Capítulo 4

Narrado por Alana

Era uma tarde comum, daquelas com o cheiro bom de café e bolo de laranja saindo do forno. Eu estava na sala de leitura, relendo algumas anotações do colégio, quando Chiara apareceu com um sorriso misterioso no rosto.

— Pode guardar seus cadernos por alguns minutos, filha.— disse, sentando-se ao meu lado no sofá. — Vittore e eu queremos conversar com você.

Levantei os olhos, um pouco apreensiva.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim — respondeu Vittore, que acabara de entrar. — Algo maravilhoso.

Ele se sentou na poltrona em frente a nós, cruzou as pernas e me olhou com aquele ar de pai orgulhoso.

— Chiara me contou que no mês que vem você completará quinze anos. E isso… não pode passar em branco.

— Nós decidimos — continuou Chiara — que vamos organizar sua festa de debutante. Como você merece. Um momento só seu.

Por um segundo, fiquei em silêncio. Meu coração disparou, as palavras demoraram a se formar.

— Uma... festa?

— Sim, Alana — disse Vittore. — Uma festa linda, com tudo o que você tem direito. Vestido, valsa, convidados. Uma celebração da sua nova fase… e da sua nova vida.

Senti meus olhos arderem. Nunca imaginei que um dia ouviria aquilo. Nunca tive festa de aniversário. Nem bolo. Nem uma vela pra soprar.

— Eu… — respirei fundo — eu não sei nem como agradecer.

— Só aceite — disse Chiara, me abraçando. — E prepare-se para viver um momento que será só seu.

Nesse instante, ouvimos passos no corredor.

Bianca entrou na sala devagar, fingindo que não estava ouvindo.

— Festa de debutante? — disse com um tom de voz enviesado. — Que coisa tradicional. Isso ainda existe?

— Existe sim — respondeu Vittore com firmeza. — E vai existir aqui. Alana merece esse momento.

Bianca cruzou os braços, se encostou no batente da porta e murmurou:

— Engraçado… eu não tive festa de quinze anos. Só uma viagem curta. Mas tudo bem, né? A queridinha merece.

— Bianca — repreendeu Chiara, já impaciente. Você fala dessa viagem como se tivesse sido tão insignificante, pois você mesma optou pela viagem, não se lembra disso?

— Não falei nada demais — respondeu ela, erguendo o queixo. — Só acho curioso.

— Você é muito ingrata Bianca, a viagem foi linda, muito prazerosa, você devia ser mais grata.

— Eu falei demais, desculpe. Aquela viagem realmente foi emocionante, e foi eu que escolhi, nunca gostei de festas. — Bianca

saiu sem dizer mais uma palavra.

Vittore suspirou, e Chiara olhou para mim com doçura.

— Não ligue para isso, Alana. Você não está tirando nada de ninguém. Está apenas recebendo o que lhe é justo.

Assenti, tentando não deixar a emoção escorrer em lágrimas. Mas dentro de mim, um universo novo começava a nascer.

Pela primeira vez na vida, eu seria celebrada.

Pela primeira vez, eu seria… a aniversariante.

Estávamos à mesa de jantar, conversando sobre os preparativos da festa. Chiara falava sobre flores, Vittore comentava sobre os convidados e André já se animava com a playlist.

Foi quando respirei fundo e criei coragem.

— Papai, mamãe, posso fazer um pedido?

Chiara parou de mexer na taça de vinho e sorriu.

— Claro, querida. O que quiser.

— Eu… queria convidar alguém muito especial para a festa.

Vittore arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Alguém do colégio?

— Não… é uma mulher que me ajudou muito. Alguém que me inspirou a seguir em frente. Se hoje eu estou aqui, é por causa dela.

Chiara sorriu, emocionada.

— E quem é essa pessoa?

— Helena Moretti.

O garfo de Vittore caiu sobre o prato com um ruído seco.

— Como?— Ele piscou, visivelmente surpreso. — Você disse… Helena Moretti?

Assenti devagar.

— Sim. Ela é responsável pelo orfanato em que vivi. Não estava no Brasil quando fui adotada, mas me deixou uma carta e um apoio que eu nunca esqueci. Mantemos contato por mensagens. Eu… gostaria muito que ela viesse.

Chiara olhou para o marido, que parecia paralisado.

— Vittore?

Ele esfregou o queixo com os dedos, depois se levantou, caminhando até a janela com o olhar distante.

— Helena… Moretti.

— O senhor a conhece? — perguntei, confusa.

Ele deu uma risada seca.

— Não exatamente. Mas todos na Itália conhecem os Moretti. Especialmente Lorenzo Moretti.

Chiara entendeu o impacto.

— Vittore tentou por anos se aproximar da família Moretti, Alana. Não por bajulação… mas porque...

— Porque minha empresa estava quase falindo — completou Vittore, voltando-se para mim. — Eu tenho uma pequena distribuidora de vinhos. Já fui um dos melhores fornecedores da região. Mas quando as grandes vinícolas começaram a dominar o mercado, precisei de apoio, parcerias… e bater à porta dos Moretti parecia uma última tentativa.

Chiara acrescentou:

— Ele chegou a enviar propostas para eventos da Villa Moretti, mas nunca foi respondido.

Vittore riu, meio irônico.

— E agora… você, minha filha adotiva, diz que conhece Helena Moretti pessoalmente? Que troca mensagens com ela?

— Sim…

O silêncio que se seguiu foi absoluto.

Vittore me encarava como se eu fosse um segredo revelado tarde demais. Chiara, emocionada, apertou minha mão sobre a mesa.

— Meu Deus… Alana… talvez o seu destino seja muito maior do que imaginamos.

E ali, pela primeira vez, percebi:

A minha presença naquela família não era apenas um recomeço.

Talvez… fosse o elo que mudaria tudo.

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Comments

Cristiane-10 oliveira

Cristiane-10 oliveira

será que eles só querem mesmo se parceiros de negócios do Lorenzo, ou tem mais coisa nesta história!!???🤔🤔🤔

2025-05-08

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