O professor Augusto sorriu, satisfeito ao ver o resultado da mistura.
— Perfeito, Kiraz. — Ele passou a mão carinhosamente na minha cabeça, com aquele jeito de avô orgulhoso. — Você tem mãos precisas e uma mente ainda mais afiada.
Sorri, meio sem graça, e fechei o caderno de anotações. Foi então que percebi Jayson Frittz me observando com aquele olhar curioso que ele sempre parece ter, mesmo quando não está dizendo nada.
— Você fica sempre aqui com ele, né? — ele perguntou, ajeitando o jaleco e se aproximando da bancada.
Ergui uma sobrancelha, surpresa com a pergunta.
— Como sabe?
— Fica no caminho do vestiário... dá pra ver vocês dois pela janela. Sempre conversando, misturando coisas. Quase como uma cena de filme antigo.
— Está me espionando, Frittz? — brinquei, cruzando os braços e tentando esconder o sorriso.
Ele levantou as mãos, rindo.
— Não é isso, juro. Só... reparo nas coisas.
— Hm... — murmurei, tentando não parecer interessada demais. — Bom, o laboratório é meio que meu segundo lar. O professor Augusto me deixa fazer experimentos depois das aulas, e a gente sempre acaba falando de química... e de música também.
— Músicas antigas, né? — Jayson provocou. — Tipo Backstreet Boys?
— Tipo clássicos — respondi com um sorriso defensivo. — Eles são atemporais, ok?
— Se você diz... — ele deu um passo para o lado, pegando o frasco com a mistura que havíamos feito. — Mas admito, é legal ver alguém gostar tanto de aprender assim. Não vejo isso todo dia por aqui.
— Acho que é mais fácil gostar quando você não sente que precisa provar nada pra ninguém — falei, sem pensar muito. E por um momento, ele ficou em silêncio.
O professor Augusto apenas observava com aquele olhar de quem entendia mais do que dizia. .
Axel se virou como uma tempestade, a expressão fechada e o andar firme. Olhou em volta, como se procurasse algo — ou alguém. Quando viu Jayson ao meu lado, sua testa franziu mais ainda.
— Jayson, vai treinar ou vai ficar jogando conversa fora?
A forma como ele disse aquilo me pegou de surpresa. Axel nunca havia sido tão... direto. Tão frio.
Jayson arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar breve a mim antes de responder com um sorriso debochado.
— Preciso ir. O capitão está chamando.
Ele usou a palavra capitão com uma ironia leve, mas afiada. Como se dissesse “relaxa, não sou seu soldado”.
— Até... — murmurei, sem saber bem para quem.
Jayson me lançou um último sorriso e acenou antes de desaparecer pela porta com a mesma calma com que havia chegado.
Axel nem olhou pra mim. Saiu logo em seguida, a expressão dura ainda estampada no rosto. Quando a porta se fechou, o silêncio pareceu pesar.
Fiquei ali, parada por um segundo, sentindo o ar voltar ao normal. Comecei a guardar os frascos e materiais com mais calma. O professor Augusto me observava do outro lado da bancada.
— Então... — ele começou, com um sorriso gentil nos lábios. — Decidiu se vai entrar na equipe de exatas?
— Com certeza! — respondi, sem hesitar.
O sorriso dele se alargou, e seus olhos brilharam de um jeito que me aqueceu por dentro.
Todos sabiam da história dele. De como havia perdido a filha e a neta em um acidente anos atrás. Desde então, vivia sozinho, mergulhado nos livros, nas fórmulas e nos experimentos. Mas era um dos professores mais brilhantes — e bondosos — que eu já conheci. E eu gostava de vê-lo sorrir. Mesmo que só de vez em quando.
— Preciso ir — falei, checando o horário no celular. — Mas volto antes do final do dia. Prometo.
— Claro, senhorita Maverick — ele respondeu com um leve aceno, e voltou a limpar os óculos, como sempre fazia quando estava pensativo.
Fechei minha mochila, me despedi e saí do laboratório com passos mais lentos do que gostaria. Não por falta de pressa... mas porque a próxima aula era educação física.
Sinceramente? A pior matéria existente.
