Capítulo 2

No segundo dia na Itália, acordei com o som de risadas vindo da cozinha. O cheiro de café fresco e pão com manteiga invadia o corredor. Vesti o casaco e desci as escadas devagar.

Quando virei o corredor, dei de cara com dois rostos que eu ainda não conhecia.

— Alana! — exclamou Chiara, com um sorriso acolhedor. — Estes são nossos filhos: André e Bianca.

André foi o primeiro a se levantar. Tinha um sorriso fácil, olhos cor de mel e uma postura que transmitia calma.

— Seja bem vinda irmãzinha! — Disse André.

Sorri, sentindo um calor bom no peito.

— Obrigada… é muito bom conhecer você.

Ele se aproximou e me deu um abraço rápido, sincero. E então se afastou para dar espaço a Bianca.

Ela permaneceu sentada, mexendo distraidamente na xícara de chá. Seus cabelos loiros estavam presos num coque impecável, a maquiagem era sutil, mas presente. Seu olhar pousou em mim como quem analisa uma peça nova numa vitrine.

— Prazer — disse ela, com um sorriso forçado. — Espero que esteja gostando da casa.

— Estou sim, é tudo muito… bonito — respondi, tentando manter o tom calma.

Bianca assentiu, levantou-se com elegância, deu dois passos até mim e me cumprimentou com um beijo no rosto rápido, mecânico.

— Meus pais falaram muito sobre você — disse ela, olhando rapidamente para Chiara. — E sobre a sua… história.

— Bianca — disse Vittore com delicadeza, mas firmeza — isso não é necessário agora.

— Claro, papai.Só estou sendo gentil — respondeu ela, mas sua voz soou afiada, quase fria.

André soltou uma risadinha desconfortável e tentou aliviar o clima:

— Alana, se precisar de ajuda com o italiano ou com os lugares da cidade, pode contar comigo. Sou seu guia oficial agora.

— Obrigada, André. Vai ser bom ter alguém pra me ajudar.

Chiara segurou minha mão e me olhou nos olhos.

— A adaptação leva tempo, Alana. Cada um vai encontrar seu ritmo… inclusive Bianca, tenho certeza de que vocês duas serão ótimas amigas.

Olhei para Bianca, que já voltava a sentar-se à mesa, agora com o celular em mãos, como se o assunto estivesse encerrado.

Era claro: nem todos estavam prontos para me aceitar ali.

Mas tudo bem. Eu conhecia bem o sabor da resistência. E também sabia que, muitas vezes, os laços mais fortes são os que nascem depois da dor.

E naquele momento, decidi:

eu não precisava que Bianca me amasse.

Apenas que me respeitasse.

E eu conquistaria isso com o tempo.

O fim de semana chegou, e Chiara me chamou para um passeio especial.

— Queremos te mostrar um pouco mais da nossa cidade, Alana. Um dia só nosso, em família. O que acha?

Sorri, um pouco tímida.

— Eu adoraria.

No entanto, quando subi para me arrumar, meu coração apertou. Abri minha mala e fiquei ali parada por longos minutos.

Tinha poucas roupas. Nada muito bonito. Nada que parecesse adequado para sair com uma família tão elegante quanto os Romanos.

Escolhi minha melhor blusa — uma camisa simples, branca, já um pouco gasta — e uma calça jeans escura. Prendi o cabelo com um elástico simples e desci.

Quando Chiara me viu parada na porta, com as mãos entrelaçadas e os olhos hesitantes, ela percebeu tudo.

Seu olhar percorreu meu corpo com delicadeza e logo seu sorriso se suavizou.

— Está linda, Alana. Mas antes de conhecermos os pontos turísticos, acho que temos uma paradinha pra fazer.

Bianca apareceu pouco depois, impecável como sempre: vestido bege justo, bolsa de grife, maquiagem discreta. Ela lançou um olhar rápido pra mim e logo virou os olhos.

— Vamos sair mesmo assim? — murmurou, mas Chiara ignorou o comentário.

Este é André Vinte anos.

Já no carro, André tentou quebrar o clima:

— Prepare-se para ver uma das cidades mais bonitas do mundo. E sim, isso inclui uma parada estratégica no shopping.

— Shopping? — perguntei, surpresa.

— Roupa nova, minha filha— disse Chiara. — Toda nova fase merece novos símbolos. E você merece se sentir confortável com quem você está se tornando.

Meus olhos se encheram. Pela primeira vez, alguém percebia meu constrangimento sem que eu precisasse explicar. Era acolhimento puro.

No shopping, Chiara me guiou com doçura entre as vitrines. Escolhemos vestidos leves, calças confortáveis, blusas com cores suaves, casacos elegantes. Ela me incentivava a experimentar, me elogiava com sinceridade e me fazia sentir… bonita.

— Você tem bom gosto — comentou André, rindo ao me ver com um blazer azul-claro. — Aposto que vai ditar moda na escola.

Bianca, do outro lado da loja, cruzou os braços, incomodada.

— Mamãe, essa blusa é da nova coleção. Eu pedi uma dessas mês passado e você disse que era cara.

Esta é Bianca, Vinte e dois anos.

Chiara respondeu com firmeza, mas sem perder a elegância:

— Porque você já tem dezessete blusas parecidas, querida. Alana não tem quase nenhuma.

Bianca bufou e saiu andando em direção aos sapatos. Vittore, por sua vez, apenas observava, mas era visível o orgulho silencioso em seu olhar. Ele se aproximou de mim e disse, com sua voz calma:

— Não é o valor da roupa que importa, Alana. É o valor da pessoa que a veste. E você vale muito.

Ao final do dia, saímos com várias sacolas e um novo brilho nos olhos. Bianca continuava distante, tentando chamar atenção com pequenos comentários, mas naquele dia… ela não era o centro.

E talvez isso a incomodasse mais do que gostaria de admitir.

Naquela noite, enquanto dobrava cuidadosamente minhas novas roupas, percebi que não era só o meu guarda-roupa que estava mudando.

Era minha vida inteira que estava ganhando novas cores.

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Comments

Luciana Zicarelli

Luciana Zicarelli

tem q ter muita coragem pra adotar um filho..... e sendo ele adolescente então, dez vezes mais
estou amando a história

2025-05-07

1

Zilma sena Santos

Zilma sena Santos

essa tal de Bianca,vai dar trabalho kkk

2025-05-08

1

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