha alguns passos atrás mexendo no celular, ergueu os olhos com desdém.

— Pelo menos eu aprendi francês em Paris, não com frases de aplicativo — disparou com um sorriso frio.

Chiara fingiu não ouvir, mas eu vi como ela apertou os lábios em silêncio.

— Alana, quer tirar uma foto ali com a fonte ao fundo? — sugeriu Chiara, animada.

— Claro! — respondi.

André se prontificou a tirar a foto. Ficamos eu, Chiara e Vittore juntos, todos sorrindo. Quando a foto foi tirada, Bianca se aproximou, irritada.

— Ué, não era um passeio em família? Acho que esqueceram da filha legítima.

— Bianca… — começou Vittore, com tom de repreensão.

— Tudo bem — disse ela, falsamente sorridente — eu mesma tiro a minha.

Ela posicionou o celular sozinha e fez uma selfie afastada do grupo.

André se aproximou e cochichou para mim:

— Ignore, ela faz isso desde os 12. Ciúme é o idioma preferido dela.

Sorri sem graça, mas por dentro me doía um pouco. Eu não queria tomar o lugar de ninguém — só queria encontrar o meu.

Seguimos até a sorveteria. O balcão tinha dezenas de sabores. André me incentivou a experimentar pistache, enquanto ele pegou chocolate amargo. Chiara optou por limão.

— E você, Bianca? — perguntou Vittore.

— Ah, obrigada, pai. Acho que a nova filha já escolheu meu sabor favorito.

Chiara respirou fundo, se aproximou de mim e disse com carinho:

— Alana, está tudo bem? Não se sinta desconfortável.

— Estou bem — menti, com um sorriso discreto. — Só estou... tentando me acostumar.

André voltou com dois gelatos, um deles para mim.

— Aqui, pistache. Pra sua primeira vez, vai ser inesquecível.

E realmente foi. Mas não apenas pelo sabor.

Foi pelo cuidado.

Pelo contraste entre a atenção silenciosa e o ciúme barulhento.

Pela certeza de que, mesmo sem querer, eu estava mexendo com as estruturas daquela família.

E talvez, pela primeira vez, isso não fosse culpa minha.

Bianca narrando.

A viagem de volta foi silenciosa. Meus pais conversavam entre si, André cochilava encostado na janela, e Alana… bem, ela olhava a paisagem com aquele ar de quem acha tudo bonito demais. Como se a vida tivesse finalmente sorrido para ela.

Quando chegamos à Villa Romano, Alana agradeceu educadamente e subiu com suas sacolas para o quarto. Claro que André foi logo atrás, provavelmente para ver qual roupa nova ela iria usar primeiro. Ele estava encantado. E isso só me irritava mais.

Antes que eu pudesse subir também, a voz de meu pai me cortou no meio da escada:

— Bianca, por favor, venha conosco ao escritório. Agora.

A entonação dele não era de pedido — era ordem.

Respirei fundo, desci lentamente e segui para o escritório. Meus pais já estavam sentados, e a porta foi fechada atrás de mim.

— O que foi agora? — perguntei, cruzando os braços.

Minha mãe me olhou nos olhos, sem sorrir.

— Precisamos conversar seriamente, Bianca. E queremos que você ouça com o coração aberto.

Revirei os olhos.

— Vai ser sobre a nova estrela da família? Alana isso, Alana aquilo...

— Sim — interrompeu Vittore com firmeza. — Sobre Alana. Mas principalmente, sobre você.

Fiquei em silêncio. Não esperava que ele levantasse o tom assim.

— Você tem sido fria, passivo-agressiva e desrespeitosa, Bianca — continuou ele. — E sinceramente… isso não é digno da educação que lhe demos.

— Eu não pedi por uma irmã adotiva! — explodi. — Nunca pedi! Vocês tomaram essa decisão sozinhos, e agora querem que eu abrace isso como se fosse um conto de fadas?

Chiara se aproximou, a voz embargada.

— Não é um conto de fadas, querida. É a vida de uma garota que passou por coisas que você jamais conseguiria imaginar. Alana não quer tomar o seu lugar. Ela só quer ter um lugar onde possa existir com dignidade, com afeto.

— E o nosso amor por você não diminuiu em nada, Bianca — completou Vittore. — Mas o seu comportamento tem ferido não só Alana… tem nos machucado também.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, engolindo a dor que vinha de outro lugar. Não era sobre Alana. Não completamente.

— Vocês acham que é fácil pra mim? Ela é bonita, educada, tímida do jeito que todos acham encantador. Até o André... — minha voz falhou. — Ele nunca teve paciência comigo como tem com ela.

Chiara respirou fundo e se aproximou, segurando minhas mãos.

— Isso é insegurança, minha filha. E insegurança se vence com amor, não com competição. Alana não é sua rival. Ela é sua irmã agora.

— Se você der uma chance, Bianca — disse Vittore — vai perceber que o coração é grande o suficiente pra caber todos que merecem estar nele. E Alana merece.

Eu não respondi. Mas também não resisti. Meus olhos se encheram. Não era fácil admitir.

Mas… talvez eles estivessem certos.

Mais seria difícil para mim, pois Alana me causava náuseas só de chegar perto de mim.

Mais populares

Comments

Suely Rodrigues

Suely Rodrigues

essa Bianca é muito imatura para a idade dela, mimada e fresca

2025-05-07

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!