Nossa aula de educação física era conjunta. Meninos e meninas, todos no mesmo espaço — supostamente para “integrar” as turmas e, claro, permitir que o time de futebol treinasse junto. A desculpa oficial era o espírito esportivo. A real? Era um desfile.
As líderes de torcida tomavam a arquibancada como se fosse uma passarela, e garotas de outras turmas apareciam do nada só pra “assistir ao treino”. Assistir, nesse caso, era o código para babar por idiotas com uniformes colados e ego inflado.
Idiotas que, por sinal, incluíam meu irmão Gaziel, meu primo Eliot, e... Axel.
Sim, até o Logan — que é meu primo favorito — tava ali. Ele era o único que se salvava. Juro. Porque sim, eu sou imparcial quando quero.
Sentei na arquibancada com meu livro debaixo do braço. Escolhi um cantinho mais afastado, como sempre. O sol estava tão bom, tão quente sobre minha pele, que fechei os olhos por um momento e deixei aquele calor me envolver como um cobertor invisível.
Quando abri os olhos, a primeira coisa que vi foi Jayson. Parado na quadra, segurando a bola, mas não olhando para o jogo. Ele estava olhando... pra mim.
Nossos olhos se encontraram por um segundo. E então, como se fosse coreografado, vi Axel ao lado dele. Também olhando na minha direção.
Que tipo de comédia romântica esquisita era essa?
— Bora jogar, né! — gritou Gaziel, batendo palmas e interrompendo a tensão com seu entusiasmo de sempre.
Axel se virou e disse algo no ouvido dele. Depois, fez o mesmo com Eliot. Por último, se aproximou de Logan e falou alguma coisa que o fez levantar uma sobrancelha e olhar brevemente pra mim.
Engoli em seco. Eles estavam falando de mim? Óbvio que estavam. Ninguém sussurra e olha desse jeito se for sobre, sei lá, física nuclear.
Revirei os olhos e voltei pro meu livro. Mas como toda paz é temporária...
— Nerdzinha... — a voz melosa e irritante me fez suspirar. — Como você pode ser gêmea do meu amor?
Clara. A namorada do Gaziel. Rainha do salto alto na quadra de areia e campeã em me irritar sem precisar de muito esforço.
Fechei o livro devagar e respirei fundo, ativando o modo manter o réu primário limpo. Eu prometi pra mim mesma que não iria bater em ninguém esse semestre.
Ela estava acompanhada de dois garotos que seguiam ela como poodles bem treinados. Um deles segurava algo nas mãos e, antes que eu pudesse pensar, ele soltou um rato — sim, um rato! — aos meus pés.
Houve um grito coletivo da arquibancada. Meninas se afastando, uma até derrubou sua garrafinha de água. Clara cruzou os braços e sorriu como se tivesse ganhado uma medalha de ouro.
Mas a vida nem sempre é generosa com garotas más.
Eu sorri. Agachei calmamente e peguei o bichinho entre as mãos com cuidado.
— Oi, pequeno. Tá assustado? — falei baixinho, fazendo carinho nas costas dele. O rato era branco, de olhos vermelhos. Claramente um animal de estimação, não um selvagem.
Levantei os olhos pra Clara, ainda sorrindo.
— Acho que vai precisar de mais do que isso pra me assustar.
Ela ficou em silêncio por um segundo. Um segundo inteiro. Isso já era uma vitória. As meninas em volta cochichavam e olhavam pra mim como se eu fosse algum tipo de bruxa domadora de ratos. E, sinceramente? Eu amei.
— Vai cuidar de rato agora? — ela tentou, mas a voz dela já não tinha a mesma força.
— Melhor do que cuidar de idiotas — respondi, com doçura.
O silêncio que se seguiu foi mágico.
Clara bufou e saiu rebolando mais do que o necessário. Seus poodles foram atrás. E eu? Voltei a me sentar, com o ratinho ainda no colo.
Lá embaixo, vi Jayson rindo. Logan coçou a nuca e me mandou um sinal de aprovação com o polegar. E Axel...
Bem, Axel estava olhando. De novo.
Mas agora, com uma expressão que eu não consegui decifrar.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Dulce Gama
nesses colégios de patricinha filha de papai sempre tem um querendo se aparecer idiota 🌟🌟🌟🌟🌟🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️
2025-04-26
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