capítulo 05

Saí do vestiário sentindo o coração disparado, a respiração pesada e a adrenalina correndo solta nas veias. A ousadia tinha gosto de liberdade na boca. Eu estava cansada de ser tratada como uma peça de cristal em exposição. Eu era fogo — e ninguém mais ia me apagar.

— Você não precisava ter feito aquilo — disse ele, a voz baixa, mas firme.

— Precisava sim. Por mim.

Dei mais um passo. Ele ficou sério, um pouco surpreso. Eu sabia que estava jogando gasolina em uma fogueira prestes a explodir. Mas algo dentro de mim — algo que tinha sido sufocado por dois anos — precisava fazer aquilo.

Olhei por sobre o ombro, e vi Axel. Ele estava parado na porta do vestiário, o olhar escuro cravado em mim. Os punhos fechados, os ombros tensos.

Voltei os olhos para Jayson. Ele piscou, confuso.

— Kiraz?

E antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, me aproximei, segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei.

O tempo congelou. Por um instante, só existia a nossa respiração, o calor inesperado do toque, e aquele momento que explodiu no centro do caos como um raio.

O beijo não foi longo, nem daqueles cinematográficos. Mas foi real. Foi corajoso. Foi uma mensagem.

Quando nos separamos, Jayson ainda estava sem palavras, olhos arregalados. Atrás de mim, o silêncio de Axel gritava mais alto que qualquer fala.

— Valeu, parceiro — sussurrei pra Jayson, dando um leve sorriso. — Você tem um gosto de liberdade, sabia?

E então virei as costas.

Deixei Axel ali. Sem desculpas. Sem explicações. Sem mais jogos.

Se ele queria guerra fria, ótimo. Eu acabava de lançar a primeira bomba.

**********Axel*******

O corredor parecia ter desabado sobre mim. Por um momento, não ouvi mais nada além do som abafado do próprio sangue pulsando nos meus ouvidos.

Ela o beijou.

Ela beijou o Jayson.

Não foi acidental, não foi impulso. Foi de propósito. Com intenção. Com aquele olhar firme que ela usava quando queria provar um ponto.

E eu entendi. Cada milímetro daquela mensagem.

Era pra mim.

Eu ainda estava parado na porta do vestiário, o ombro encostado no batente, os dedos trincando de tanta tensão. Eliot veio atrás de mim, ainda rindo de alguma piada qualquer, mas parou no meio do caminho quando viu meu rosto.

— Cara... você tá bem?

Não respondi.

Logan passou logo depois, olhou entre mim e o corredor vazio onde Kiraz havia sumido e soltou um suspiro.

— Você provocou isso, mano.

— Não foi nada — murmurei, mentindo pra ele, pra mim, pro mundo.

Mas todo o meu corpo gritava o contrário.

Jayson ainda estava parado ali, meio atordoado, tocando os próprios lábios como se tentasse entender o que tinha acontecido.

— Cê tá brincando, né? — disparei, andando até ele.

— Relaxa, Axel — respondeu ele, levantando as mãos em rendição. — Ela só quis te provocar.

— E funcionou — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, mas afiada.

Jayson me encarou. Pela primeira vez, sem aquele tom brincalhão. Ele não recuou, não sorriu. Só... sustentou o olhar.

— Talvez ela só quis ser vista. Por alguém. E não por um time inteiro que trata ela como uma ameaça invisível.